Criminosos diversificam golpes contra idosos
Pessoas mais velhas que passaram a usar meios digitais com frequência são alvo de estelionatários
O Disque 100, canal do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH) para denúncias de violações de direitos humanos, recebeu 95 queixas de Sorocaba sobre golpes contra idosos entre janeiro e junho de 2024. O número caiu 5% em relação ao mesmo período de 2023, quando houve 100 queixas. Apesar da queda, a Polícia Civil informa que, como estão mais familiarizados com a tecnologia, os idosos figuram entre os principais alvos de criminosos. Por isso, os cuidados contra fraudes continuam indispensáveis.
Segundo o delegado Felipe Marino Orosco, assistente do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter) 7 e da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), há três golpes frequentes em Sorocaba e região. O principal é o da troca do cartão. Nele, um falso funcionário de banco liga para a vítima e informa uma suposta clonagem do cartão bancário. Ele ainda diz que alguém passará na residência para recolhê-lo e, depois, outro cartão será enviado. Após o idoso entregar o cartão, os golpistas fazem diversas compras.
Outra fraude comum é a da mudança do número de WhatsApp. Nessa modalidade, o criminoso cria um novo contato — geralmente, com a mesma foto e DDD — de um familiar da vítima, geralmente filho ou neto. Fingindo ser o parente, o estelionatário a contata, comunica a suposta troca de número e pede dinheiro para resolver algum problema urgente.
Há também o chamado golpe da mão fantasma, que consiste em ligações bancárias fraudulentas anunciando o hackeamento de contas ou compras suspeitas. Conforme Orosco, quadrilhas especializadas nesse delito costumam, inclusive, adotar os mesmos jingles e formas de transferência de chamada usados por instituições financeiras. Os bandos orientam quem está do outro lado da linha a seguir os passos para resolver os problemas. Ao cumprir as orientações, sem perceber, a pessoa instala um aplicativo que permite aos criminosos ter acesso ao celular. “E, aí, o criminoso acaba operando o aparelho a distância, notadamente entrando nas contas bancárias e transferindo valores”, descreve o delegado.
De acordo com Orosco, esses crimes são praticados com o uso da engenharia social. Trata-se de uma técnica de manipulação psicológica para execução de ações, obtenção de informações privadas, acessos ou itens de valor. “O criminoso constrói uma história que demanda que o idoso responda de maneira muito rápida, que ele não tenha prazo para reflexão”, explica o delegado. As narrativas mais comuns, acrescenta ele, são sobre acidentes ou a necessidade de pagamento de contas atrasadas, para evitar prejuízos maiores.
A pressão para rápida resposta é justamente o principal sinal de alerta. Caso perceba esse comportamento, o idoso deve tentar acionar o familiar que supostamente entrou em contato, pelos meios habituais. Outra opção é contar, imediatamente, para um parente de confiança sobre a mensagem ou ligação recebida. Orosco não recomenda ligar diretamente no número do contatante, pois criminosos até empregam Inteligência Artificial (IA) para deixar vozes muito parecidas ou idênticas às de outras pessoas.
Famílias precisam alertar e dar orientações, diz delegado
O delegado Felipe Marino Orosco diz que, durante a pandemia de Covid-19, o uso da tecnologia pelo público da terceira idade cresceu. Com o fechamento dos bancos e casas lotéricas, por exemplo, os mais velhos precisaram aprender a fazer transações, como pagamentos, virtualmente. E os golpistas passaram a se aproveitar dessa mudança de comportamento para cometer os crimes. “Conforme (os idosos) tem maior interação com esses recursos tecnológicos, consequentemente aumenta a possibilidade de aplicação de golpes”, observa o delegado.
Por ser mais suscetível, esse grupo precisa de orientação, sobretudo, da família. Orosco aconselha os parentes a conversar com o idoso sobre o modo de agir das quadrilhas e como se resguardar caso desconfie de algo. “A prevenção aos golpes ainda é a melhor medida, a mais eficaz”, diz o delegado.
Outra medida importante é denunciar, abrindo um boletim de ocorrência, para ajudar a Polícia Civil no trabalho de combate a esses golpes. O registro pode ser feito na delegacia mais próxima ou por meio digital (delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br). (V.C.)