Estágio é importante, mas é preciso saber fugir de ‘ciladas’

Contratos pouco claros podem ocultar exploração

Por Wilma Antunes

As empresas podem enriquecer a experiência do jovem oferecendo oportunidades de aprendizado e mentoria

Em um cenário cada vez mais competitivo, o estágio se destaca como uma valiosa porta de entrada para o mercado de trabalho. Regido por legislação específica, esse período de aprendizado visa proporcionar aos estudantes o contato prático com suas futuras profissões. No entanto, por trás das oportunidades, há desafios e “ciladas” que podem impactar negativamente os candidatos, transformando a experiência em uma situação de exploração.

Rafaela de Souza, analista de Recursos Humanos, destaca aspectos essenciais na oferta de vagas de estágio. A clareza na descrição das responsabilidades, requisitos acadêmicos, carga horária e benefícios são fundamentais. “Ciladas” comuns incluem exigências de pagamento para participar do processo seletivo e falta de transparência nas expectativas do cargo, levando a frustrações, desmotivação e desvios de função.

“O contrato de estágio é uma ferramenta crucial na garantia da transparência e proteção mútua. O documento deve conter informações precisas sobre atividades a serem desempenhadas, carga horária, benefícios e prazo de vigência. Nos estágios de ensino superior, a análise do contrato pelo coordenador do curso é essencial, assegurando sua pertinência com a formação do estudante. Acompanhar o desempenho dos estagiários por meio de avaliações é prática comum, contribuindo para o desenvolvimento e fornecendo feedbacks construtivos”, explica a profissional.

Segundo Rafaela, além da remuneração, as empresas podem enriquecer a experiência oferecendo oportunidades de aprendizado, mentoria, participação em projetos e acesso a eventos internos.

Fale sem medo

Uma dica valiosa para conquistar o estágio tão desejado é “abrir a boca para falar”. Em meio ao processo seletivo, essa habilidade de comunicação se revela como um diferencial entre os candidatos. Rafaela diz já ter entrevistado jovens que, ao participar de processos seletivos, recorreram a suas mães para acompanhá-los. Essa prática, segundo ela, denota uma falta de habilidade de comunicação e destaca a importância de os candidatos se expressarem de forma autônoma, demonstrando confiança e competência.

Identificar estágios falsos demanda atenção a requisitos exagerados, falta de estrutura para atividades práticas e ausência de supervisão adequada. Rafaela aconselha os estagiários a verificar a reputação da empresa, esclarecer dúvidas sobre as responsabilidades do cargo e até mesmo conversar com atuais ou ex-estagiários para obter informações sobre a verdadeira experiência.

Sobre canais de denúncia, a sugestão é recorrer ao Ministério do Trabalho ou, caso já esteja trabalhando, denunciar no próprio RH da empresa ou na instituição de ensino.

Um hora aparece

Nathalia de Godoi Carlos Pinto, 21 anos, estudante de Design Gráfico, compartilha sua jornada de estágio na agência de marketing 2Whiti, em Sorocaba. Ela revela que buscou oportunidades por meio do LinkedIn e do grupo da faculdade. Nathalia conta que, apesar das expectativas de aprender mais sobre o mercado de trabalho, a experiência dependeu muito de seu próprio esforço.

“Aprendi a ter muita constância e evolui muito nos meus trabalhos. Também tive muito crescimento pessoal no sentido de lidar com pessoas na liderança, críticas, reuniões, entre outros”, disse.

A dica que a estudante dá para os candidatos que procuram estágio é ter paciência, porque uma hora as oportunidades vão aparecendo. “Para quem está começando, eu acho que é bom se esforçar. Mas todos temos nosso próprio ritmo de aprendizado e vamos encontrando a melhor forma de trabalhar e de nos relacionar com as pessoas”, aconselhou. (Wilma Antunes)