Vacina contra dengue não tem prazo para chegar à rede pública de Sorocaba

Por enquanto, quem quiser ser imunizado precisa desembolsar, em média, R$ 800 por duas doses

Por Ana Claudia Martins

Ainda não está definida a vacinação contra dengue nesta ação

 

Apesar do Ministério da Saúde ter anunciado, há mais de duas semanas -- em 21 de dezembro --, que incluiu uma vacina contra a dengue no Sistema Único de Saúde (SUS), ainda não há previsão para o início da imunização por meio da rede pública de saúde. Questionada a respeito, a pasta federal informa que o imunizante denominado Qdenga não será utilizado em larga escala em um primeiro momento, já que o laboratório japonês Takeda -- desenvolvedor e fabricante do antivírus -- tem capacidade restrita de fornecimento de doses. Por isso, a vacinação será focada nas regiões prioritárias, aquelas onde há maior incidência da doença, como Espírito Santo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Goiás.

A Prefeitura de Sorocaba ainda não tem ações previstas neste sentido, já que depende da Secretaria Estadual da Saúde (SES) para ter acesso ao imunizante. Esta, por sua vez, informa que aguarda o Ministério da Saúde editar documento técnico com as instruções necessárias, assim como para a definição da agenda de envio das doses.

Enquanto os governos federal e estaduais esperam um pelo outro, alguns municípios partem para a ação. É o caso de Dourados, no Mato Grosso do Sul, que iniciou uma campanha gratuita de vacinação em massa contra a dengue na quarta-feira (3). A Secretaria da Saúde local fechou uma parceria diretamente com o laboratório Takeda para o fornecimento de 300 mil doses da Qdenga, suficientes para a imunização completa -- duas doses -- de 150 mil pessoas da faixa etária de 4 a 59 anos. De acordo com a administração douradense, o laboratório já entregou cerca de 90 mil doses, que foram distribuídas para todas as unidades básicas de saúde (UBS) da cidade.

Só particular

Em Sorocaba, como na maior parte do Pais, por enquanto, apenas clínicas particulares disponibilizam o antivírus contra a dengue. A dose custa, em média, cerca de R$ 400,00. Como o tratamento exige duas aplicações, cada pessoa precisa desembolsar R$ 800,00 para garantir proteção contra a doença.

A cidade terminou 2023 com aumento de quase 320% nos casos de dengue em relação ao ano anterior. Segundo dados da Prefeitura de Sorocaba, foram 4.618 confirmações no ano passado ante 1.101 em 2022. As mortes pela doença tiveram alta de 200% no mesmo período, passando de uma para três.

Na tarde de quinta-feira (4), a reportagem entrou em contato com quatro clínicas sorocabanas. Em três o imunizante estava disponível, mediante pagamento. Em uma delas, a dose era aplicada por R$ 380,00, para pagamento à vista -- Pix, dinheiro ou transferência. A prazo, no cartão de crédito, com possibilidade de parcelamento, o custo era de R$ 399,00. Em outra clínica, cada dose era vendida por R$ 430,00; na terceira, o custo era de R$ 421,00.

5 milhões de doses

Sobre a disponibilização da vacinação contra a dengue na rede pública, o Ministério da Saúde informa que a definição do público-alvo e das regiões prioritárias deverão ocorrer ainda durante o mês de janeiro. A previsão do próprio governo federal é que sejam entregues cerca de 5 milhões de doses entre fevereiro e novembro deste ano.

“O momento é de intensificar os esforços e as medidas de prevenção, por parte de todos, para reduzir a transmissão da doença. A principal medida é a eliminação dos criadouros do mosquito -- 75% deles localizados dentro e no entorno dos domicílios. Daí a importância de receber os agentes de combate a endemias e de agentes comunitários de saúde, que vão ajudar a encontrar e eliminar possíveis criadouros”, destacou a pasta federal, em resposta aos questionamentos do Cruzeiro do Sul.

O ministério informa ainda que está em alerta e mantém o monitoramento constante do cenário da dengue no Brasil. “Para apoiar Estados e municípios nas ações de controle da dengue, a pasta vai repassar R$ 256 milhões para reforçar o enfrentamento à doença”, destaca a pasta.

Dados do próprio Ministério da Saúde dão conta de que, em 2023, o Brasil bateu recorde de mortes por dengue. Segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan online), foram registradas 1.079 mortes pela doença entre 1º de janeiro e 27 de dezembro. Em 2022, o número de óbitos totalizou 1.053.

São Paulo em alerta

Embora não apareça no ranking dos Estado com maior incidência de dengue, a situação em São Paulo é preocupante. Segundo o governo estadual, o monitoramento de doenças causadas pelo Aedes aegypti realizado semanalmente pela Secretaria da Saúde (SES) aponta que há casos confirmados de dengue em 626 municípios, o equivalente a 97% do Estado.

O Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado emitiu, em 26 de dezembro, um comunicado aos municípios alertando sobre os riscos de epidemias de arboviroses nos primeiros meses de 2024. Entre outras razões, contribuem para este cenário o aumento das chuvas e as elevadas temperaturas. Os dois fatores influenciam diretamente na proliferação de criadouros do mosquito.

Comparado com 2022, o ano passado registrou quedas de infecções e óbitos pela dengue em todo o território paulista. Em 2023, 320,5 mil casos foram confirmados contra 331,5 mil em 2022. Já os óbitos, caíram de 292 para 287 no mesmo período comparativo.

A pasta estadual destaca que realiza, permanentemente, ações de combate ao mosquito transmissor da dengue, dando apoio aos municípios, que são os responsáveis pelo trabalho de campo para a prevenção à doença. A dengue é uma enfermidade sazonal em que podem ocorrer ciclos epidêmicos e interdepidêmicos de um ano para outro.

“As condições climáticas dos meses que antecedem o verão e do próprio verão são favoráveis ao desenvolvimento do Aedes aegypti e, consequentemente, ao aumento do número de casos de arboviroses urbanas no Estado de São Paulo. Enfrentar o mosquito é uma tarefa contínua e coletiva que envolve toda a sociedade”, explica a assessora em saúde pública do CVE, Nathalia Cristina Soares Franceschi.

Aprovada e registrada

De acordo com o Ministério da Saúde, a incorporação da vacina Qdenga foi analisada e aprovada pela Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no SUS (Conitec). O imunizante é do tipo vírus enfraquecido e tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com indicação para prevenção de dengue causada por qualquer sorotipo do vírus para pessoas de 4 a 60 anos de idade, independentemente de exposição prévia.

O ciclo completo de imunização com a Qdenga é atingido com duas doses, em intervalo de três meses. Nos ensaios clínicos, a eficácia geral registrada foi de 80,2% contra a dengue causada por qualquer sorotipo, após 12 meses da segunda dose. A vacina também reduziu as hospitalizações em 90%. Segundo o laboratório Takeda, a vacina garante imunização contra a doença por até cinco anos.

Quem já teve dengue pode tomar a vacina, mas a recomendação é para que aguarde seis meses após ter contraído doença. Se a pessoa tiver dengue depois de tomar a primeira dose também será preciso esperar 180 dias para tomar a segunda.

Já pessoas imunossuprimidas, gestantes e mulheres que estão amamentando não podem receber o imunizante. O ideal é, sempre, conversar com um médico antes da imunização. (Ana Claudia Martins)