Há 40 anos, sem internet, a opção era ir a campo

A urna eletrônica também não existia, e a ansiedade dos candidatos ficava em cada cédula a ser apurada

Por Vinicius Camargo

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Há 41 anos, quando não havia internet para os candidatos fazerem as suas campanhas, a saída era ir a campo para falar diretamente com os eleitores e tentar conquistar o voto deles. A urna eletrônica também não existia. Com isso, quem estava na disputa por cargos políticos precisava segurar a ansiedade até cada uma das cédulas ser apurada. Flávio Chaves, ex-prefeito de Sorocaba mais antigo ainda vivo, aponta que, de lá para cá, outra mudança importante foi na maneira como a população participa da vida política da cidade.

Nascido em Casa Branca, no interior de São Paulo, Flávio Chaves veio para Sorocaba com a família quando tinha 1 ano de idade. Aos 7, pichou o muro da casa dele uma frase profética: “Flávio Chaves, prefeito de Sorocaba”. Apesar da confiança, ele não esperava que, anos mais tarde, aos 33, o seu sonho se realizaria.

Flávio entrou para a política sorocabana ao ser eleito vereador. Depois, exerceu mandato como deputado federal. O desejo de ocupar o cargo de chefe do Executivo materializou-se entre março de 1983 e fevereiro de 1989. Atuou, também, como presidente da Caixa Econômica Federal e deputado estadual.

Filiado ao PMDB, ele foi eleito para a prefeitura em 18 de novembro de 1982, com 50.558 votos dos 127.020 considerados para prefeito. O jornal Cruzeiro do Sul, do dia 19 daquele ano, apresentou o resultado da eleição na primeira página: “Juiz Eleitoral proclamou o resultado das eleições”, dizia o título da matéria.

O vencedor disputou a prefeitura com outros sete candidatos: Armando Pannunzio, 2º colocado, com 25.342 votos; Agrário Antunes (PTB), 3º com 17.294; Fausto Carneiro (PT), 4º com 12.507; Osvaldo Duarte (PTB), 5º com 2.216; Edward Frufru Marciano da Silva (PTB), 6º com 1.957; e Nelson Benites (PDT), 7º com 471 votos.

De acordo com Flávio, na época, a eleição tinha apenas um turno. Se houvesse empate, ganhava o candidato mais velho. O resultado da votação demorava cerca de 48 horas para sair. Embora ainda lenta, a divulgação já havia avançado em relação a 1947, quando Gualberto Moreira (PTB) foi o primeiro prefeito eleito por voto popular na cidade. Na ocasião, a definição do pleito levou cinco dias. O Cruzeiro falou sobre a eleição de Moreira na edição do último domingo (26).

Campanha e participação na política

Assim como a eleição, o ex-prefeito conta que a forma de fazer campanha era mais “primitiva”. Sem mídias sociais, a maneira eficaz de obter os votos da população era ir até ela, por meio de ações de campanha presenciais, a exemplo de comícios. Apesar de a televisão já existir, segundo Flávio, os candidatos tinham pouco ou nenhum espaço nesse meio de comunicação. Os jornais permitiam apenas a veiculação de propagandas pequenas, com valores altos. O rádio era o grande aliado de quem disputava as eleições, mas, ainda assim, não tinha a mesma eficiência do “boca a boca”. “Era uma campanha mais braçal”, resume ele.

Contato pessoal também era o principal meio de relacionamento entre o chefe do Executivo e a população. Para saber as demandas da população e apresentar as ações do governo municipal, Flávio Chaves criou o programa o Povo na Prefeitura. Nessa iniciativa, ele recebia, semanalmente, munícipes para conversar. Agora, com as redes sociais, esse processo ficou mais fácil. “Hoje, é muito mais transparente. Os governos têm uma visibilidade muito maior dos seus atos, porque as mídias sociais estão 24 horas funcionando e repercutindo as ações e os resultados” analisa.

Enchente foi um ‘batismo de fogo’

 Flávio Chaves lembra que no seu mandato como prefeito teve dois momentos mais marcantes. O primeiro ainda nos primeiros dias do seu governo, quando uma enchente devastou a cidade. Segundo ele, a água destruiu, inclusive, os sistemas viário e de abastecimento, sendo necessário reconstruí-los. “Foi um desafio muito grande logo de cara, um ‘batismo de fogo’”, fala.

À época, ele também precisou quintuplicar o volume de captação de água da represa de Itupararanga devido ao aumento populacional. De acordo com o ex-prefeito, a medida foi necessária para garantir a continuidade do abastecimento na cidade naquele momento e no futuro. 

 

EU VOU VOTAR!

O empresário Luiz Arjuna, de 69 anos, sempre vota nas eleições, sejam elas municipais ou gerais. O munícipe vai às urnas neste ano por considerar cada voto essencial para garantir a escolha daqueles candidatos que, aparentemente, vão realmente realizar ações em prol da cidade. Para ele, quem vota tem aval para exigir dos eleitos o cumprimento de promessas de campanha. “Se não votamos, não temos o direito de cobrar. Como você vai cobrar se não fez o seu papel de cidadão?”, indaga.

De acordo com Arjuna, a segurança pública é a principal demanda atual de Sorocaba. Vendedor de sobras industriais, ele já teve a sua empresa furtada duas vezes. Arjuna aponta o aumento do policiamento e de rondas da Guarda Civil Municipal (GCM) como uma medida essencial para reduzir a criminalidade. “Tem de pôr mais efetivo nas ruas”.

O ferramenteiro Alan Cristian da Silva Moraes, de 20 anos, vai participar de um pleito municipal pela primeira vez. Para ele, votar significa uma chance de trazer melhorias para a cidade e para a população. “Nós mesmos vamos ser beneficiados.”

Moraes acredita que o foco dos novos governantes municipais deve ser investir na geração de empregos. “Tem muita gente desempregada”, diz. Conforme o rapaz, o Poder Público precisa pensar, sobretudo, em ações para a inserção dos jovens no mercado, porque eles enfrentam mais dificuldades para conseguir o primeiro trabalho.