Grupo de Sorocaba que participou do resgate do Caramelo salva 36 animais no RS

Os três veterinários e três estudantes atuaram nas enchentes durante uma semana

Por Vinicius Camargo

Com o apoio do Corpo de Bombeiros, Leonardo, Matheus, João, Fábio, Gilse e Talita (não está na foto) resgataram 36 animais no Rio Grande do Sul

“O povo pelo povo sempre vai vencer.” Por carregar essa frase como lema de sua vida, a veterinária Gilse Candreva, de 28 anos, integrante do Grupo de Resgate Técnico de Grandes Animais Brazil (RTA), de Sorocaba, participou das operações de salvamento de animais no Rio Grande do Sul. Também fizeram parte da equipe os veterinários Leonardo Castro, 35, e Talita Carolina Nunes, 29, além dos estudantes de medicina veterinária da Universidade de Sorocaba (Uniso) Matheus Augusto Antonio de Oliveira, 23, Fábio Thut, 26, e João Vitor Marques Antunes, 23. Eles resgataram 36 bichos, de gato a cavalo, durante os sete dias em que ficaram naquele Estado.

Os voluntários foram ao sul no dia 4 de maio, com recursos próprios, e voltaram para Sorocaba no último domingo (12). Segundo Leonardo Castro, coordenador do RTA, nesse período, o grupo retirou um gato, sete bovinos, 12 cachorros e 16 cavalos de áreas alagadas. Um deles foi o cavalo Caramelo, que ficou ilhado no telhado de uma casa. O caso repercutiu em todo o Brasil. Os trabalhos tiveram o apoio do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (CBMESP).

De acordo com Castro, os participantes priorizaram o salvamento de animais de grande porte, pois essas ações são mais complexas. “Resgatar 36 animais é um número que até parece baixo, mas, dentre eles, foram 16 cavalos, e o resgate desse animal é muito mais elaborado, exige muito mais e nós pegamos esses resgates em áreas críticas, que demandam uma logística e uma estrutura muito maiores”. Apesar desse foco, quando também encontravam um animal doméstico precisando de ajuda, eles não hesitavam em agir. “Não deixamos nenhum para trás”, diz Castro.

O veterinário relata que as jornadas de auxílio chegavam a 14 ou 15 horas diárias. Os membros da equipe acordavam às 6h e passavam o dia todo em barcos fazendo a busca ativa de animais. Paravam para descansar somente às 22h ou 23h. Nas operações, encontraram, por exemplo, diversos cachorros nos telhados de casas e cavalos com água até o pescoço.

Segundo ele, quando o RTA deixou o território gaúcho, as demandas de resgate críticos de bichos haviam diminuído e se aproximavam de cessar. Por isso, os profissionais trabalhavam em outras frentes de auxílio, como realocação deles para áreas seguras, tratamento médico, controle de doenças relacionadas à enchente e envio de comida para aqueles que estão em áreas secas, mas isoladas. Ainda conforme Castro, o volume da enchente seguia alto e a chuva continuava, porém, não com intensidade capaz de fazer a água subir mais.

Leonardo Castro conta que se sentiu impotente por ter precisado vir embora, mas, ao mesmo tempo, está grato por ter feito a sua parte. “Além de poder oferecer o nosso conhecimento técnico, oferecemos nossa mão de obra a quem precisa”, fala. “E esse é o nosso lema aqui: ‘Para que os outros possam viver’, é assim que fornecemos os nossos e conhecimentos e a nossa ajuda”.

Segunda vez

Matheus de Oliveira participou do salvamento de animais em uma situação de calamidade pública pela segunda vez. A primeira foi durante a catástrofe causada pelas chuvas em São Sebastião, no litoral paulista, em 2023. De acordo com ele, os membros ficaram em um hospital cuidando de bichos desabrigados. No Rio Grande do Sul, foi diferente, pois eles estiveram envolvidos diretamente no resgate.

Matheus ainda ajudou de várias outras formas, “onde precisava”, como no descarregamento de caminhões de feno. Ele auxiliou, inclusive, na retirada de uma idosa de um local cheio de água. Para o jovem, o momento mais desafiador foi o socorro de Caramelo. “Tinha que dar certo, porque era a única chance”. Em segunda lugar, vem o fato de ver espécies e mortas e não poder fazer nada. Ele relata que a situação o entristecia, mas precisava encontrar maneiras de superar o abalo rapidamente; afinal, com o trabalho contínuo, abater-se por muito tempo não era uma opção. E o lado profissional tinha de se sobressair ao emocional. “Não tinha como eu parar para chorar pelo que está morto, porque tinha outro vivo e precisando de ajuda ali na frente”, lembra.

Trabalho importante

Gilse Candreva não estava na linha de frente, mas teve uma função igualmente essencial. Na sua primeira contribuição em operações de resgate, ela ficou na cidade de Itapema, em Santa Catarina, estado vizinho do RS. Lá, se encarregou de receber e encaminhar os pedidos de salvamento aos colegas, direcionando-os logisticamente. A veterinária também foi a responsável por levar água, barco, gasolina, motor e outros itens para os demais integrantes do RTA. “Todo mundo, todos os trabalhos são importantes. Para um acertar, (ele) tem que ter um suporte”, aponta.