Gpaci vai aumentar estrutura para dar foco a pesquisas
Centro de estudos para tratamento do câncer infantojuvenil começará a funcionar em fevereiro
O Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci), de Sorocaba, está implementando um Centro de Pesquisa Clínica dentro do hospital. O objetivo é que possam ser desenvolvidas pesquisas em parceria com indústrias farmacêuticas na unidade. O foco serão os estudos sobre a eficácia de novos medicamentos para tratamento do câncer infantojuvenil. As atividades estão previstas para começar em fevereiro de 2025.
Segundo Gustavo Ribeiro Neves, oncologista pediátrico e diretor técnico do Gpaci, hoje o hospital só participa de dois estudos clínicos, devido à falta de estrutura administrativa. Com a inauguração do centro, o envolvimento da unidade nos estudos multicentro — em parceria com outras instituições nacionais e internacionais — será ampliado e aprimorado. “A ideia é tornar o Gpaci melhor do ponto de vista técnico”, diz o diretor técnico.
De acordo com Neves, a unidade está em fase de estruturação em conformidade com as normas técnicas. Em seguida, será pedido o credenciamento junto às farmacêuticas. O centro terá consultórios, salas e um laboratório, com geladeiras, freezers e centrífugas. Duas profissionais que serão responsáveis pelos estudos — uma oncologista pediátrica e uma gestora de pesquisa clínica — já foram contratadas. O diretor técnico, uma enfermeira e uma farmacêutica do próprio Gpaci também vão auxiliar. Com o andamento das atividades, essa equipe pode aumentar.
Neves explica que a iniciativa deve beneficiar diretamente o tratamento dos pacientes, pois será investigada a eficiência de diversos novos medicamentos, aos quais eles terão acesso. “Imagine você aqueles pacientes que passaram pela terceira, quarta linha (de tratamento) e não temos mais o que propor. Com as pesquisas, nessas situações, vamos ter medicamentos novos com os quais, às vezes, conseguiremos efeitos bons no tratamento. São medicamentos que, às vezes, não estão nem no mercado”. Além disso, vários profissionais, do Brasil e do mundo, participarão das discussões dos casos, contribuindo para encontrar a melhor forma de tratá-los.
Outro aspecto positivo será a geração de mais uma fonte de receita para o Gpaci, já que a indústria farmacêutica paga os hospitais pelas pesquisas clínicas. Com essa verba, conforme Neves, o grupo poderá financiar suas atividades como um todo. Para ele, a área de pesquisas em si também deve ser favorecida. “Hoje, poucos hospitais pediátricos têm centro de pesquisa clínica. Então, para nós, vai ser um ponto bacana, porque os laboratórios carecem de centros para fazer isso.”
Os dois estudos já em andamento devem ser favorecidos com a criação do centro. Isso porque haverá melhor estrutura para desenvolvê-los. Um deles, em parceria com uma instituição sediada na Europa, foca em tratamentos para tumores renais. O outro, realizado em cooperação com entidades brasileiras, busca procedimentos mais eficazes para a cura de leucemias agudas.
Como é a preparação para o diagnóstico precoce?
O diretor técnico do Gpaci, Gustavo Ribeiro Neves, informa que as atividades do centro de pesquisa também englobam promover capacitação. Por isso, o curso de diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil foi retomado em 2024. A ideia é torná-lo permanente e realizá-lo pelo menos duas vezes por mês. Os temas abordados são epidemiologia do câncer infantojuvenil; principais sinais e sintomas de alerta; cuidados essenciais durante o tratamento; comunicação da suspeita diagnóstica aos familiares; e encaminhamentos necessários em casos suspeitos.
O principal objetivo do curso é habilitar os participantes a identificar sinais de câncer em estágios iniciais. Segundo Neves, a rápida descoberta é essencial para a cura da doença. No entanto, muitas vezes, o diagnóstico precoce esbarra na falta de conhecimento em oncologia infantojuvenil dos profissionais. Essa lacuna, diz o médico, se deve a uma defasagem na formação nessa área oferecida pelas instituições de ensino. “Hoje, o problema que nós enfrentamos é que ainda tem chegado ao Gpaci uma quantidade significante de casos de forma avançada. E isso é decorrente, principalmente, da dificuldade de profissionais de saúde em suspeitar que alguns sintomas de doenças — que, às vezes, podem parecer infecciosas e de outros tipos — sejam câncer”, ressalta.
Essa preparação é oferecida tanto para trabalhadores da saúde quanto da educação. Embora este último grupo não atue na esfera médica, há um motivo específico para também ser contemplado. “Professores, às vezes, ficam mais tempo com os estudantes do que os próprios pais. Então, vendo fotos e vídeos que mostramos, eles podem observar algum sintoma, pensar que pode ser leucemia e avisar a mãe para levar (o aluno) ao médico. E, se esse paciente chega aqui mais cedo, tem mais chances de se curar”, diz o diretor técnico do Gpaci. (V.C.)