Pedestres reclamam de motoristas que não respeitam as faixas para travessia
Atualmente Sorocaba tem instaladas 221 “lombo faixas”-- sinalização de chão elevada --, as 123 faixas vivas -aquelas pintadas de vermelho- e as inúmeras faixas brancas que parecem não ser o suficiente para que motoristas e motociclistas respeitem a preferência daqueles que estão caminhando e precisam cruzar as ruas e avenidas. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), nos locais de sinalização de travessia, os pedestres têm a prioridade na passagem, porém, essa regra nem sempre é seguida à risca pelos condutores.
Conforme preceitua o art. 70 do CTB, deixar de dar preferência ao pedestre é uma infração gravíssima, que gera sete pontos na carteira de habilitação e multa de R$ 293,47.
A reportagem do jornal Cruzeiro do Sul esteve na região central da cidade e observou por quase uma hora às dificuldades enfrentadas pelos pedestres para utilizar a faixa viva e a faixa comum em quatro pontos diferentes do Centro, nas ruas da Penha, Dr. Álvaro Soares e Coronel Benedito Pires. Em todos os locais, chamava a atenção o comportamento dos condutores, que dificilmente paravam e davam a preferência da passagem aos transeuntes.
Na rua Dr. Álvaro Soares, para não perder o tempo de abertura do semáforo no fim da via, alguns motoristas aceleravam os veículos em direção à faixa de pedestres. Naquele mesmo espaço, o assistente de vendas, Carlos Carriel, 49,conta que acabou sofrendo um acidente quando tentava cruzar pela faixa. “Olha é difícil aqui, nem todos os motoristas respeitam, eles ainda ficam bravos. Um dia desses um cara de moto me derrubou quando eu passava na faixa, sorte que eu não me machuquei, foi só o susto”, relembra Carriel.
Poucos metros depois, em um cruzamento semafórico da rua Dr. Álvaro Soares com a avenida Dr. Luiz Ferraz de Sampaio Júnior -- via de acesso ao terminal Santo Antônio -- era possível ver carros e motos em cima das faixas de sinalização. Para o aposentado José Carlos de Araujo, 80, o desrespeito ao espaço dos pedestres é recorrente e dificulta principalmente a vida dos mais velhos. “O motorista não respeita a gente, eu mesmo não consigo correr para atravessar. Olha só, nem com o sinal fechado eles respeitam e atrapalham a passagem”, desabafa o aposentado.
O especialista em trânsito, mobilidade e segurança, Renato Campestrini, destaca a importância de cumprir as determinações do CTB para a boa convivência entre todos. “Preliminarmente é necessário destacar que o trânsito é um espaço compartilhado, portanto as ações equivocadas de um, podem representar transtornos para os demais. As regras de trânsito, em especial as mais simples, devem sempre ser respeitadas, como a de priorizar o pedestre na travessia, e que este, de fato utilize os espaços destinados para tanto”, avalia o especialista. “As faixas para travessia de pedestres em especial, uma sinalização horizontal em ordenamento próprio, tem por objetivo proporcionar os deslocamentos dos pedestres com mais segurança”, complementa.
Pedestres
Campestrini também lembra que assim como os motoristas, quem caminha pelas ruas também precisa seguir as normas de trânsito. “o desrespeito acaba acontecendo de ambos os lados, pois há pedestres que em distâncias inferiores a 25 metros, não se deslocam até a faixa para travessia, conforme prevê a regra,” ressalta.
Os problemas envolvendo o desrespeito às faixas de travessia não se limitam à região central de Sorocaba. Os veículos que trafegam pela avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes, em frente ao acesso do Palácio dos Tropeiros, sede da Poder Executivo, passam pela via e nem sempre cedem a passagem para os pedestres. No local, placas de trânsito indicam o limite de velocidade de 60 km por hora.
A atendente de supermercado, Janaína Evel, 32, relata o medo de utilizar espaço preferencial e acabar integrando as estatísticas de atropelamentos na cidade. “Tinha que ser automático, você pisar na faixa e os carros pararem. Mas aqui é o contrário, se você for tentar atravessar eles vão passar por cima, é muito rápido porque eles passam voando”, diz.
Para Janaína, uma solução ao não cumprimento da lei de trânsito e a falta de empatia de quem está atrás do volante seria aumentar o número de faixas elevadas. “Quando a lombada é mais alta eles fazem questão de parar, porque a elevação pode estragar o carro”, acredita a trabalhadora.
De acordo com a Urbes Trânsito e Transporte as diferentes formas de sinalização de chão que indicam a passagem de pedestres têm o mesmo valor perante a lei. Sejam elas brancas, vermelhas, ou elevadas, é importante respeitar a lei de trânsito e priorizar a passagem dos pedestres garantindo a segurança de todos.
Atropelamentos tiveram queda de 84%
Segundo um levantamento da Urbes -- Trânsito e Transporte, o número de atropelamentos na cidade caiu 84% no comparativo entre 2019 e 2018. A cidade registrou 26 atropelamentos no ano passado, ante aos 173 casos do ano anterior. A queda nos índices podem estar relacionados a educação no trânsito, uma forma simples de combater as fatalidades em ruas e avenidas de Sorocaba.
Para o especialista em Trânsito, Mobilidade e Segurança, Renato Campestrini, quem pilota o volante precisa sempre relembrar os conceitos aprendidos durante os cursos de formação nas autoescolas. “O condutor assume que conhece as regras e irá respeitá-las, mas ao longo do tempo esses ensinamentos se perdem daí a importância das campanhas educativas, da fiscalização de trânsito”, considera ele, que continua. “Infelizmente, no Brasil ainda temos o conceito de que condutores de veículos automotores estariam ‘acima’ dos pedestres, mas esse entendimento é equivocado”.
Outro personagem importante na conscientização no trânsito são os órgãos oficiais, como aponta Campestrini. “O Poder Público poderia, como já realizou algumas vezes, desenvolver campanhas educativas voltadas a orientar comportamentos de pedestres e condutores”, garante.
Conforme informado pela empresa pública, atualmente todas as ações de educação no trânsito se encontram suspensas devido à pandemia do novo coronavírus, uma vez que elas acontecem sempre em contato com o público. Contudo, o órgão destaca o avanço na conduta pessoal daqueles que se locomovem na cidade. “A mudança de comportamentos e inserção de novos comportamentos numa sociedade, demandam tempo. Se tomarmos por base as práticas dos condutores sorocabanos de alguns anos atrás, veremos que de um cenário onde não existia respeito algum”, analisa.
Seja de carro, moto, ou a pé, o bom e velho bom senso pode ajudar a salvar vidas.“O ideal mesmo é que as pessoas desenvolvam a consciência de a todo momento, de forma voluntária, respeitar as regras de trânsito como um gesto de cidadania, e não apenas para evitar uma autuação. Como diz um velho ditado: trânsito é feito de gente, e gente merece respeito”, finaliza Campestrini. (Wesley Gonsalves)