Manutenção da barragem leva CBA a alterar liberação de água em Itupararanga

Empresa acionará o descarregador de fundo durante 60 dias, mas garante que qualidade do líquido será mantida

Por Ana Claudia Martins

Manobras precisam ser executas durante o período de estiagem e exigem o "fechamento" das grades de tomada;

A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) iniciou, na segunda-feira (28), os serviços de manutenção nas grades da tomada de água da barragem de Itupararanga. Segundo a empresa, a manobra precisa ser realizada durante o período de estiagem -- que é o atual --, quando o nível do reservatório é naturalmente mais baixo. A CBA informou ainda, que, para executar o trabalho, é necessário paralisar a operação pelo canal de adução -- alimentação -- e utilizar o descarregador de fundo para defluir -- liberar - a água para o rio Sorocaba. No início da intervenção, a represa de Itupararanga estava com volume útil de 64,49% e o nível de 820,95 metros acima da altitude média da superfície do mar.

Como a represa de Itupararanga é responsável por de mais de 80% da água consumida em Sorocaba e também pelo abastecimento de outras cidades da Região Metropolitana (RMS), a CBA informou que comunicou o fato aos órgãos responsáveis pelo tratamento e distribuição de água desses municípios, como o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) Sorocaba e a Águas de Votorantim. De acordo com a empresa, os serviços de manutenção na represa de Itupararanga deverão estar concluídos em 60 dias.

Possíveis alterações

Questionado a respeito, o Saae Sorocaba informou que os serviços de manutenção na represa de Itupararanga não irão afetar o abastecimento público no município. Mesmo assim, disse que a equipe da autarquia já realizou testes para levantar as possíveis alterações e antecipar as soluções caso haja qualquer consequência significativa proveniente das ações de manutenção da CBA na qualidade ou na quantidade de água fornecida para o município.

O Saae Sorocaba explicou que, uma vez que a CBA paralisou momentaneamente a operação pelo canal de adução, mas utilizará o descarregador de fundo para defluir a água para o rio Sorocaba e, consequentemente, abastecer a represa do Clemente, onde é feita a captação de água para tratamento e posterior distribuição à população sorocabana, não haverá comprometimento do abastecimento público.

“Além disso, a equipe do Saae já realizou testes para levantamento das possíveis alterações e suas soluções. Caso haja qualquer alteração significativa proveniente das ações de manutenção da CBA, bem como registro de alguma desconformidade, seja ela de quantidade ou de qualidade, a autarquia irá notificar imediatamente o órgão gestor para que adote todas as providências necessárias”, adiantou a autarquia.

O Saae Sorocaba informou ainda que os serviços de manutenção na represa de Itupararanga têm autorização também do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT).

Já a CBA ressalta que o objetivo da ação é preservar as boas condições da barragem e operação da hidrelétrica, de acordo com o programa de manutenção desenvolvido pela empresa, que conta com inspeções de rotina, entre outras ações. “A empresa reforça que a barragem continua segura e esclarece que o nível e volume do reservatório de Itupararanga seguirão em conformidade com a regra operativa vigente”, destacou.

Manobra discutida

A questão foi um dos temas tratados na reunião do dia 7 deste mês do Grupo de Trabalho de Crise Hídrica, do qual a SOS Itupararanga é integrante, junto com o CBH-SMT. A entidade informou que a medida preocupa o Saae Sorocaba porque, em outros momentos, houve alterações na composição da água captada.

“Durante o período de manutenção, a defluência será praticada pelo descarregador de fundo, com vazão máxima de 6 metros cúbicos por segundo. Esta operação preocupa o Saae Sorocaba em relação à qualidade da água da represa que chegará ao sistema de abastecimento da cidade, pois em outros momentos em que este dispositivo foi utilizado houve alterações nos teores de ferro e manganês na água captada. Mas os procedimentos a serem adotados ainda estavam em tratativas entre a CBA, o Saae Sorocaba e a Águas de Votorantim”, apontou a entidade.

CBA nega alterações

A CBA negou a possibilidade de alteração da qualidade da água liberada por meio do descarregador de fundo. Em resposta a questionamento do Cruzeiro do Sul, a empresa explicou que “a água defluída pelo descarregador de fundo é a mesma que está armazenada pela barragem de Itupararanga, apenas uma cota mais abaixo que a coletada pelas válvulas das tomadas d’água -- canal de adução”.

Em nota enviada ao jornal no início da noite de ontem (29), a assessoria da CBA lembrou que “o Saae Sorocaba e a Águas de Votorantim participaram da fase de planejamento desse trabalho para realizar eventuais adequações no processo, incluindo o acompanhamento técnico de todas as manobras iniciais de abertura do descarregador de fundo. Tal trabalho realizado em conjunto é fundamental para o bom andamento das ações para controle e tratamento da água, assim como a manutenção preventiva na barragem”.

A empresa reforçou que “não há indícios de questões que impeçam o tratamento da água”. No entanto, acrescentou que, “caso aconteça, a companhia agirá imediatamente para o restabelecimento pleno das condições com as demais partes interessadas”. (Ana Claudia Martins)