Peabiru desperta interesse turístico
Governo de São Paulo assinou protocolo para valorização da rota indígena que passa pela região
O antigo caminho do Peabiru passa por municípios da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), entre eles Sorocaba, Iperó, Araçoiaba da Serra e Porto Feliz. O governo de São Paulo, por meio da Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (Setur-SP), assinou no dia 21 de junho um protocolo de intenções com a Dakila Pesquisas para o desenvolvimento dos Caminhos do Peabiru, a rota transcontinental indígena criada antes da colonização dos europeus, que ligava o oceano Atlântico ao Pacífico.
A partir da assinatura, o Estado de São Paulo e a associação Dakila mapearão as informações culturais e científicas a fim de criar oferta de rota turística, incluindo atrações históricas, de aventuras e turismo de contemplação. “O projeto prevê também o incentivo à adoção de tecnologias e inovação para apoiar a sustentabilidade no turismo e a promoção de ações de sensibilização e divulgação da Rota do Peabiru no Estado”, comentou a responsável por pesquisas da Dakila Pesquisas, Fernanda Lima.
A extensão do Peabiru em São Paulo é de aproximadamente 5 mil quilômetros, contando-se com ramais.
“Estamos resgatando a história dos povos originários do Brasil. O turismo paulista abraça e desenvolve, junto à Dakila e outros parceiros que virão a partir deste protocolo de intenções, um rico programa turístico. É uma importante parceria para o governo de São Paulo porque visa inúmeros benefícios para a região e fortalece o turismo em, pelo menos, três segmentos”, comenta o secretário de Turismo e Viagens, Roberto de Lucena.
Descoberta
A 60 km da capital paulista, entre os municípios de São Lourenço da Serra e Juquitiba, o pesquisador e presidente da Associação Dakila Pesquisas, Urandir Fernandes de Oliveira, localizou em uma região da Serra do Mar, perto da BR-116, trecho do Peabiru, marcado pela grama “puxa tripa” e com os silos que continham alguns alimentos e água nos quais os caminhantes se abasteciam e descansavam para continuar a jornada.
Os trechos do caminho que passam pela RMS incluem áreas de municípios como Sorocaba, Iperó, Araçoiaba da Serra, Porto Feliz e outras localidades próximas. “Esses trechos são caracterizados por paisagens naturais, trilhas antigas e vestígios históricos que remontam à era pré-colombiana. Especificamente, um dos trechos mais significativos está localizado entre as cidades de Sorocaba e Porto Feliz, onde é possível encontrar resquícios de trilhas e marcos históricos que foram utilizados pelos povos indígenas”, esclarece Oliveira.
Algumas das trilhas do Peabiru passavam pela atual área urbana de Sorocaba. Ao iniciar-se o povoamento, acabaram por se converter em ruas e, mais recentemente, em avenidas. Antes disso, esses caminhos foram também utilizados pelos bandeirantes, assim como pelos tropeiros que conduziam muares xucros até Minas Gerais.
Segundo informações do arqueólogo Wanderson Esquerdo, “a trilha principal passava pelo bairro Aparecidinha, em direção a Sorocaba, seguindo a margem do rio Sorocaba até a rua Padre Madureira; desembocava na avenida São Paulo e, depois de cruzá-lo, seguia pelas atuais ruas 15 de Novembro e São Bento, praça Carlos de Campos, ruas 13 de Maio, da Penha e Moreira César, praça 9 de Julho, avenidas General Carneiro e Luiz Mendes de Almeida, e daí em diante pela Estrada do Ipatinga”.
Esquerdo observa que “ainda no traçado urbano atual havia trilhas secundárias em direção a diferentes pontos de Sorocaba e região: a estrada da Caputera (rua Pedro José Senger), Salto do Votorantim (início da rua Coronel Nogueira Padilha, ruas Newton Prado e Campos Sales) e Vossoroca (rua Artur Gomes, avenidas Barão de Tatuí e Antonio Carlos Comitre)”. Havia dois caminhos, quase paralelos, em direção ao morro do Araçoiaba: um pelas ruas Souza Pereira, Hermelino Matarazzo e avenida Ipanema, bifurcando-se em direção ao morro e ao bairro Itavuvu; outro pela praça Coronel Fernando Prestes, ruas Cel. Benedito Pires e Francisco Scarpa, praça da Bandeira e avenida General Osório.
História
Da presença e da passagem pela região desses povos primitivos e nômades, classificados como índios Tupiniquim, do grande grupo Tupi, restaram principalmente os nomes por eles dados aos diferentes locais que percorreram ou nos quais se fixaram por algum tempo. “Eles levam sempre em consideração algum aspecto relevante da geografia, o que permite saber, a partir de estudos linguísticos, como era a vegetação, o relevo, a rede hídrica e o solo da região antes da chegada dos povoadores. Muitos desses topônimos, embora tenham sofrido alguma alteração ao longo do tempo, chegaram aos dias de hoje e identificam cidades, bairros, vegetação e acidentes geográficos”, explica Wanderson Esquerdo. “Um que utilizamos diariamente é Sorocaba que, dado ao rio, passou depois ao sítio — ou paragem — povoado por Baltazar Fernandes.
Entre os bairros do município, são designados por topônimos indígenas os do Cajuru (boca do mato), Caguaçu (mato grande), Ipanema (água ruim), Itavuvu (pedra chata grande), Iporanga (água bonita), Itupararanga (salto barulhento ou estrondeante) e Jurupará (garganta do rio). O distrito do Éden já se chamou Pirajibu (rio do Peixe).
“O que há são só estudos sobre o assunto. E trata-se de uma rede de caminhos terrestre-fluviais que não existem mais como tal, pois já foram substituídos pelas vias modernas, no referente às trilhas terrestres. As que ainda se conservam são aquelas pertencentes ao sistema vila inca e pré-inca”, diz Esquerdo.
“A maior parte da informação é teórica, e se estima sua existência entre os sítios arqueológicos tupi-guarani que eram conectados por caminhos”, aponta o arqueólogo. (João Frizo - programa de estágio)