Galinha-d’angola reduz escorpiões, mas pode provocar problemas
Ave atrai mosquito que transmite a leishmaniose, explica biólogo
A soltura de galinhas- d’angola ajuda no controle de escorpiões em locais com infestação de aracnídeos, mas não os erradica. A afirmação é do biólogo Marcelo Augusto Saragossa, de 31 anos, especialista em animais silvestres e controle de pragas urbanas. De acordo com o profissional, inclusive, a criação desse tipo de ave em áreas urbanas não é indicada, porque ela atrai um mosquito transmissor de doença.
Em Sorocaba, o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) estuda a possibilidade de soltar aves da espécie nas escolas municipais. Ele fez um anúncio nas redes sociais após uma aluna de 4 anos do Centro de Educação Infantil Dona Zizi de Almeida ter sido picada por um escorpião. O caso aconteceu na terça-feira (9).
Segundo Saragossa, as galinhas têm hábitos diurnos, quando se alimentam e se reproduzem. Os escorpiões, por sua vez, são noturnos e saem para procurar alimento nesse período. Apesar das diferenças de comportamento, a ave, por suas características silvestres, tende a caçar, com afinco, os alimentos da sua cadeia alimentar, como escorpiões.
Com isso, mesmo que os aracnídeos se escondam em lugares difíceis, a galinha consegue, muitas vezes, encontrá-los. Assim, ao comê-los, ajuda a reduzir a população do animal peçonhento. “Mas não que ela seja (criada) especificamente para comer o escorpião”, explicou o biólogo. Isto é, a espécie não elimina totalmente os escorpiões.
Saragossa informa que a erradicação só é possível com a retirada dos abrigos do animal. Para tanto, deve-se manter as áreas sempre limpas, com o mato roçado, assim como sem entulho ou lixo. A dica também vale para redes de esgoto. Isso porque, de acordo com o especialista, as baratas, principal alimento do aracnídeo, vivem justamente em matagais e em meio à sujeira devido à umidade. Por isso, a higienização elimina os criadouros desses insetos e, consequentemente, deixa o escorpião sem alimento. Dessa forma, ele tende a desaparecer. “Isso vai ajudar 100%”, afirmou o especialista.
Ainda, conforme ele, as condições desses ambientes também favorecem a reprodução do animal peçonhento. “Ainda mais porque o escorpião faz partenogênese, que é (o fato de) a própria fêmea conseguir se reproduzir sem o macho. Então, se tem alimento, ela vai se reproduzir mais facilmente, mesmo com a ausência do macho”, disse.
Doença
De acordo com Saragossa, a galinha não propaga doenças, mas atrai o mosquito-palha, transmissor da leishmaniose (infecção por parasitas). O inseto, completa ele, tem facilidade para sugar o sangue da ave. Com isso, obtém alimento e consegue se reproduzir mais facilmente e, também, usa as fezes das aves como abrigo para depositar seus ovos. A partir dessas condições favoráveis, “ele vai transmitir a leishmaniose, por meio da picada, para cachorros e seres humanos”, elucidou. “Então, não é a galinha. Ela só ajuda a dissipar a doença”.
Esse é um dos motivos pelos quais não se indica a criação de galinhas em áreas urbanas e residenciais, conforme o biólogo. “Ela pode ter uma certa eficiência, mas, por outro lado, também pode prejudicar.”
Diferenças
O biólogo detalha que, além da aparência, a galinha-d’angola se difere das espécies poedeiras pelo comportamento. Segundo ele, enquanto a espécie africana mantém suas características silvestres, a exemplo do hábito de caçar, a poedeira perdeu esse instinto, por conta da domesticação. Os hábitos alimentares também são diferentes. Enquanto a poedeira come, principalmente, farelo e sementes, a ave d’angola tem os aracnídeos e insetos no topo da sua cadeia alimentar. “Pelo porte ser maior, para ela (galinha d’angola), são alimentos que sustentam muito mais”, detalhou Saragossa.
O Cruzeiro do Sul questionou a Vigilância Sanitária Municipal sobre os inconvenientes apontados pelo biólogo Marcelo Augusto Saragossa para a criação de galinha-d’angola em ambiente urbano, porém, não recebeu retorno até o fechamento desta edição.
Veja o que fazer em caso de acidente
Em caso de acidente com escorpião, a Secretaria da Saúde (SES) de Sorocaba orienta o munícipe a procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS), Pronto Atendimento (PA), Unidade Pré-Hospitalar (UPH) ou Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Na consulta, o médico vai avaliar cada caso e definir a conduta correta a ser adotada. Crianças menores de 10 anos devem ser levadas diretamente para o Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS). A unidade é referência para atendimento de acidentes com animais peçonhentos e, por isso, possui o soro antiescorpiônico.
De acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas de picada por escorpião são dor no local, sensação de formigamento, vermelhidão e suor excessivo.