Enchentes causam prejuízos e traumas
Moradores da região do Jardim Maria do Carmo lamentam as perdas e pedem providências à prefeitura
As enchentes ocorridas este ano em Sorocaba causaram prejuízos de mais de R$ 20 mil por família aos que tiveram as residências alagadas.
Uma das regiões mais prejudicadas é o Jardim Maria do Carmo, no entorno do Parque das Águas, zona norte.
Quem reside nesta localidade ainda se recuperava dos transtornos causadas pelas chuvas de janeiro quando, no fim de semana passado, foi novamente surpreendido pela inundação. Agora, as pessoas prejudicadas tentam organizar as casas e recuperar os prejuízos.
O empresário Francisco Ferraz, por exemplo, que mora na rua Antônio Gomes, Jardim Marco Antônio, estima que perdeu cerca de R$ 20 mil em equipamentos e alimentos somente neste ano. Entre os pertences danificados estão diversos livros, geladeira e móveis. No entanto, para ele, os danos físicos e psicológicos são ainda mais graves.
As chuvas afetaram a saúde do empresário e da sua esposa. Ele chegou a ter sintomas de leptospirose, enquanto ela precisou ser medicada para se acalmar durante a enchente de sexta-feira (8) passada.
Francisco Ferraz, inclusive, admite que o pior é o trauma psicológico que os problemas ocasionados pelas chuvas causam nas pessoas. “Quando a gente vê qualquer chuva já fica preocupado, tem de ficar monitorando o rio (Sorocaba) e o Parque das Águas. É muito difícil viver desse jeito, sob pressao”, comenta.
O empresário mora no bairro há 15 anos, mas o seu vizinho, o representante comercial Robson Eduardo César Pinto, se mudou para o local há apenas três semanas. Ele veio de Araçoiaba da Serra, acompanhado pela esposa, para ficar próximo da família. No entanto, a mulher morreu uma semana antes da enchente.
Quando a água entrou na residência de Robson, ele estava dormindo, a base de calmantes. Acordou quando sentiu a água bater em sua mão, que estava para fora da cama.
Além de diversos objetos como geladeira, panelas e armários, o carro de Robson, avaliado em R$ 30 mil, também foi danificado. O veículo, que estava na rua no momento da enchente, foi encoberto pela água e agora não pega mais. “Estou pegando amizade com os vizinhos. Estou em um grupo de WhatsApp e toda vez que chove é esse transtorno, todo mundo se comunicando e vendo a situação”, diz.
Pedem solução
A presidente da Associação de Moradores Amigos do Parque das Águas, Cristina Elias, pede providências aos órgãos públicos competentes. Por isso, no dia 27, ela e outros moradores participarão de uma audiência pública na Câmara de Sorocaba, proposta pelo vereador Ítalo Moreira (União Brasil). O tema: “Parque das Águas: planejamento e ação para um futuro livre de enchentes”.
Cristina diz que todo ano a casa onde mora é a primeira que enche e que isso está causando deterioração ao imóvel. “Antes eram menos ruas, agora são cinco quarteirões. A água entrou dentro da Capela Nossa Senhora do Carmo e estragou muita coisa. Dessa vez foi cruel”, lamenta.
Na tentativa de se proteger e minimizar os prejuízos, os moradores da região buscam alternativas. Cristina, por exemplo, elevou a calçada para que a água não alcance a residência. “Foi feita a rampa, mas a água ainda assim passa por cima.”
Já Robson tem comportas instaladas no quintal, enquanto Francisco, além das comportas, também instalou um alarme que avisa quando o chão da residência tem contato com a água. “É um alarme contra enchente, com uma corneta”, explica.
Outros bairros
Além da região do Parque das Águas, outros bairros da cidade também foram atingidos, como o Jardim Marli, o Jardim Faculdade e o Parque Vitória Régia 2.
Allan Gustavo da Silva Domingues, que mora no Mineirão, alega que perdeu diversos pertences e calcula o prejuízo em mais de R$ 7 mil. “Perdemos dois colchões, geladeira, máquina de lavar, armário, toda compra que estava no armário... Tive de retirar o carro de guincho, mas ainda não consegui levar no mecânico”, relata.
Prefeitura garante que adota medidas de prevenção e pontua os trabalhos
Procurada pelo Cruzeiro do Sul, a Prefeitura de Sorocaba, por meio de nota, informou que presta assistência às famílias que tiveram dano nas casas em razão das fortes chuvas. Acrescenta que as 23 pessoas, de oito famílias, que estavam abrigadas em hotéis parceiros, já retornaram às suas residências.
Além disso, garante que presta atendimento às famílias que tiveram prejuízos materiais, mas não necessitam ser abrigadas em outro local. A orientação, neste caso, é para que encaminhe para o e-mail enchente.secid@gmail.com os seguintes documentos: RG/CPF, comprovante de endereço atualizado, fotos da ocorrência, bem como nome completo e telefone para contato.
A Prefeitura explica também que os prejudicados pelas chuvas podem ser atendidos, presencialmente, na Secretaria da Cidadania — rua Santa Cruz, 116, Centro —, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 16h30. Para tanto, é necessário levar os documentos acima citados.
Outras necessidades, como colchões, água, alimentos, produtos de higiene pessoal e produtos de limpeza também são verificadas, afirma a Prefeitura.
Em relação à avenida 15 de Agosto, a Prefeitura diz que está em andamento um projeto de alteamento da via, na região do Parque Porto das Águas, para minimizar alagamentos, e que obras estão previstas para começar em 2025.
Por sua vez, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) diz que executa serviços voltados à melhoria na rede de drenagem de águas das chuvas e aponta como prioridades os bairros Jardim Sandra, Jardim Faculdade, Jardim Maria do Carmo, Vila Assis, Vitória Régia, Vila Rica e Jardim Marli.
As ações antienchentes englobam também a construção dos Reservatórios de Detenção de Cheias (RDCs) no Jardim Maria do Carmo, Parque Vitória Régia e Parque dos Italianos, que estão em andamento, incluindo diques de proteção, informou a prefeitura.
Paralelamente, o Saae realiza a limpeza dos bueiros, assim como as manutenções preventivas de córregos e bacias de contenção em bairros como: Jardim Paulistano, Jardim Prestes de Barros, Jardim Brasilândia, Jardim Piratininga, Jardim Leocádia, Mineirão, Vila Barão e Vila Mathilde, além das bacias de contenção do Abaeté, Água Vermelha, Campolim, Norcross e rua Panamá (Barcelona).