Pai, a linda missão de ser herói

Histórias mostram como é possível viver a paternidade de qualidade mesmo com a rotina corrida

Por Thaís Marcolino

Eduardo Faria e seu filho, Vinícius Gomes. Momentos juntos vão de conversas a refeições especiais

O que é ser pai? Não existe uma resposta única e certa para essa pergunta. Entretanto, em uma busca rápida pela internet, muitos definem a paternidade como sinônimo de presença, amizade, responsabilidade e figura que dá bom exemplo. No que tange à presença física, com a correria do dia dia e rotina de trabalho e estudo, o contato visual pode ser menor, mas isso não impede muitos pais de transformar os períodos possíveis em tempo de qualidade com seus filhos.

E para celebrar o Dia dos Pais, comemorado hoje (13), em todo País, mostrando bons exemplos, o jornal Cruzeiro do Sul conversou com quatro pais de Sorocaba e região que, apesar de terem uma rotina complexa, não deixam de criar memórias com os filhos, até porque, seja na estrada por semanas e meses, nos plantões do hospital, nos corredores de uma faculdade ou a caminho de um incêndio, o amor de um pai aparece até nas pequenas atitudes.

O aconchego de uma boa comida

Eduardo C. Faria é pai do Vinicius Gomes, de 13 anos. Ele é 1º tenente no Corpo de Bombeiros de Sorocaba. Para suprir a falta que a rotina na corporação às vezes exige, passar um tempo de qualidade e cozinhar para o garoto é algo que ele faz bastante. “Seja jogando videogame com ele, treinando corrida ou ouvindo seus acordes tímidos na guitarra, que começou a aprender neste ano. Às vezes, busco ou levo na escola, mas o agrado mesmo é quando faço seu prato preferido, ‘feijão gordo’ (prato típico da cozinha tropeira que leva feijão carioca e algumas carnes e embutidos, como linguiça calabresa)”, conta o também chefe de Relações Públicas da corporação.

Hoje as atribuições de Faria são um pouco diferentes do início da carreira. São cinco plantões de 24 horas por mês, além do serviço na administração, porém, em sua trajetória, o “prontidão” (escala de 24h x 48h, sem feriados e sem final de semana) já se fez presente. Nesses períodos, a apreensão era comum e pensar na família servia como um combustível para voltar para casa.

“Por vezes, na carreira, atuamos em ocorrências que perduram dias, dada a gravidade do caso. Portanto, abrimos mão da companhia dos nossos filhos, filhas, esposas, maridos ou outros familiares para ser o alento daqueles que depositam em nós sua última esperança”, analisa Faria.

Felizmente, não houve problemas para Vinicius compreender a profissão do pai. Pelo contrário, deve existir orgulho. “Ele sempre portou-se de forma equilibrada, entendendo que qualquer trabalho exige dedicação e tempo. Em datas comemorativas podemos trazer os familiares para conhecer o quartel e é muito legal”, Relata. Por fim, o 1º tenente afirma que ser pai mudou sua vida e que a função tem a ver com exemplo.

De quilômetro em quilômetro

Por mais de 30 anos, Carlos Ribeiro percorre longas e curtas distâncias pelas rodovias de todo o Brasil. Com tanta experiência ao volante, ficar longe de seus quatro filhos por tanto tempo não é tarefa fácil. Mas ele tenta conciliar da melhor forma, pois sabe que, apenas dessa maneira consegue dar uma vida melhor às “crianças”: Karla Camila, de 28 anos; Nara Nídia, de 26; Jean Vitor, de 22 e a caçula de 13 anos, Anna Laura.

“Na minha profissão tem que viajar pra ganhar e tem que conciliar, mas sim, tem essa parte de ficar fora e fazer falta. Eles estão crescendo e não estamos acompanhando tão de perto. Fui a poucos aniversários presencialmente, mas a tecnologia ajuda bastante, sempre estou conversando com eles, perguntando como estão. Mesmo longe, tento ficar perto. Esse ano, no Dia dos Pais estarei na estrada, mas eles sempre mandam mensagem pra mim, a gente conversa. É diferente e até um pouco triste”, contou o caminhoneiro de 54 anos.

Quando retorna para Sorocaba, Carlos fica até emocionado ao ver que os filhos cresceram. Algo de diferente sempre é notado. Porém, essa volta é a chance de criarem memórias e laços se firmarem mais ainda. “Quando estou em casa, procuro levar, principalmente a menor, para brincar, andar de bicicleta. É uma forma de recompensar a ausência diária, né? O Jean já viajou comigo de caminhão, ensinei ele a dirigir. Tem até um trecho de uma estrada, no Paraná, que toda vez que passo me lembro dele. Estão sempre em meu coração”, disse Carlos.

A vida dentro de um caminhão não é fácil, é preciso abdicar de muitas coisas, passar por situações pouco agradáveis, mas nada disso importa quando se tem alguém esperando e tendo você como exemplo. “Não consigo imaginar minha vida sem eles, realmente mudou minha vida. Passei por dificuldade, mas se pudesse fazer tudo de novo eu faria”, analisa. “Mas nada seria se não fosse o apoio da minha esposa em casa, devo muito a ela por segurar as pontas em casa enquanto estou na estrada”, complementa Carlos referindo-se à companheira, Ivanete.

De livro aberto para o futuro

As dificuldades em criar um filho são muitas, sobretudo para quem se torna pai jovem. Aos 23 anos, Rafael Miralha, descobriu o que era amor incondicional. Hoje, com 34 anos, ele é pai das pequenas Lauren Rafaelly e Lavínia de Barros Miralha, de 11 e 3 anos, respectivamente. Morando em Votorantim e trabalhando em Itu como gerente de serviços, ele viu, há um ano e meio a oportunidade de graduar-se em gestão comercial e oferecer, a curto e longo prazo, uma vida material melhor à família.

Porém, sua rotina, desde que começou a faculdade, tem ficado cada vez mais atribulada. Ele acorda às 5h30, toma café com a filha mais velha, aproveita e a leva na escola, segue para Itu, onde termina o expediente de trabalho às 18h30 e vai para a faculdade, retornando para a casa todos os dias por volta das 23h. Com esses horários, sobra pouco tempo para conviver com as meninas durante a semana.

Como forma de compensar a ausência e criar memórias afetivas nas meninas, aos sábados, procura fazer passeios com toda a família, além de levá-las para o trabalho, para conhecer o espaço. “Elas adoram e quando as chamo pra ir na Fazenda do Chocolate, no pesqueiro, aos parques, por exemplo, é uma felicidade só. Tento aproveitar ao máximo com elas esse período. Mas nada seria se, também, não tivesse o apoio da minha esposa, Eliana”, contou.

Antes de iniciar o curso superior o tempo presente nas vidas da Lauren e da Lavínia era maior, com certeza, mas ele não se arrepende da escolha. “Quero fazer MBA também. É um sacrifício hoje que pode ser colhido amanhã, ainda mais quando a gente acaba sendo exemplo para aqueles que amamos. A Lauren mesmo vê e já fala que quer fazer faculdade também”, complementou o pai.

Dos plantões aos planetas

Pelos últimos 20 anos o técnico de enfermagem, Alessandro de Jesus Proença, sabe bem como é ficar as datas comemorativas e de reunião familiar longe dela. Afinal, o hospital não pode parar, há vidas a serem cuidadas a todo momento. Mas, para não deixar as celebrações passarem por completo, a comemoração acontece antes ou depois da data oficial.

“Às vezes, conseguimos conciliar as folgas com essas datas. Tenho uma família que me compreende e me apoia, isso é ótimo”, explica. O entendimento também acontece com seu filho de 14 anos, Matheus de Araújo Proença. “Quando meu filho nasceu, eu já atuava na área da saúde com esquema de plantão, então ele já se acostumou com os meus horários diferenciados das outras pessoas, fora que a tecnologia ajuda a me conectar mesmo estando longe”, complementou.

Mas, ciente da falta que os plantões poderiam causar, passar o tempo de qualidade com o filho era essencial, tanto que, umas das memórias que não sai de sua cabeça é quando chegava do trabalho e partia para aventura com o filhão. “Sempre procurei criar memórias afetivas entre nós, mesmo com a correria do trabalho. Como um simples desenhar como uma viagem em família. Uma das memórias que me vem à mente é de quando brincava de viajar pelos planetas em uma nave espacial. Éramos desbravadores dos planetas. Era uma aventura.”, contou.

Ser pai

Lembra a pergunta feita no início da matéria? Nossos papais responderam o que, na visão de cada um, é ser pai.
Para Faria, o 1º tenente do Corpo de Bombeiros, a função tem a ver com exemplo, o ensinar sem falar. É uma maneira de entregar ao mundo alguém melhor do que você, contribuindo para que o mundo se torne um lugar melhor através do amor e da educação. Pensamento parecido com o do Alessandro Proença, que complementou que ser pai é passar para o filho o respeito entre as pessoas, as diferenças entre cada um e ser sempre educado e amável com todos.

A paternidade, para Rafael, além de mudar a cabeça, é algo que não consegue imaginar estar sem e que, acima de tudo, é um aprendizado por dia. Por fim, Carlos acredita que, não é só falar, ser pai é mostrar em suas atitudes o verdadeiro exemplo de como ser um cidadão correto. (Thaís Marcolino)

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