Restauro do mosteiro segue indefinido

Obra em prédio histórico no centro de Sorocaba está parada há quatro anos por falta de recursos

Por Vanessa Ferranti

Fachada tem ornamentos raros que sofreram deterioração

 

O Mosteiro de São Bento, localizado no centro de Sorocaba, está com obras de restauração paralisadas há 4 anos e segue sem definição de quando serão retomadas. Além disso, o prédio histórico não tem o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), laudo que atesta condições de segurança contra incêndios em um imóvel. A informação sobre a falta do AVCB consta em um inquérito civil instaurado pelo Ministério Público em 2023 e assinado pelo promotor Jorge Marum. Atualmente, o prédio do mosteiro permanece fechado, com tapumes em volta. No entanto, missas são celebradas na Igreja de Sant’Ana, que faz parte do complexo. Há na Promotoria mais de 200 inquéritos sobre a ausência de AVCB em templos religiosos de Sorocaba.

Conforme o MP, o fluxo de pessoas é pequeno no imóvel, mas por outro lado, o caso é delicado, pois trata-se de um importante patrimônio histórico e cultural da cidade. Reuniões já foram realizadas com representantes do Mosteiro de São Bento sobre o assunto. Agora, o MP aguarda um cronograma de obras para assinar o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre as partes. Essas intervenções estariam sendo alinhadas com o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). O prédio do mosteiro é tombado pelo órgão e também pela Prefeitura de Sorocaba.

Com obras paralisadas desde 2020, quando foram concluídos os trabalhos na Igreja de Sant’Ana, o Mosteiro de São Bento vive um impasse, pois não são divulgadas informações sobre quando os trabalhos de restauração do imóvel devem retomar. Em reportagem publicada em 12 de outubro pelo Cruzeiro do Sul, a Secretaria da Cultura do Estado informou que a conservação do imóvel é dever do proprietário e a Prefeitura de Sorocaba declarou que é responsável pela fiscalização da obra. A Ordem Beneditina, por sua vez, responsável pelo imóvel, não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Já ao MP, conforme consta no inquérito, a defesa do Mosteiro de São Bento declarou que contratou empresa especializada na área de prevenção e combate a incêndios e foi desenvolvido um laudo com a indicação dos pontos necessários e essenciais à obtenção do AVCB. No entanto, até aquela ocasião, a vistoria com o Corpo de Bombeiros ainda não havia sido agendada. A nota reforça, ainda, que o complexo é um imóvel tombado pelo Condephaat, e assim, para a execução de qualquer alteração do prédio, é necessário um estudo e pesquisa histórica com o objetivo de não descaracterizar o imóvel.

O Cruzeiro questionou a Ordem Beneditina e tentou contato por telefone com o advogado do Mosteiro de São Bento de Sorocaba, mas não teve retorno. Já a Secretaria da Cultura do Estado, que responde pelo Condephaat, informou que em junho “os interessados receberam orientações dos técnicos da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico (UPPH) em reunião”, e que “posteriormente, em outubro, a documentação solicitada foi protocolada e agora aguarda análise do setor técnico”.

História

O Mosteiro de São Bento foi fundado em 21 de abril de 1660, após o bandeirante Baltazar Fernandes doar a área aos monges beneditinos. Para colaborar com a preservação, valorização e divulgação do mosteiro, há 20 anos foi criada a Associação Amigos de São Bento, uma entidade voluntária composta por cidadãos. A entidade tem o objetivo de atuar em conjunto com a responsável pelo conjunto arquitetônico, a Ordem Beneditina, poder público e outras entidades que tenham o mesmo objetivo social.

Em entrevista ao Cruzeiro em 12 de outubro, o advogado Lucas Gandolfe, vice-presidente da diretoria da associação, destacou que atualmente o problema para continuar com a restauração é a falta de recursos. Antes disso, em setembro de 2022, o monge beneditino Rocco Fraioli, responsável pelo Mosteiro em Sorocaba naquela ocasião, disse que o restauro foi dividido em partes e não foi concluído por falta de recursos financeiros. Ele declarou que, a princípio, foi realizada uma intervenção emergencial no prédio. Os telhados com vazamento foram reparados e o local passou por uma “descupinização”. Após essa etapa, os recursos foram concentrados na Igreja de Sant’Ana.

Naquela ocasião, o monge disse, também, que para finalizar toda a reforma faltavam alguns reparos na parte elétrica, hidráulica, além da recuperação de lugares que estavam mais danificados, porém essa parte da restauração só seria realizada quando o Mosteiro conseguisse o valor necessário naquela época, cerca de R$ 900 mil, para a recuperação da fachada do prédio, e assim, concluir todos os trabalhos.

Em breve conversa com dom Inácio Moisés Caciagli, responsável atualmente pelo Mosteiro, o monge informou que prefere não se manifestar, pois o local é dependente da Ordem Beneditina. Ele mencionou ainda que entrará em contato quando houver novidades sobre as obras. (Vanessa Ferranti)