Espaço na Região Metropolitana de Sorocaba protege fauna ameaçada
Centro de Pesquisa e Conservação, em Araçoiaba da Serra, preserva espécies em risco de extinção
No Brasil, segundo a mais recente atualização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), ligado ao governo federal, há cerca de 1.200 espécies de animais em risco de extinção, incluindo terrestres e aquáticos. A perda e degradação do hábitat, decorrentes principalmente do desmatamento e da expansão urbana, são as maiores ameaças para as espécies continentais.
Diante desse cenário, diversos núcleos estão espalhados pelo País com o intuito de abrigar e preservar as espécies com risco de serem extintas. Um deles, é o Centro de Pesquisa e Conservação da Fauna (Cecfau), vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil). Com cerca de 20 hectares de terra, semelhante a uma grande fazenda, o centro fica localizado em Araçoiaba da Serra, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), e abriga aproximadamente 70 animais, além de mais de 100 filhotes de pererecas.
É lá que os pesquisadores e tratadores desempenham um importante trabalho de estímulo à reprodução dos bichos, visando proteger o futuro da fauna ameaçada no Estado de São Paulo e proporcionar seu retorno ao hábitat natural. O centro, atualmente, concentra seus esforços em preservar seis espécies: mico-leão-preto, mico-leão-de-cara-dourada, sagui-da-serra-escura, perereca-pintada-do-rio-pomba, tamanduá-bandeira e arara-azul-de-lear.
A perereca-pintada-do-rio-pomba ganhou destaque pelo alto número de reprodução no centro. Segundo Luísa Bontorini, bióloga e veterinária do Cecfau, a espécie gerou mais de 100 juvenis nos últimos meses. “Embora ela libere um veneno como autodefesa, essa espécie é presa de vários animais e ocorre em uma área desprotegida. Por isso, veio a necessidade de criar um backup (banco genético de indivíduos)”, explicou.
Dentre os animais ameaçados, a arara-azul-de-lear, originária da caatinga baiana, é a única que apresentou condições de retornar à natureza, por enquanto, devido ao sucesso que obteve na reprodução. O casal da espécie, Lindsay e Francês, deu origem a 17 filhotes, desde 2018. Duas já foram soltas na Bahia e, atualmente, o centro abriga 18 araras.
De acordo com Giannina Clerice, bióloga e assessora técnica do Cecfau, para realizar a soltura na natureza é preciso fazer um cálculo específico para avaliar a necessidade do retorno, a diversidade da espécie e o risco de mortalidade que varia muito de acordo com o cenário vigente. Depois de analisar os resultados, é decidido se o animal pode ser solto ou não. “Primeiro eles vão para um treinamento específico de pré-soltura e, depois de solto, o animal continua em observação. É colocada neles uma pulseira de identificação ou, até mesmo, um GPS para monitorá-los”, informou.
Fora os animais que obtiveram quantidade significativa de nascimentos, os primatas também são dignos de destaque. Além de 23 micos-leões-pretos, existem 13 saguis-da-serra-escura preservados, sendo que nove nasceram no centro. Há, também, três tamanduás-bandeiras -- o Leopoldo, o Luca e o Lourenço -- porém, por não terem uma fêmea, não há previsão para a geração de filhotes.
“A arara-azul-de-lear, originária da caatinga baiana, é a única que apresentou condições de retornar à natureza, por enquanto”. (Luís Felipe Pio - programa de estágio)