Mulheres conquistam espaço nas oficinas mecânicas

Nos últimos anos, o público feminino vem se interessando cada vez mais pelo mundo automobilístico

Por Cruzeiro do Sul

Gabriela conta que achou que não iria conseguir, mas recebeu uma proposta de trabalho com dois meses de curso

As mulheres conduzem veículos tanto quanto os homens, mas por cultura ou tradição a maioria delas não costuma entender de mecânica básica. Por isso, muitas vezes são enganadas por profissionais desonestos. No entanto, nesses últimos anos, o público feminino vem se interessando cada vez mais pelo mundo automobilístico.

Esse é um exemplo da Gabriela Camargo, de 25 anos, mecânica. Desde criança, Gabriela sempre gostou desse trabalho, pois a paixão por cuidar de veículos foi passada de geração para geração. Entretanto, o pai dela não apoiava esse sonho. “Meu pai nunca me deu liberdade de estar com ele na oficina, porque meus pais são separados. Quando eu ia à casa dele, ele não gostava que eu ficasse em um ambiente cheio de homens. Eu tive de caminhar com minhas próprias pernas; não teve iniciativa dele.”

Apesar de não ter apoio familiar, Gabriela decidiu buscar o seu sonho: “Chegou um momento em que eu tive que parar de falar que eu queria e tive que ir atrás.” Foi quando ela se inscreveu na Escola do Mecânico em Sorocaba. Nas aulas, Gabriela era a única mulher. Ela afirma que foi se descobrindo durante o curso e, ao ser questionada se queria se tornar mecânica por funcionárias da escola, Gabriela duvidou da própria capacidade: “Eu achava que não iria conseguir, que não seria possível.” Mas, em dois meses, já havia recebido uma proposta de trabalho em uma oficina. Ao contar ao seu pai sobre a oportunidade, Camargo disse que ele ficou feliz com a novidade: “Hoje em dia, ele diz que é muito orgulhoso.”

Contudo, com Mayra Gonçalves Arambasic Paiffer, de 39 anos, também mecânica, a história foi diferente. O marido inaugurou uma oficina mecânica em 2016 e pediu que ela fosse trabalhar com ele. Mesmo sem conhecimento automobilístico, Mayra decidiu aceitar o desafio e, durante esses oito anos, realizou 98 cursos para estar preparada para o serviço.

Antes de conhecer o marido e aprender sobre mecânica, Mayra relata que sofreu com profissionais desonestos: “Eu precisei arrumar o alternador do meu carro, e o rapaz me disse que precisou trocar a peça, mas depois o mesmo problema voltou a ocorrer. Eu voltei ao lugar, e não tinham mexido no alternador, mas ainda assim cobraram o valor de um novo.”

Além de sofrer preconceito por parte de especialistas, Mayra também lidou com pessoas que não queriam ser atendidas por ela, mesmo depois de já trabalhar há anos como mecânica. “Quando eles chegam e veem que é uma mulher que está atendendo, não querem falar com a gente. Já houve senhores que foram embora para não serem atendidos por mim. Às vezes, temos de ser firmes, impondo que sabemos do que estamos falando.”

Apesar de toda a discriminalização, as mulheres vêm se interessando cada vez mais pelo mundo automobilístico e aprendendo mais sobre mecânica. Gabriela Camargo e Mayra Paiffer são exemplos de como o estudo é importante para esse trabalho: “Para a área de mecânica, diferente do que muita gente pensa, você precisa ter curso.” diz Gabriela. Elas ainda recomendam que mulheres que têm paixão por esse serviço não desistam.“Para mulheres que querem começar nessa área, acho que mecânica básica ajuda muito. Primeiro, comece com um curso e depois se empenhe no trabalho.” diz Mayra.

Ainda, para mulheres que não querem trabalhar com isso, é preciso pensar em imprevistos, para tentar resolver problemas e não ficar parada em uma rua deserta à noite, por exemplo. Gabriela Camargo afirma: “Conhecimento é poder. Todo mundo hoje em dia tem carro e ele precisa de manutenção.” (Lavínia Carvalho - programa de estágio)