Apenas 10% das vítimas aceitam fazer a denúncia

Informação é das assistentes sociais que atendem mulheres nas unidades de saúde administradas pela Santa Casa

Por Vinicius Camargo

Santa Casa - que passa por reforma - e unidades Pré-Hospitalar Zona Leste e de Pronto Atendimento do Éden atendem quase que diariamente vítimas de violência doméstica

“Alguns anos atrás, chegavam, no máximo, duas mulheres por mês vítimas de violência doméstica e, no atual momento, tem sido quase que diariamente”. O alerta sobre o aumento nos atendimentos de vítimas desse crime foi feito pelo gestor da Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba, padre Flávio Jorge Miguel Júnior. Ele deu a declaração no dia 8 de março deste ano, durante uma missa em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Segundo padre Flávio, o número de pacientes que procuram auxílio após serem agredidas cresceu tanto no próprio hospital, quanto na Unidade Pré-Hospitalar (UPH) Zona Leste e Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Éden, também administradas pela Irmandade.

Ainda de acordo com o gestor, que reforçou a grave afirmação, as unidades de saúde atendem desde mulheres com ferimentos leves até outras gravemente machucadas. As vítimas recebem todo o protocolo médico necessário; inclusive, aquelas com quadros mais sérios permanecem internadas até se recuperarem totalmente. Uma psicóloga também é acionada para prestar-lhes apoio emocional.

Padre Flávio informa que, independentemente da situação em que se encontram, todas as atendidas são orientadas a denunciar o agressor. Porém, a maioria se recusa a fazer boletim de ocorrência.“As assistentes sociais, tanto da UPH e UPA quanto do próprio hospital, relatam que somente 10% das mulheres aceitam fazer a denúncia”, afirmou.

Conforme ele, as pacientes temem procurar a polícia por uma série de fatores: financeiros, familiares, sociais e culturais.“Tem aquelas que têm medo de uma vingança do companheiro, que são ameaçadas. Outras mulheres estão desempregadas e dependem desse companheiro para sobreviverem. Algumas têm crianças pequenas e têm medo de perder a guarda dos filhos”, elencou.“Também tem aquelas que têm medo da rejeição da própria família, que não acredita (nelas), que acha que se apanhou é porque mereceu”, explicou.

Quando as pacientes prosseguem com a denúncia e precisam, por exemplo, sair de casa, a Irmandade mantém o auxílio mesmo após elas receberem alta. De acordo com padre Flávio, nessas circunstâncias, uma das medidas adotadas é o encaminhamento delas para o Centro de Integração da Mulher (CIM-Mulher). A entidade atua no resgate e acolhimento de mulheres vítimas de violência e de seus filhos.

Machismo

Para o gestor, o machismo cultural e transgeracional (passa de uma geração para outra) enraizado na sociedade é a principal causa do crescimento da violência contra a mulher. Segundo ele, mais do que se manter, os aspectos machistas se dissipam cada vez mais, gerando um ciclo ininterrupto de violência.“(O machismo) é transmitido pela família, porque, se o menino vê o pai bater na mãe, amanhã, ele vai bater na esposa”, comentou.

Como denunciar

As mulheres podem fazer denúncias nas Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) ou em qualquer outra unidade policial, nas cidades onde não há especializadas. É possível, também, abrir o boletim de ocorrência por meio da Delegacia Eletrônica (delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br).