Enchentes começam a fazer parte da rotina de moradores de diversos bairros da cidade
Preocupação das famílias afetadas, principalmente do Jardim Maria do Carmo, Jardim Faculdade e Parque Vitória Régia, fica ainda maior com a chegada do verão
Em um cenário de chuvas intensas e acima da média, enchentes e alagamentos têm se tornado uma triste e dura realidade para muitos sorocabanos. Eletrodomésticos, móveis e até mesmo alimentos são perdidos, gerando um prejuízo imenso para as famílias. Jardim Maria do Carmo, Jardim Faculdade e Parque Vitória Régia são alguns dos bairros mais afetados. Com a chegada do verão, a partir deste sábado (21), a preocupação aumenta ainda mais.
Além do clima quente e abafado, as precipitações são características da estação. Desta forma, muitos já se preparam para futuras enchentes, como o empresário Francisco Ferraz, 60 anos. Residente há 14 anos no Jardim Maria do Carmo, ele enfrenta cerca de cinco alagamentos por ano, mas atesta que este número vem crescendo cada vez mais.
“Em todos esses anos, nunca aconteceu uma enchente em novembro, a primeira vez foi neste ano. Isso só nos deixa mais preocupados. O que será de nós em janeiro?”, questiona. “Minha esposa e eu já temos idade avançada. É complicado ficar erguendo móveis e o prejuízo não é somente financeiro. Quando há previsão de chuva, nós não conseguimos dormir, pois temos medo que a água entre em nossa casa. É uma situação muito difícil.”
A pior situação vivida por Francisco, segundo ele mesmo conta, foi em janeiro deste ano, entre a noite do dia 19 e a madrugada do dia 20. Na ocasião, a água alcançou a altura da mesa e muitos móveis foram perdidos, como armários e cadeiras de escritório, além de alimentos e da geladeira. A pintura do imóvel também foi danificada.
Para amenizar os impactos do alagamento, o empresário colocou comportas nas portas da sala e do corredor com o objetivo de evitar que a água de fora invada a casa. Para tanto, investiu aproximadamente R$ 2 mil em uma bomba. No entanto, mesmo assim o casal continua sofrendo com as enchentes.
“Nós precisamos de mais apoio do Poder Público. Atualmente, o sistema pluvial de Sorocaba não tem eficiência. A maioria dos bairros sofre com alagamentos. É uma situação muito difícil para nós que temos nossas casas e nossos pertences afetados”, comenta. “Não existe sequer um alarme. Descobrimos que está acontecendo uma enchente quando a água chega na nossa porta.”
Dois metros de altura
A autônoma Cristina Dalva de Oliveira Elias, 55, que também mora no Jardim Maria do Carmo, conta que, em janeiro deste ano, a água das chuvas chegou a atingir a altura de dois metros dentro de sua casa. Ainda conforme ela, para andar pelas ruas foi necessário um barco. A moradora define a situação com a palavra medo.
“Meu marido e eu moramos em um sobrado, mas não podemos usufruir da nossa casa completamente. Por causa das enchentes, usamos apenas a parte superior. Antes, tínhamos uma oficina no andar de baixo, mas tivemos de mudar para outro local devido à perda de materiais de clientes. Com isso, gastamos com aluguel de outro imóvel para trabalho”, relata.
O sobrado, no entanto, já foi uma casa térrea e a experiência também não foi das melhores. Em 2003, Cristina e o filho, ainda bebê, precisaram ser resgatados de barco. Neste dia, ela perdeu todos os móveis, roupas, eletrodomésticos e dois carros. “Eu precisei recomeçar a minha vida do zero. Não consegui salvar nada, nadinha”, enfatiza.
Hoje, quando recebe alerta da Defesa Civil do Estado de São Paulo, Cristina separa uma bolsa com roupas e vai para a casa da mãe. Lá, ela guarda o carro e espera a água baixar. Em média e dependendo da quantidade de chuva, demora de dois a três dias para tudo voltar ao normal.
Saae trabalha para melhorar a rede de drenagem
A Prefeitura de Sorocaba alega que oferece assistência às famílias que sofrem com enchentes, com abrigos nas Casas do Cidadão e em hotéis. Colchões, água, alimentos, produtos de higiene pessoal e produtos de limpeza são alguns dos itens doados. Além disso, projetos voltados à melhoria na rede de drenagem de águas das chuvas estão entre as prioridades do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae).
Por meio de nota, a Administração Municipal diz também que o Saae prossegue com as obras de construção do Reservatório de Detenção de Cheias (RDC) do Jardim Maria do Carmo, em área pública de 12 mil metros quadrados, junto às ruas João Gabriel Mendes e Ingracia Angrisani Gomes. A previsão é que a obra toda, inclusive reurbanização do local, seja finalizada ao longo de 2025.
Ainda conforme a prefeitura, os RDC, tanto do Jardim Maria do Carmo quanto Abaeté, também terão atenção do Saae. Já para a avenida XV de Agosto, um dos pontos da cidade mais afetados pelas chuvas, um projeto está em andamento. As obras estão previstas para começar em 2025, na região do Parque Porto das Águas, que, assim como o Parque das Águas, servirá para minimizar os alagamentos.
Por fim, a prefeitura ressalta que executa obras de desassoreamento no Rio Sorocaba, bem como limpezas de bueiros. O serviço está sendo priorizado, no momento, ao longo das avenidas Dom Aguirre e XV de Agosto.
Orientação é para não se colocar em risco
Diante da possibilidade de novas enchentes e alagamentos, o diretor de comunicação da Defesa Civil do Estado de São Paulo, capitão Roberto Farina Filho, separou algumas orientações de segurança, principalmente àqueles que moram em áreas que podem ser afetadas. A principal é não se colocar em riscos, seja para resgatar pertences ou móveis.
“A laminação de água pode esconder buracos ou outros objetos. Portanto, é fundamental não se expor em áreas críticas. Além disso, se já receberam o alerta de chuva forte, é importante se organizarem, por exemplo, tirar os eletrodomésticos da tomada”, detalha.
Em casos de animais de estimação, a recomendação é que não estejam presos em coleiras ou em cômodos. Dependendo do nível da água, eles podem se afogar. Já idosos e pessoas em estado de vulnerabilidade devem ser prioridades, isto é, as primeiras a serem retiradas dos locais afetados.