Melhora no nível do emprego faz crescer a rotatividade entre os trabalhadores
Busca por melhores condições laborais são principais motivos que levam à troca de empresas
A melhora no nível de emprego aumenta a rotatividade em Sorocaba, sobretudo, no comércio. Muitas pessoas mudam de área em busca de salários maiores e de crescimento profissional. Segundo especialistas do setor, a mudança tem lados positivos para os funcionários e empregadores, mas, às vezes, se constante, também pode ser negativa. Por isso, as empresas precisam investir em medidas para manter os seus funcionários, enquanto os trabalhadores devem avaliar se a troca será realmente vantajosa.
Vera Lúcia Vaz da Silva, proprietária de uma consultoria de Recursos Humanos, diz que, desde 2015, o Brasil vinha enfrentando diversas crises, incluindo a pandemia de Covid-19. Com isso, a população permanecia durante longos períodos em um emprego, por conta das incertezas e inseguranças. Agora, diante da recuperação do mercado, com o aumento de contratações, a rotatividade torna-se natural. De acordo com ela, a maioria dos trabalhadores prefere ir para grandes empresas, em razão das melhores condições de trabalho oferecidas por elas.
Nesse sentido, Vera elenca que a oferta de salários baixos, poucos benefícios, ambiente corporativo tóxico e gestão inadequada são as principais causas da alta rotatividade. “A má reputação (da empresa) no mercado causa baixa atração de talentos”, reforçou. De acordo com ela, isso acontece porque, as novas gerações priorizam qualidade de vida, e não apenas uma boa remuneração.
Ainda conforme a especialista, pedidos de demissão geram despesas com o pagamento de direitos e com a contratação de novos trabalhadores. A empresa também perde conhecimento, já que o ex-funcionário passa a aplicar todo o seu repertório em outro lugar. Por isso, ela destaca a importância do investimento em ações de promoção de bem-estar. Sugere, por exemplo, a adoção de refeições saudáveis, programas de desenvolvimento pessoal e profissional, trabalho remoto e horários flexíveis, dentre outras medidas.
Por outro lado, as baixas podem incentivar a empresa se aprimorar internamente e corrigir possíveis falhas. “Quando uma pessoa sai, a empresa tem a chance de se renovar, de trazer novos talentos, de formar nova cultura, de melhorar os processos, de investir mais em treinamento”, apontou Vera, atuante com recrutamento e seleção.
A mudança constante de emprego também pode ser benéfica ou desvantajosa para o empregado. Segundo a consultora de RH, migrar para uma oportunidade mais vantajosa na mesma área é sempre positivo. Em contrapartida, atuar em diferentes funções em um curto espaço de tempo indica falta de foco. A troca frequente de trabalho sem motivos realmente plausíveis pode, igualmente, virar um complicador no mercado. Isso porque empregadores costumam valorizar a estabilidade em ocupações anteriores.“Ficar mudando por causa de R$ 100 não é o caminho”, opinou a gestora de RH.
Comércio
Vera informa que o comércio é o setor com maior rotatividade de pessoal. O presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Sorocaba (Sincomerciários), Milton Matias da Costa, confirma. Ele afirma ser algo comum e sazonal. “Se há um alto nível de desemprego, as pessoas acabam aceitando (trabalhos nos setor). Quando cresce o índice de emprego em serviços e na indústria, o comércio esvazia um pouco”, comentou.
Segundo Costa, esse fenômeno ocorre, principalmente, em mercados e shoppings. Os principais motivos são o expediente aos fins de semana e feriados, assim como os horários diferenciados. Outra razão é a diminuição do interesse dos jovens por trabalhos nesses locais. Ele explica que, antes, esse público conseguia seu primeiro emprego nesses estabelecimentos e, assim, ocupava boa parte dos postos. Atualmente, porém, com o advento da tecnologia, os mais novos preferem exercer profissões ligadas à essa área. “Querem ser empreendedores, trabalhar com o que as redes sociais oferecem, com marketing digital”, listou.
Pessoas buscam qualidade de vida
O excesso de trabalho foi justamente o motivou pelo qual duas ex-funcionárias do comércio mudaram de área. Isabele Cristine Brisola Corrêa, de 34 anos, foi funcionária de uma loja de uma rede varejista por sete anos. Durante esse período, ela enfrentou uma rotina corrida, com expediente aos fins de semana e feriados, além de horas extras constantes. Outra dificuldade era encontrar alguém para cuidar de seus filhos.
Por causa de todas essas questões, em 2014, Isabele decidiu migrar para o emprego atual, de assistente administrativa, em um hospital de Sorocaba. Hoje, trabalha somente de segunda a sexta-feira, em horário comercial. Com isso, há dez anos, tem mais tempo para si mesma e para estar com os familiares. “Mudou a minha qualidade de vida, que eu não tinha, e a da minha família também”, disse.
Em prol do seu bem-estar, Tânia Regina Melchior Pascoli, de 53 anos, saiu de uma padaria após quase quatro anos. Agora, é secretária em uma paróquia da cidade há sete meses. No trabalho anterior, ela folgava apenas uma vez na semana e um domingo por mês. Além disso, como os horários eram variáveis, precisava adequar sua vida a uma escala. “Era um pouco desgastante”, contou. No novo cargo, tudo isso mudou. “A logística ficou melhor, tenho um horário mais fixo, dá para conciliar com mais coisas”, falou ela, que mora perto da igreja. (Vinicius Camargo)