Operações da Polícia Federal na região aumentaram 275% em 2023
Pedofilia foi alvo de mais da metade das ações; crimes de ódio e tráfico de pessoas se destacam no ranking
A circunscrição da Polícia Federal de Sorocaba -- que atende 47 municípios -- realizou 30 operações no ano passado. O número representa um aumento de 275% na comparação com 2022, quando foram registradas oito ações.
Do total de operações deflagradas pela PF de Sorocaba no último ano, mais da metade -- 16, correspondendo a 53% -- tiveram como alvo a pedofilia. Entre os demais crimes combatidos pelos agentes federais na região estão os de ódio (três), tráfico de pessoas (duas) e fraudes bancárias (duas).
A corporação ainda atuou contra o contrabando de cigarro, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, posse/porte ilegal de arma, fraude processual, telecomunicações/rádio pirata e, por fim, uma das que teve maior repercussão, denominada Sepsis, que investiga o desvio de recursos públicos na área da saúde em Sorocaba.
Ainda durante o ano de 2023, a Polícia Federal efetuou 51 flagrantes na região de Sorocaba, resultando em 76 prisões.
As ocorrências mais frequentes nas prisões em flagrante foram relacionadas aos crimes de contrabando de cigarros, pedofilia, dinheiro falsificado e tráfico de entorpecentes.
A quantidade de drogas apreendidas entre janeiro e dezembro do ano passado chegou a 526kg. Somente nos primeiros 18 dias de 2024, a PF já apreendeu cerca de 200kg de entorpecentes.
Segundo o delegado da Polícia Federal de Sorocaba, Márcio Magno, muitas investigações foram concluídas e outras continuam em andamento.
Ele cita a operação Sepsis, deflagrada em 23 de novembro de 2023, que está em fase final de análise das mídias apreendidas.
“Hoje em dia, a quantidade de dados que pegamos em nuvens e aparelhos é gigantesca, então demora um pouco mais. Ainda não há novidades para divulgar em relação à Sepsis. Os dados estão sendo analisados para ver se há outros envolvidos e, dependendo do resultado, poderá ou não haver uma nova fase”, explica.
Dificuldades
Magno destaca também a dificuldade de manter uma pessoa presa, devido à legislação, além da dificuldade em conseguir um mandado de prisão dentro das operações.
“Hoje está mais difícil conseguirmos mandados de prisões dentro das operações, porque eles (juízes) entendem que -- até mesmo pela legislação que precisa ser cumprida -- que só os crimes violentos devem ficar em regime fechado. Os crimes de desvio de dinheiro público matam tanto quando um homicida. Um milhão tirado da saúde pública acaba matando pessoas na fila de espera de atendimento”, explica.
Para o delegado, o mesmo ocorre nos crimes de receptação, que hoje possuem pena baixa por não haver violência.
“O receptador recebe jóias, armas e uma infinidade de produtos que são objetos de crimes violentos, como roubos às pessoas e residências. Portanto, determinados tipos de crimes deveriam ter uma majoração de pena ou até mesmo enquadramento como hediondo, porque, apesar de não serem violentos diretamente, são violentos indiretamente e, por muitas vezes, causam muito mais mal, do que os crimes violentos”, afirma.
O delegado também cita os crimes de ódio. Em 2023, foram deflagradas três operações, sendo duas com um alvo e outras duas com três alvos.
“São pessoas que ficam isoladas, que possuem uma cabeça deturpada mas, que de repente, têm uma crise e saem matando inúmeras pessoas”. Esse é um crime, de acordo com ele, complexo de apurar, pois envolve cibernética, pesquisas, vigilâncias e levantamentos de dados para chegar até a pessoa.
“Chegamos a elas por meio de denúncias, do trabalho do nosso pessoal de Sorocaba, de Brasília (que tem um monitoramento em cima disso) e também com a colaboração de entes externos que também remetem informações. Com isso, vamos desenvolvendo e nos profundando até conseguirmos elementos para pedir os mandados”.
Pequeno porte
O número de operações realizada pela PF em 2023 é considerado positivo para o delegado, que pretende fazer com que os números cresçam ainda mais em 2024, a partir de um novo sistema de trabalho, que prioriza operações de pequeno e médio porte.
O delegado ressalta que toda operação tem um período de maturação. Algumas delas demoram um ou dois anos até serem deflagradas, devido à complexidade e aos mecanismos de obtenção de provas.
“Boa parte dessas operações realizadas (no ano passado) já estava em andamento. Também alteramos a visão dos servidores da PF, para que façamos mais operações de pequeno e médio porte, que são muito mais efetivas, rápidas e que são importantíssimas, em vez de operações gigantescas, que causam um retardo no processamento. Se eu faço uma operação com 100 alvos, imagina um processo com 100 réus? É muito mais complexo e muito mais demorado”, comenta.
O objetivo para 2024, conforme o delegado, é aumentar o número de operações da PF em Sorocaba.
Ele ressalta, porém, que outras funções importantes também são atribuídas à Polícia Federal, como emissão de passaportes, regularização de imigrantes, fiscalização de produtos químicos, fiscalização de empresas privadas e segurança das agências bancárias, fiscalização do aeroporto Catarina e também do aeroporto de Sorocaba -- que está em processo de internacionalização -- além do controle de armas.
“Dentro dessa gama de atividades, tivemos um aumento muito grande de produção também. Em 2024, vamos trabalhar ainda mais”, finaliza o delegado. (Virgínia Kleinhappel Valio)