Presença de animais silvestres em áreas urbanas é cada vez mais comum

Maioria dos chamados recebidos pela Polícia Ambiental em Sorocaba é por conta de saruês e maritacas

Por Cruzeiro do Sul

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A presença de animais silvestres é cada vez mais comum nas regiões residenciais de Sorocaba. São tatus, quatis, corujas, macacos e as famosas capivaras que invadem espaços urbanos, principalmente em áreas verdes, como parques, margens de rios e quintais de casas. Apesar de “bonitinhos” e “engraçadinhos”, esses animais não estão acostumados a conviver com seres humanos e as condições da cidade podem ser uma ameaça às suas vidas.

Uma das explicações plausíveis para essa situação, segundo o coordenador do curso de bacharelado de Ciências Biológicas da Universidade de Sorocaba (Uniso), Thiago Simon Marques, é a perda de habitat devido à expansão urbana, resultando na redução de áreas naturais disponíveis para essas espécies.

No entanto, o docente ressalta que existem outros fatores que também contribuem para a situação. “A degradação ambiental, desmatamento e alterações climáticas também contribuem para a busca de novos territórios por parte dos animais para obter alimento, abrigo e condições adequadas para sua sobrevivência. Também vale acrescentar que as cidades foram construídas sobre os habitats destas espécies”, pontua.

Em Sorocaba, a maior parte dos chamados recebidos pela Polícia Ambiental é por conta de maritacas e saruês - uma espécie de gambá. E, nestes casos, orientam as pessoas a manterem distância ou auxiliar os animais a voltarem ao seu habitat natural retirando os obstáculos.

O técnico em radiologia, Leandro Wisnheski Vargas, de 32 anos, precisou pendurar uma banana do lado de fora da janela do banheiro do seu filho, Leonardo, para atrair um sagui, que invadiu o local. Atualmente, Leandro reside no centro de São Roque e relata que a presença dos pequenos primatas e saruês já se tornou parte do seu dia a dia.

“Durante o dia tem muitos saguis, passam em bando, uns dez a quinze, e durante a noite são os saruês. Às vezes também parecem ouriços”, conta o técnico. “Acredito que os moradores alimentam esses animais; por isso eles procuram o espaço urbano. Eu já morei em uma região afastada e não aconteciam essas invasões”.

A própria Defesa Civil da cidade está emitindo alertas devido às aparições de animais silvestres. As autoridades orientam os moradores a não os alimentem, na esperança de que voltem para o lugar de onde vieram.

Os animais silvestres são protegidos pela Lei Federal 9.605/98, que foi regulamentada pela Resolução Estadual SIMA 05/21, que proíbe qualquer ato de perseguição, apreensão, caça e violência. A Polícia Ambiental ainda acrescenta que o ato de modificar, danificar ou destruir ninho, abrigo ou criadouro natural, também é considerado crime, bem como a compra e venda, a guarda e o cativeiro sem as devidas autorizações.

Riscos

A presença de animais silvestres em ambientes urbanos expõe as espécies a uma série de perigos. Dentre os principais, o professor Thiago Marques cita: atropelamentos, intoxicação por substâncias presentes na cidade, predadores domésticos, e até mesmo o estresse causado pelo convívio com o ambiente urbano.

“A presença deles em áreas urbanas também pode levar a conflitos com seres humanos, resultando em medidas drásticas, como capturas ou, infelizmente, em alguns casos, sacrifício por falta de alternativas seguras”, acrescenta o professor.

Já para nós, seres humanos, a interação com animais selvagens pode acarretar acidentes, uma vez que a espécie pode se sentir ameaçada e reagir de maneira agressiva. Eles também podem transmitir doenças zoonóticas. Um exemplo é a febre maculosa, transmitida pelo carrapato-estrela, comum em capivaras, cavalos e mulas.

Para reverter essa situação, Thiago destaca que é crucial adotar estratégias de conservação e manejo adequadas da fauna urbana. “Essas ações incluem a preservação de áreas verdes, implementação de corredores ecológicos, educação ambiental para a comunidade e estabelecimento de medidas para prevenir conflitos entre animais e seres humanos. Além disso, é importante buscar parcerias entre órgãos governamentais, ONGs, e a comunidade local para desenvolver e implementar políticas de conservação eficazes”, lista.

Na opinião do especialista, “a criação de áreas de proteção e o manejo adequado dos habitats naturais remanescentes são fundamentais para garantir a coexistência harmônica entre animais silvestres e comunidades urbanas”.

Orientações

Além das recomendações de manter distância e auxiliar o animal a voltar para o seu habitat natural, alguns cuidados devem ser observados: a espécie, se está ferido ou se é um filhote.

Caso a espécie encontrada seja uma cobra ou um morcego, o morador deve ligar, respectivamente, para o Corpo de Bombeiros (193) e para a Zoonoses (15 3229-7333). Se o animal encontrado estiver machucado, ou se for um filhote que se perdeu da mãe, a Polícia Ambiental deve ser acionada, pelo telefone (15) 3238-2050.

(Beatriz Falcão - programa de estágio)