Acidentes com morte no trabalho crescem 150%
No primeiro semestre deste ano, Sorocaba teve 20 ocorrências. No mesmo período do ano passado, foram 8 óbitos
O número de mortes por acidentes de trabalho em Sorocaba aumentou 150% no primeiro semestre deste ano, comparado com o mesmo período de 2023. Até o momento, a cidade registrou 20 casos, 12 a mais do que o ano passado. De acordo com Ubiratan Vieira, chefe regional do Setor de Inspeção do Trabalho (Seint) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), as principais causas estão relacionadas com a ausência de técnicos de segurança e de equipamentos adequados, além de jornadas de trabalho excessivas.
“Normalmente, os empregadores enxergam a segurança como um custo, mas é um investimento”, afirma Vieira. “Quando um trabalhador perde a vida, o prejuízo é da família, que perde um irmão, um pai ou um marido. No entanto, a empresa também perde, porque terá uma série de problemas com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e um custo maior na folha de pagamento”.
Somente nos 15 primeiros dias de julho, três mortes aconteceram em decorrência de acidentes de trabalho. Na primeira, no dia 4, um jovem de 24 anos morreu após sofrer uma descarga elétrica de 10 mil volts enquanto prestava serviços elétricos em uma residência. O segundo óbito aconteceu no dia 12, em uma pizzaria, na zona oeste de Sorocaba, quando as cordas de um elevador de carga se romperam e atingiram um funcionário, de 24 anos também. O terceiro óbito foi registrado na quarta-feira (17). Um operário teve uma queda maior que 20 metros em uma construção na Vila Gabriel.
“O principal descuido é a ausência de uma Comissão Interna de Prevenção de Acidente (Cipa) atuante, que a maioria das empresas devem ter. No caso da obra, o técnico poderia ter verificado se o guincho estava instalado corretamente e evitado um acidente”, aponta Ubiratan.
Jornadas de trabalho extensas também são um erro considerado terrível pelo chefe regional do Setor de Inspeção do Trabalho. “Sem o devido descanso, o trabalhador está mais passível a acidentes, principalmente em metalúrgicas e na construção civil. A atenção não é a mesma, uma pessoa muito cansada perde a noção do tempo e da direção”, acrescenta.
Além disso, Ubiratan ainda cita a falta de preparo para primeiros socorros e incêndios. Segundo ele, apenas 10% das empresas de Sorocaba possuem treinamento contra acidentes com fogo.
“O empresário precisa entender que investir em segurança do trabalho representa mais lucro para a empresa, para o Brasil, para o funcionário e sua família. No entanto, apenas lembram que é um investimento quando o trabalhador está no chão morto ou mutilado”, finaliza Vieira.
Orientações
Os trabalhadores devem estar atentos às condições impostas pelos empregadores. Ubiratan Vieira recomenda que, ainda na primeira entrevista, sejam feitas perguntas sobre os antecedentes do local, se já aconteceram acidentes e mortes.
“E caso ele perceba que as condições não estão boas, deve denunciar. Muitos ficam com medo de ser demitidos, mas existem várias formas de manter o anonimato”, esclarece o chefe regional. “Um parente pode denunciar a empresa e o próprio funcionário pode denunciar e manter o anonimato, por meio de e-mail e disque-denúncia. Além disso, nós somos obrigados a manter o sigilo”.