Associação cobra apoio para continuar a restaurar o maior patrimônio sorocabano
Obras no conjunto arquitetônico do Mosteiro de São Bento estão paradas desde a pandemia de Covid-19
A conclusão da restauração do complexo arquitetônico do Mosteiro de São Bento, maior patrimônio histórico e cultural de Sorocaba, precisa do apoio e mobilização da sociedade e de grandes empresas. As obras na Igreja de Sant’Ana foram encerradas há três anos. No entanto, o conjunto datado de meados do século 17 e localizado no Largo de São Bento -- no Centro --, ainda é formado pelo Mosteiro de São Bento, Capela de São Judas Tadeu e Gruta de Nossa Senhora de Lourdes.
A restauração da igreja foi concluída em 2020. Em seguida, a pandemia de Covid-19 acabou impedindo a continuação dos trabalhos em virtude da emergência sanitária. Além disso, para dar continuidade na restauração de todo o complexo do Mosteiro de São Bento, a legislação municipal precisou ser adequada, o que ocorreu somente no início deste ano.
No dia 12 de janeiro, foi publicado, no jornal do Município de Sorocaba, o decreto 28.912, de 3 de janeiro de 2024, que determina a ampliação do tombamento do conjunto arquitetônico do Mosteiro de São Bento de Sorocaba -- tombado pelo Condephaat em 1976 --, agora incluindo as imagens religiosas e os demais imóveis da área envoltória.
Segundo a Prefeitura de Sorocaba, o decreto contempla três prédios tombados no Grau de Proteção 2, que são os casarões (sem denominação específica) situados no Largo de São Bento, números 24, 86 e 144. Além disso, o decreto também tombou 25 obras, entre imagens e objetos (bens móveis), que fazem parte da Igreja de Sant’Ana e das várias áreas do complexo. Da Igreja de Sant’Ana: imagem de Sant’Ana do altar-mor; imagem de São Bento do retábulo; imagem de Santa Escolástica do retábulo; crucifixo do altar-mor; banqueta de madeira do altar-mor; dois crucifixos dos alteres laterais; imagem do Senhor da Coluna no nicho da nave; imagem de Nossa Senhora do Pilar da sacristia; as quatro grandes telas da nave (cópias antigas de mestres europeus); lampadário de prata do presbitério; imagens de Santa Maria e de São José, localizadas nas laterais da Igreja; o altar-mor - Cordeiro Místico; o sacrário localizado no altar principal da Igreja; e a pintura “Agonia no Horto”.
Das outras áreas do complexo foram incluídas: a imagem de Santa Gertrudes do claustro; imagem de Nossa Senhora da Conceição do claustro; tela de São Bento; altar principal da Capela de São Judas Tadeu; imagem de São Judas Tadeu localizada no altar da Capela de São Judas Tadeu; crucifixo em cruz de madeira sobre o altar da Capela de São Judas Tadeu; e a imagem do Sagrado Coração de Jesus na sala dos fundos da Capela de São Judas Tadeu.
Questionada a respeito, a Prefeitura de Sorocaba informa que o tombamento total do complexo do Mosteiro São Bento pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP) assegura a sua preservação, em nível municipal (seu tombamento em nível estadual, pelo Condephaat, é de 1982). “Trata-se de um imóvel de extrema importância para a história da cidade, estando relacionado à sua fundação. A Igreja de Sant’ana e o Mosteiro de São Bento foram construídos por volta de 1654, sendo o Mosteiro o único da Congregação Beneditina do Brasil que mantêm sua originalidade”, destaca a atual gestão.
Continuidade da restauração
Já em relação à restauração do restante do complexo arquitetônico do Mosteiro, a administração municipal informou que é “a responsabilidade pela manutenção, restauro e preservação do Mosteiro de São Bento, da Igreja de Sant’Ana e dos demais imóveis tombados é da Arquidiocese de Sorocaba”. Porém, o posicionamento da municipalidade é contestada pela Associação Amigos de São Bento, responsável pela preservação do patrimônio histórico-cultural.
Conforme a entidade, os monges da Ordem Beneditina são os responsáveis pelo Mosteiro de São Bento. O Cruzeiro do Sul tentou falar a respeito com o responsável pelo mosteiro, dom Inácio Moisés Caciagli, por telefone e pessoalmente, mas ele preferiu não se pronunciar neste momento. A reportagem também tentou contato com representantes da Ordem Beneditina, do Mosteiro de São Bento da capital paulista, por e-mail, mas também não houve retorno.
Fundada há 20 anos, a Associação teve papel fundamental no projeto de restauração da Igreja de Sant’Ana, por meio de projetos aprovados no Programa de Ação Cultural (ProAC-ICMS). A entidade contou com o apoio da iniciativa privada, como a indústria Flex, a título de incentivo fiscal do imposto.
O presidente da Associação, Luis Antônio Lara, disse que a entidade está em busca de recursos por meio de projetos com incentivos fiscais, para dar continuidade aos trabalhos de restauração de todo o complexo arquitetônico do Mosteiro de São Bento. Para isso, no entanto, é necessário que as grandes empresas, os responsáveis pelo conjunto arquitetônico e toda a sociedade sorocabana entendam a importância do patrimônio histórico e cultural para a cidade e para o País.
“Trata-se do maior patrimônio histórico e cultural não só de Sorocaba, mas de toda a região. No Mosteiro de São Bento estão sepultados, por exemplo, o fundador da cidade, Baltazar Fernandes, e outras figuras ilustres da história sorocabana, como Francisco Adolfo de Varnhagen, o visconde de Porto Seguro, conhecido como o ‘pai da história’, e Frei Baraúna. Desconhecemos que os responsáveis pelo mosteiro tenham projetos para dar continuidade na restauração do restante do complexo arquitetônico, mas a Associação pode ajudar. O decreto municipal veio para facilitar o processo, mas precisamos do envolvimento dos responsáveis e de toda sociedade sorocabana, pois trata-se da preservação da nossa própria história”, destaca Lara.
O presidente da Associação disse ainda que os projetos elaborados pela entidade, com apoio da iniciativa privada, foram essenciais para toda as obras de reforma e restauração que já foram feitas no local. “A parte frontal do mosteiro estava para cair. Por isso, foi feito o amarramento das paredes e a total descupinização do prédio. Os aposentos dos monges que moram lá também foram totalmente reformados, foi feita a troca do telhado e do sistema elétrico, madeiramento e calhas. Agora, é fundamental continuar a restauração de todo o complexo do Mosteiro”, reforça.
O tesoureiro da Associação, Lúcio Roberto Bardos Martini, reforça que o grupo está aberto ao diálogo e pronto para ajudar na elaboração de projetos e na busca de recursos. “A entidade atua a partir do momento em que os responsáveis pelo mosteiro solicitam. Não temos nenhum vínculo com a administração do local e não podemos atuar sem a autorização dos monges. Então, temos que unir esforços, com toda a sociedade sorocabana e a iniciativa privada para que a restauração do Mosteiro de São Bento possa continuar e ser totalmente finalizada. Será um grande presente para todos os sorocabanos”, conclui. (Ana Claudia Martins)