Maternidade é um processo de aprendizado, não tem manual
“A partir do momento que cortou o cordão umbilical, vemos, nas histórias bíblicas, nos livros religiosos, que a mãe, Maria, acompanhou o filho dela, Jesus, toda a gestação, nascimento, e por toda a vida dele, até ele se findar na cruz”. O ginecologista e obstetra David Vinicius Davida cita a passagem bíblica para mostrar que a maternidade é um processo contínuo, no qual nem tudo sempre sairá como o esperado. Embora dê o seu melhor, a mãe pode — e provavelmente vai — enfrentar diversas dificuldades na criação do filho.
Segundo o médico, os desafios começam até antes do nascimento da criança, já na descoberta da gravidez. Ele diz que é normal a mulher sentir medo, insegurança e ansiedade, pois ela vai entrar em uma fase desconhecida. Depois, vêm os sintomas físicos da gestação e, em alguns casos, possíveis complicações. Mais para o final, surge o receio do parto e esse sentimento aumenta quando ele chega, por conta das dores que gera. As mulheres ainda precisarão encarar as transformações corporais durante e após a gravidez.
Quando o bebê nasce, as demandas intensificam-se, afinal, os pais passam a ter um bebê para cuidar e formar enquanto ser humano. Conforme o especialista, é comum ver mães, especificamente, cobrando-se para tentar tornar esses processos perfeitos. Porém, isso não é possível, uma vez que, enquanto humanas, elas podem cometer falhar na educação e na criação dos filhos. “E isso é normal! A educação não é uma coisa que segue uma cartilha e dá tudo certo”, frisa.
De acordo com Davida, ajudar uma criança a desenvolver-se exige muito dos pais, porque, conforme elas crescem, as responsabilidades deles aumentam. Muitas vezes, a maioria dessas demandas recai sobre as mães. Com isso, elas tendem a se sentir na obrigação de ser materna de forma perfeita, atendendo, sozinhas, a todas as demandas dos filhos e sem qualquer possibilidade de errar. Mas, isso não é possível, pois, segundo o médico, além de a maternidade não ser linear, várias mulheres precisam conciliá-la com outras áreas da sua vida. “A grande dificuldade é que o grau de exigência da mãe na criação dos filhos chega a 12,15 e, às vezes, a 24 horas por dia”, diz. “Ela precisa encarar o dia a dia, enfrentar as dificuldades do trabalho e, também, tem a criança”.
Em razão desses fatores, Davida aconselha as mulheres a exigirem menos de si mesmas e a encontrar um denominador entre as suas expectativas e aquilo que é passível de ser aplicado na prática. Ele ainda orienta cada uma a desenvolver o seu próprio jeito de maternar, em conformidade com a sua realidade, sem se comparar. Isso porque, ao contrário do discurso romantizado, não existe um modelo ideal de maternidade. “Tem de saber ter equilíbrio e tentar fazer o melhor possível dentro das limitações”, reforça.
Conforme o especialista, caso não busque esse equilíbrio, devido ao excesso de autocobrança e da sobrecarga, a mãe pode ter problemas. Um deles é a dificuldade no relacionamento com outras pessoas, como amigos, familiares e companheiro. Além disso, acaba deixando-se um pouco de lado. “A pessoa esquece dela mesma, de se cuidar, de se alimentar, de dormir bem, de procurar se arrumar, se vestir bem”, comenta Davida.
Auxílio
Para evitar chegar a esse ponto, o ginecologista e obstetra recomenda que a mãe não leve a maternidade sozinha e sempre faça questão de compartilhá-la com o pai da criança, por exemplo. É válido, ainda, buscar auxílio profissional, como de psicólogo, psiquiatra e até psicopedagogo, para enfrentar os desafios. Recorrer a pessoas próximas, a chamada rede de apoio, também é importante, segundo o médico. “É de extrema importância para tentar levar essa jornada da melhor maneira possível”, conclui ele.