Em duas décadas, fecundidade em Sorocaba cai de dois para um filho

Em 2023, a fecundidade média do interior foi de 1,53 filho por mulher, muito próxima da média estadual de 1,52

Por Cruzeiro do Sul

Desde 2018, São Paulo tem observado um declínio acentuado na fecundidade



A taxa de fecundidade das mulheres na região de Sorocaba apresentou uma redução expressiva nas últimas duas décadas, caindo de 2,16 filhos por mulher em 2000 para 1,58 em 2023. Esse dado, levantado pela Fundação Seade, insere Sorocaba em um contexto estadual marcado por mudanças comportamentais, sociais e econômicas. Desde 2018, São Paulo tem observado um declínio acentuado na fecundidade, resultado de fatores diversos que alteraram o planejamento familiar e as decisões reprodutivas das mulheres.

A tendência é especialmente notável no interior paulista, onde o ritmo da queda foi mais acelerado do que na capital e na Região Metropolitana. Em Sorocaba, a taxa já se aproxima da média estadual, que foi de 1,52 filho por mulher em 2023, sinalizando um alinhamento nas dinâmicas reprodutivas entre as diferentes regiões de São Paulo.

Fatores que explicam

A pesquisadora Lúcia Mayumi Yazaki, da Fundação Seade, aponta que as razões para a redução da fecundidade não são fáceis de determinar. O fenômeno é multifatorial e reflete tanto condições históricas quanto mudanças recentes nas estruturas sociais. “As reduções observadas no passado estiveram associadas às situações econômicas, culturais, aumento na utilização de métodos anticoncepcionais, entre outros fatores. No período mais recente, elementos como o aumento da escolaridade das mulheres, suas perspectivas profissionais e os elevados custos de criação de filhos ajudam a compreender a queda”, afirmou.

Outro fator relevante é a transformação dos valores relacionados à família. As mulheres têm postergado a maternidade, priorizando a formação acadêmica e o desenvolvimento de suas carreiras. Paralelamente, o custo de vida mais elevado e as incertezas econômicas têm levado muitos casais a repensar o número de filhos.

Esse contexto de mudanças comportamentais não afeta apenas a quantidade de filhos, mas também o perfil etário da maternidade. A fecundidade está concentrada em mulheres entre 25 e 34 anos, com uma redução mais expressiva nos grupos mais jovens, especialmente entre as menores de 20 anos.

Impactos da pandemia

A pandemia de Covid-19 (2020-2021), doença provocada pelo coronavírus, foi um marco que intensificou a queda da fecundidade. Segundo Yazaki, os impactos foram sentidos em múltiplos aspectos, desde o acesso restrito a serviços de saúde reprodutiva até a instabilidade econômica e social. “Os riscos provocados pela pandemia afetaram decisões familiares, como casamento e gestação. Diversos aspectos tiveram de ser adiados, o que acentuou a queda que já estava em curso desde 2018”, explicou.

Estudos realizados pela Fundação Seade indicam que as dificuldades enfrentadas pelas famílias durante o período pandêmico tiveram um efeito duradouro no planejamento reprodutivo, especialmente nas regiões do interior paulista.

Características regionais

Sorocaba, inserida no interior paulista, reflete uma tendência interessante: enquanto o interior historicamente apresentava uma fecundidade inferior à média estadual, as diferenças regionais têm diminuído. Em 2023, a fecundidade média do interior foi de 1,53 filho por mulher, muito próxima da média estadual de 1,52. Essa convergência se deve, em parte, ao ritmo mais intenso de redução observado nas áreas metropolitanas.

Na capital, por exemplo, a fecundidade caiu 16,6% entre 2018 e 2023, atingindo 1,46 filho por mulher, abaixo da média estadual. Sorocaba segue a tendência do interior, mas com um perfil que reflete as especificidades da região, marcada por características socioeconômicas que, segundo Yazaki, ainda influenciam os níveis de fecundidade. “Áreas em situações socioeconômicas menos privilegiadas tendem a ter maior fecundidade e mortalidade. Atualmente, no entanto, os níveis estão mais próximos que no passado.”

Perspectivas futuras

Embora os dados de 2022 e 2023 tenham mostrado uma leve recuperação nos nascimentos, os primeiros números de 2024 apontam para uma retomada na queda da fecundidade. Yazaki alerta que essa tendência ainda não está completamente definida. “Os primeiros resultados coletados para 2024 indicam um volume menor de nascimentos em todos os meses, o que pode sinalizar que o processo de queda deve estar sendo retomado”, afirmou.

O estudo da Fundação Seade evidencia que a redução da fecundidade não é apenas reflexo de menos filhos por mulher, mas também de mudanças profundas no comportamento reprodutivo. Em Sorocaba e no interior paulista, essas transformações seguem moldando os padrões familiares, impactando diretamente a dinâmica populacional e as políticas públicas da região. (João Frizo - programa de estágio)