Morte de jovem pela PM motiva protesto em frente à delegacia
Amigos e familiares fazem manifestação e pedem Justiça pelo pintor Reginaldo Júnior; ele teria sido morto, no domingo (5), na zona norte de Sorocaba
Amigos e familiares realizaram uma manifestação, na noite desta quinta-feira (9), em frente à delegacia de polícia da avenida General Carneiro, pedindo Justiça pelo pintor Reginaldo Antônio Ferreira Júnior, 33 anos. Ele teria sido morto por policiais militares, no domingo (5), na região do bairro Novo Horizonte, zona norte de Sorocaba. Segundo os manifestantes, o pintor teria sido atingido por disparos nas costas e na cabeça. Por sua vez, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) alega que houve troca de tiros, versão contestada pelas pessoas que participavam do protesto.
Reginaldo Júnior morava em Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, e veio a Sorocaba, com a mulher e os quatro filhos, para passar férias na casa da família da esposa. De acordo com os manifestantes, após as festas de Natal e Ano Novo, ele encontrou um amigo e os dois resolveram sair de carro para fazer uma pichação. No caminho, se depararam com uma viatura da PM que foi em direção do veículo. Amigos e parentes de Reginaldo contam que, com medo de que a família descobrisse que eles estavam pichando, os dois resolveram não parar o carro. Assim, a polícia passou a persegui-los.
Em determinado momento, ainda com medo, Reginaldo teria pedido para o amigo parar o veículo. Ele, então, desceu e começou a correr em direção a um terreno. Um dos policiais teria abordado o motorista, que informou que se tratava de pichação. De acordo com o colega de Reginaldo (versão mantida pelos manifestantes) os policiais dispararam em direção ao pintor que caiu em meio da mata. “A polícia alega que houve troca de tiros, o que não é verdade”, afirmam as pessoas que participavam do protesto. Ainda segundo os amigos, Reginaldo não andava armado. O colega confirma e acrescenta que com eles havia apenas latas de tinta spray e uma garrafa com tinta.
Os pais de Reginaldo, que também não são de Sorocaba, participaram da manifestação. “É só isso que eu quero, Justiça, provar que meu filho não é bandido, só isso”, diz a mãe da vítima, Cássia Cristina Oliveira Rezende Ferreira.
A versão da polícia
A Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP) informou, no domingo (5), dia do ocorrido, que após a perseguição a um carro que desobedeceu a ordem de parada, os policiais conseguiram abordar o veículo no bairro Novo Horizonte. Enquanto o motorista era revistado, o passageiro tentou fugir para uma área de mata próxima, onde teria disparado contra os PMs que reagiram e o atingiram.
Foi solicitada a perícia ao Instituto de Criminalística (IC) e ao Instituto Médico Legal (IML) que constatou a morte ainda no local. A SSP ainda declarou, na ocasião, que uma pistola foi apreendida, assim como latas de spray e uma garrafa com tinta. O caso foi registrado, no Plantão Policial de Sorocaba, como morte decorrente de intervenção policial e legítima defesa.
Cadê o celular?
Os manifestantes contestam a versão da SSP. Eles questionam se foi feito exame de balística para encontrar pólvora no carro ou nas mãos de Reginaldo e se foi apresentado cápsulas deflagradas pela suposta arma que eles dizem que a vítima utilizou para atirar nos policiais.
Os amigos e familiares questionam também onde estaria o celular de Reginaldo, pois momentos antes ele teria mandado um áudio para a esposa contando sobre a perseguição. O grupo ressalta ainda que a mulher recebeu mensagens da vítima, mesmo depois de ela ter sido morta.
Além disso, a mãe da vítima acrescenta que o iCloud do aparelho -- sistema de armazenamento em nuvem -- teria sido apagado. “Conseguiram excluir o iCloud do aparelho do meu filho. Conseguiram usar o WhatsApp do meu filho com ele morto. Eu quero que a polícia explique como as coisas dele sumiram.”
Velas e oração
A manifestação começou por volta das 19h30, em frente ao Plantão Policial da Polícia Civil, na avenida General Carneiro, zona oeste de Sorocaba. Carregando cartazes e latas de tinta spray, o grupo caminhou pela via pedindo Justiça. Os manifestantes também fizeram uma oração e acenderam velas na porta da delegacia.
Agentes de trânsito da Prefeitura de Sorocaba estiveram no local e fecharam um trecho da avenida. Em um determinado momento, enquanto o grupo caminhava na pista que estava liberada, alguns carros tentaram avançar. O trânsito ficou lento por alguns minutos, mas logo os veículos começaram a circular normalmente. A Polícia Civil vai investigar o caso.
O que diz a Polícia Militar
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP) informa que a Polícia Militar não compactua com desvios de conduta de seus agentes e pune exemplarmente quem viola os protocolos da corporação. Informa ainda que um Inquérito Policial Militar (IPM) investiga todas as circunstâncias dos fatos.
Com relação à manifestação realizada na noite de quinta-feira (9), a SSP diz que um grupo se reuniu em frente à sede da Secretaria da Segurança Pública na Capital e outro em Sorocaba. “Policiais militares acompanharam a situação para garantir a segurança de todos”, complementa.
Ainda conforme a SSP, os manifestantes que participaram do ato na Capital vandalizaram uma parte da calçada. Eles foram abordados e encaminhados ao 8º DP, onde assinaram um termo de compromisso e liberados em seguida.
O Cruzeiro do Sul também enviou questionamentos sobre o caso diretamente à assessoria da Polícia Militar e aguarda retorno.