Comerciantes se afastam do Centro e passam a investir nos bairros

Falta de estacionamento e aluguel caro são alguns dos problemas frequentes na região central

Por Cruzeiro do Sul

De acordo com o Creci-SP, taxa de vacância no Centro de Sorocaba está acima da média do Estado; tempo médio de realocação é de três meses

O centro de Sorocaba e seus arredores apresentam um cenário preocupante: um número crescente de imóveis com placas de “aluga-se”. Especialistas dizem que há diversos fatores para isso se tornar cada vez mais “comum”. Concorrência acirrada e falta de lugar para estacionar são algumas das causas. Ao mesmo tempo, no entanto, alguns bairros seguem caminho inverso, vivendo um período de aquecimento das atividades comerciais e aumento do setor de serviços.

De acordo com Luiz Fernando Chaves, assessor do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), a taxa de vacância de imóveis comerciais em Sorocaba está acima da média do Estado. A entidade não detalha os números, mas informa que o tempo médio de realocação dos espaços é de cerca de três meses.

Para o Creci-SP, o crescimento do comércio eletrônico tem impactado o varejo físico. “Consumidores migram para compras on-line em busca de praticidade e preços competitivos, colocando em xeque a viabilidade de alguns estabelecimentos”, explica Chaves.

A saturação de determinados segmentos também contribui para o aumento da vacância. “Em áreas com excesso de lojas do mesmo tipo, a concorrência se torna acirrada, dificultando a rentabilidade e levando ao fechamento de alguns comércios”, relata o assessor do Creci-SP. Ele também entende que a falta de vagas de estacionamento, especialmente na área central, é outro fator que afasta os clientes, impactando negativamente o desempenho dos negócios.

Falta incentivo

De acordo com o diretor de Relações Públicas da Associação Comercial de Sorocaba (Acso), João Guariglia, a concorrência do mercado eletrônico “nada tem a ver com o fechamento do comércio de rua”. Sobre a questão de estacionamento, “sim, tem a ver”, opina. Com a experiência de quem possui estabelecimento comercial no centro de Sorocaba há décadas, ele diz que é preciso dar funcionalidade ao sistema da Zona Azul, para que os clientes tenham onde estacionar seus veículos.

Quanto ao grande número de imóveis comerciais fechados ou que estão fechando no centro da cidade, Guariglia ressalta que é por “falta de incentivo do poder público, tanto para novos comércios como para a continuidade dos já estabelecidos”. Sobre o tipo de incentivo, ele cita menores taxas do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e do Imposto Sobre Serviços (ISS). Além disso, destaca o péssimo visual e a atuação dos ambulantes, que “afastam lojistas e possíveis novos locatários”.

O alto valor dos aluguéis e a falta de segurança são outros problemas enfrentados pelos comerciantes do Centro. “Também faltam atrativos para a população ir ao Centro no período noturno e nos finais de semana, tais como visitas guiadas a prédios históricos, eventos na praça central, festas — como a da cerveja —, food trucks e desfiles”, sugere Guariglia, acrescentando que “o poder público é o principal instrumento para essas realizações”.

Bairros na contramão

Apesar do cenário desafiador para os comerciantes do Centro, há bairros e avenidas que estão experimentando um momento de crescimento. Segundo o Creci-SP, locais estratégicos, com maior fluxo de pedestres e infraestrutura adequada, têm se mostrado atrativos para investidores e empreendedores que buscam estabelecer negócios em Sorocaba. As ruas Pedro José Senger, na Vila Haro, e Antônio Fernandes (Jardim Gonçalves) e a avenida Coronel Nogueira Padilha (Vila Hortência) são exemplos positivos de expansão comercial, de acordo com os próprios empreendedores locais.

Segundo o comerciante Mário Rafael, a “Nogueira Padilha concentra muitas lojas; muitos lojistas procuram espaço para abrir ou expandir uma loja, desde padarias e borracharias... o que for. Aqui cresce cada vez mais”, comemora.

Trabalhando em uma empresa no Jardim Gonçalves, a vendedora Elóa Cristina Araújo conta que “percebe o crescimento do comércio — embora muitas fechem”. “Há também lojas que abriram aqui no bairro há algum tempo e muitas pessoas trabalham home office, que são as lojas on-line”.

A comerciante Eli Carolina Fulan tem a mesma opinião. O comércio em que trabalha está instalado há 13 anos no Jardim Gonçalves. “Sou proprietária da loja há seis anos, no mesmo ponto. Aqui é uma rua com bastante comércio. Agora, com a vinda do Supermercado Confiança, ficou mais movimentado ainda. Além disso, tem muitos condomínios na redondeza, aqui é um bairro para comércio, eu acho bem promissor,” explicou.

Caroline de Oliveira Cuba, proprietária de uma loja instalada há quatro anos na rua Pedro José Senger, comentou sobre a expansão do comércio: “O movimento de veículos aqui é o dia inteiro, e tem muita gente a pé também. Tem o mercado, que também nos favorece bastante. Acho que está melhor que o centro da cidade”. (João Frizo - programa de estágio)