Ricardo Shimada relata como uma fake news destruiu sua família

Professor é filho de um dos casais dono da Escola Base que foi vítima de notícia falsa na década de 90

Por Thaís Marcolino

Professor é filho de um dos casais que foi dono da Escola Base, em São Paulo

 

O caso da Escola Base no relato de quem vivenciou diretamente a história foi tema da palestra “Por trás das fake news”, realizada ontem (24), à noite, no auditório da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA). Ricardo Shimada, filho do casal dono da Escola Base trouxe para a plateia e para os que assistiam pelas redes sociais do jornal Cruzeiro do Sul um pouco de sua infância, o processo desde a denúncia dos pais dos alunos e como isso influenciou em momentos da vida da família, o arquivamento do processo e o perdão que concedeu, principalmente, ao jornalista que divulgou a história sem a devida verificação do caso.

Em um pouco mais de uma hora, Ricardo Shimada, hoje professor de jiu-jitsu e escritor, relatou momentos dessa história que mudou drasticamente o futuro de sua família. No começo de 1994, os pais foram acusados por duas mães de abusar sexualmente de seus filhos. A acusação veio a tona após o caso ser divulgado na imprensa e causou grande comoção e repúdio público. Com riqueza de detalhes e sentimento, Ricardo, que na época tinha 14 anos, contou que viu a escola sendo depredada com diversos xingamentos. Por medo, nesse momento, os pais precisaram fugir e o jovem teve que ficar na empresa de cópias da família, sem que a imprensa soubesse a sua identidade. Por isso acabou perdendo o convívio social não podendo frequentar a escola.

Passado alguns meses, o caso foi arquivado por falta de provas. Os veículos se basearam em informações falsas, sem a devida apuração, para expor a situação que não existia.

Em alguns momentos da palestra Ricardo também propôs algumas reflexões. “A fake news é muito poderosa, uma frase mal dita, uma antecipação é muito perigosa”. A família ganhou um processo e recebeu indenização estipulada pela Justiça. “Mas isso não reparou o que perdemos”.

Mesmo com a comprovação que a história era uma mentira não houve a retratação na mesma escala que a divulgação do caso. Ricardo aproveitou a palestra para dissertar sobre o perdão e citou uma frase: “O perdão pode não significar nada para a pessoa, mas te dá paz”.

Ao final, Ricardo contou para a plateia sobre o que restou a ele. “Doar meu testemunho, de como um simples achado e/ou uma precipitação pode acabar com vidas, mas transformando tudo de ruim com algo bom”, disse. O professor lançará, em breve, um livro em que contará com riqueza de detalhes sua vivência e o quanto uma fake news pode acabar com a vida do acusado.

O Presidente do Conselho de Administração da FUA, Hélio Sola Aro, disse que a ideia da palestra foi proporcionar a reflexão em um assunto tão importante na sociedade. “É um tema que atinge os três pilares da Fundação: o jornal, o colégio e a rádio. Aqui a gente forma e informa cidadãos, então trazer essa palestra é muito importante”, disse. (Thaís Marcolino)