Acidentes de trabalho na região passam de 800 em dois meses

Para tentar conter a explosão desse tipo de caso, o Seint está preparando uma campanha de conscientização sobre o tema

Por Vanessa Ferranti

Construção civil é um dos setores que registramos maiores índices de acidentes de trabalho

Os meses de janeiro e fevereiro somaram mais de 800 acidentes de trabalho na região de Sorocaba. A informação foi confirmada ao Cruzeiro do Sul por Ubiratan Vieira, chefe regional do Setor de Inspeção do Trabalho (Seint), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). No mesmo período foram registradas seis mortes.

Para tentar conter a explosão desse tipo de caso, o Seint está preparando uma campanha de conscientização sobre o tema. O assunto será discutido em uma reunião entre o MTE, a Divisão Regional de Fiscalização, o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Sorocaba e os sindicatos dos Metalúrgicos, Construção Civil e Comércio. O encontro está marcado para o dia 4 de abril, no Ciesp Sorocaba, e contará com a presença do superintendente do Trabalho no Estado de São Paulo, Marcus Alves Mello.

De acordo com Vieira, a Divisão Regional de Fiscalização tem recebido reclamações sobre a falta de investimentos em segurança e medicina do trabalho. Além disso, algumas comissões internas de prevenção de acidentes (Cipas) não estariam atuando da forma adequada dentro das empresas. “As Cipas estão funcionando pouco, principalmente no momento da integração do empregado, quando ele está entrando na empresa, porque uma Cipa que funciona bem vai chegar nesse funcionário e falar quais são os locais perigosos da empresa e explicar que tem que ter muita cautela nesses locais. São justamente esses funcionários novos que estão perdendo a vida”, declarou Ubiratan.

Ainda conforme o chefe do Seint, 2023 fechou com 60 mortes em Sorocaba e região, 33 a mais do que o total registrado no ano anterior — aumento de 81%. Por conta disso, a intenção dessa reunião é discutir ações para reduzir o número de acidentes e, consequentemente, as mortes no ambiente de trabalho.

Segundo Erly Domingues de Syllos, diretor do Ciesp Sorocaba, o Centro das Indústrias, como entidade ligada à sociedade civil, está atuando nessa força-tarefa para combater as causas dos acidentes. “O Ciesp está trabalhando proativamente para unir esforços de todos os setores da economia para montar uma força tarefa dos empresários e dos trabalhadores para mitigar os riscos e fazer com que os acidentes de trabalho em Sorocaba sejam minimizados”, ressaltou.

Após o encontro marcado para abril, uma segunda reunião deve acontecer com a convocação de novos sindicatos.

Conscientização

Segundo Ubiratan Vieira, muitos dos acidentes de trabalho ocorrem nas metalúrgicas e também no setor da construção civil. Na maioria dos casos, as vítimas são jovens, entre 21 e 24 anos. Grande parte das ocorrências não termina em mortes, no entanto, há situações em que as pessoas chegam a perder membros. Por isso, é necessário fiscalização e conscientização. “Temos também muitas mutilações em que a pessoa acaba no serviço de reabilitação do INSS. Na maior parte dos casos, sai de lá como Pessoa com Deficiência (PcD)”, informou Vieira.

O chefe do Seint ressalta, ainda, que a ideia de ter Cipas que funcionem nas empresas não é somente em relação aos acidentes, mas para auxiliar também em questões como assédio moral e sexual. “O assédio moral é revestido de várias nuances, pode ser chefe, por exemplo, prejudicando o trabalho da própria empresa e do funcionário, tentando forçar uma meta quase que inatingível. É por isso que nós chegamos à conclusão de que uma campanha envolvendo as três partes pode vir a ter resultados melhores. Não é uma campanha punitiva, mas uma campanha de orientação”, reforça Ubiratan.