Hoteis/creches viram segundo lar para cães
A opção é mais procurada nos meses de férias e durante o Carnaval, quando os tutores precisam viajar
Hotéis e creches para cães estão ganhando cada vez mais espaço. Nestes locais, os amiguinhos de estimação brincam na água, ganham petiscos e sorvetes de frutas, se divertem com outros cachorros, tomam banho e descansam ao som de músicas relaxantes. Todo esse cuidado acaba transformando hotéis e creches em um segundo lar para os cães e, também, na melhor opção para os tutores que preferem viajar sem preocupação com a segurança e o conforto dos companheiros de quatro patas. Os períodos de maior procura desses serviços, segundo os proprietários, são os meses de dezembro e janeiro e o feriado de Carnaval.
Um hotel para cachorros localizado em Sorocaba, recebe, somente em janeiro, mais de 80 cachorros, entre creche e hospedagem. Karla Adriana Gracia Menna é proprietária do espaço há três anos e conta que há animais que passam a manhã, tarde ou até mesmo o dia todo, além dos que ficam hospedados ou que moram no local. “Temos a creche de um a cinco dias por semana, meio período ou integral. Todo mundo fala que cachorro não brinca, mas ele brinca sim. Os cachorros interagem não só com a gente, mas entre eles também. Eles brincam sozinhos, correm, chamam o outro para correr. O tempo todo, nós estamos fazendo a leitura do cachorro. Usamos muito a parte da psicologia canina com eles. Aqui, respeitamos muito os animais. Não tem como trabalhar com animal se você não gosta”, explica a Karla.
Ela conta que tem cachorro que fica hospedado dois ou três meses, para que os tutores possam viajar. Ano Novo é o período com maior procura, segundo ela. “Tem gente que quer uma vaga de um dia para o outro neste período. Só que não tem mais vaga, porque nós fazemos pacotes para o final do ano. Tem que ser no mínimo quatro dias. A procura foi tão grande no ano passado, que em novembro já não tínhamos mais vagas. No Natal e Ano Novo, chegamos a receber 120 cachorros”, conta.
Além das famílias que buscam o espaço para o cachorro passar o dia ou se hospedar, há também as que buscam moradia permanente para o animal. “Temos moradores que possuem tutor, mas, por alguma razão, não podem ficar com o cachorro. Às vezes, porque o cachorro late demais, ou porque está com mais idade e precisa de cuidados especiais, ou porque não tem quem olhe e até mesmo porque o cachorro está brigando com outro pet da família”, comenta a empresária.
No hotel/creche, os cães fazem enriquecimento ambiental. É o momento em que eles cheiram e fuçam. Com isso, trabalham a mente, cansam e gastam mais energia. “Ensinamos os cães a passear e (entender) alguns comandos básicos. Também brincamos com bolinhas, por exemplo. Não só nessa época de calor, mas sempre trabalhamos com sorvete de manga ou de maçã, por exemplo, já que não é toda fruta que o cachorro pode comer. Usamos muito as piscinas com eles”, detalha Karla. A diária de hotel varia de R$ 100 a R$ 120, em feriados prolongados. Já o pacote mensal da creche custa R$ 275, para quatro visitas ao mês. Para três vezes por semana (12 visitas ao mês), o custo é de R$ 550; para cinco vezes (20 visitas ao mês), o preço sobe para R$ 865.
Individualidade
Tatiana Iha Piancatelli é proprietária de outro hotel e creche para cães, também localizado em Sorocaba. Ela explica que não há restrição de raça. “Como nos especializamos em comportamento animal, nós sempre vamos analisar o comportamento de cada indivíduo. Respeitamos a individualidade de cada animal. Independente da raça, eu preciso analisar o comportamento de cada cão. Então, muitas vezes, fazemos uma reunião com a família para entender o ambiente que o cão vive e saber se existe algum problema de comportamento. Assim, fazemos uma adaptação gradativa de cada animal”.
Vale lembrar que em ambos os hotéis e creches citados, são aceitos somente cachorros. “Gatos são seres semi-sociais, eles não gostam de sair do território deles, de conviver com outros gatos. Então, é só cachorro. Uma creche ou hotel para gato não funcionaria, seria muito estressante para eles, já os cães são seres sociáveis, para eles esse esquema funciona super bem”, comenta Tatiana.
No hotel/creche de Tatiana, os cães possuem uma rotina. No período da manhã, são oferecidas atividades com maior gasto de energia física, principalmente no calor, quando são realizadas brincadeiras com água. Também são criadas atividades com obstáculos -- como labirintos --, em que os cães gastam energia física e mental. Outras atividades com desafios são introduzidas, como tirar uma fruta ou um petisco de dentro de um recipiente. “O tempo todo nós criamos atividades para estimular a parte sensorial. Trazemos plantas e frutas diferentes para estimular o olfato. Isso faz com que os cachorros liberem muitas substâncias de prazer e consigam relaxar. No momento do descanso, colocamos uma música relaxante para ativar o sentido auditivo. Se eles não tiverem essa pausa, ficam superestimulados”, disse.
Assim como o primeiro hotel e creche mencionado, a procura por vaga no espaço de Tatiana é maior entre dezembro e janeiro. A segunda época mais procurada é o Carnaval. “Oferecemos cama, cobertor, roupinha, brinquedo, comedouro, bebedouro e frutas. A ração fica por conta do tutor. Tem muitos tutores que deixam seus cães por um longo período. Também tem cães que moram aqui. Temos vários casos diferentes de hospedagem, como as permanentes -- cães que foram adotados ou estavam sem lar e a pessoa não consegue ter mais de um na casa e acaba deixando aqui”.
No final de 2023, o empreendimento de Tatiana tinha 123 cães hospedados. Na creche, o total de clientes chegou a 189. Já os preços da hospedagem variam. Para não clientes, a hospedagem é R$ 120 e, para clientes, R$ 100. Os valores da creche dependem da frequência: uma vez na semana (4 visitas), R$ 395,30 mensais; três vezes (12 visitas), R$ 790,61; e cinco vezes (20 visitas), R$ 1.200,56.
Qualidade de vida
Foi com o objetivo de proporcionar qualidade de vida para sua golden retriever chamada Olga Maria, de cinco anos, que o publicitário Alberto Frigo decidiu colocá-la na creche/hotel. “Eu deixo ela lá para o desenvolvimento dela. Ela fica bem, gasta energia e se relaciona com outros animais”, conta. Além de deixar a cadela todas as terças e quintas na creche, o publicitário também opta pelo espaço quando precisa viajar. “Deixei uma semana e até dez dias, quando meu filho nasceu. Para a Olga, o espaço é uma extensão da minha casa”, revela.
Desde que a Olga Maria passou a frequentar o hotel/creche, Alberto notou que o desenvolvimento dela melhorou, principalmente, devido à atividade física. “A parte de atenção dela melhorou muito, porque eles desenvolvem um trabalho cognitivo com o cachorro. Ela se tornou uma cachorra muito mais esperta e mais sociável. Eu não consigo ver como um investimento, para mim isso é fundamental. E toda vez que ela entra e sai de lá, está muito feliz”, finaliza
A advogada Claudia Marufuji afirma que seus “filhos peludos” amam passar o dia ou se hospedar na creche. Ela é “mãe” de dois labradores, chamados Meg (7 anos) e Jack (9 anos) e três golden retriever, o Bento (7 meses), Amora (6 anos) e Toddy (5 anos). Os cinco cachorros frequentam a creche duas vezes por semana. “Optei pela creche para socialização e recreação, pois fico o dia todo fora. Eu sou viajante, então sempre uso o hotel também. Estou muito feliz com a escolha, porque é notável como ‘meus filhos’ adoram estar lá. A maior mudança foi no controle de ansiedade, por meio de brincadeiras e da socialização”, conclui. (Virginia Kleinhappel Valio)