Mortes por acidentes de trabalho aumentam 48%

Total de casos fatais na RMS passou de 27 no ano passado para 40 em 2023

Por Virginia Kleinhappel Valio

Para a Divisão Regional de Fiscalização do Trabalho, empresas devem investir em segurança e medicina do trabalho e as Cipas precisam funcionar

Dois óbitos por acidente de trabalho ocorreram nos últimos dois dias na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). O primeiro caso, denominado acidente in itinere -- de percurso ou trajeto --, aconteceu na noite de quarta-feira (15), na rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto. Um trabalhador de 41 faleceu após sofrer um acidente de motocicleta no trajeto entre a residência, em Jundiaí, e a empresa em que trabalha, em Cabreúva. A segunda ocorrência foi registrada ontem (16), em Boituva, onde um homem de 39 anos perdeu a vida após ser atingido pela caixa d’água da empresa em que trabalha, enquanto realizava a manutenção do equipamento. Somados esses dois casos, de acordo com a Dataprev, a RMS registra até o momento 40 óbitos por acidente de trabalho em 2023, o que representa um aumento de 48% se comparado ao mesmo período do ano anterior, quando morreram 27 trabalhadores.

De acordo com o chefe regional do Setor de Inspeção do Trabalho (Seint) / Divisão Regional de Fiscalização do Trabalho, Ubiratan Vieira, a empresa onde o trabalhador morreu em Boituva possui um histórico de acidentes com mortes e acidentes comuns. “Neste acidente com a caixa d’água, também houve a repercussão envolvendo a NR10, que trata de choques elétricos, porque a caixa d’água estava perto de uma fiação”.

A morte do trabalhador em Boituva mostra, mais uma vez, a necessidade das empresas contratarem profissionais capacitados para os serviços. “A caixa d’água dessa empresa fica há cerca de 6 metros de altura. O profissional tem que estar preparado para realizar esse tipo de manutenção e, geralmente, os trabalhadores não utilizam equipamentos de proteção como deveriam usar, embora, neste caso, com o peso de uma caixa d’água como esta, iria adiantar muito pouco”, disse.

Vieira destaca que já designou um auditor fiscal para investigar o acidente e os trabalhos de investigação terão início hoje (17). Ele também ressalta a importância de empresas investirem em segurança e medicina do trabalho.

“É preciso fazer a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), funcionar. Vamos propor ao superintendente que obrigue novamente as empresas a nos comunicar sobre as reuniões da Cipa. Antigamente, recebíamos até o calendário da Cipa, e algumas vezes, chegávamos de surpresa nas empresas para ver se estavam realizando a reunião e, por muitas vezes, não estava havendo. Isso antes da mudança. Imagina depois que passou a não ser obrigatório trazer a documentação da Cipa ao Ministério. Eles (Cipa) também precisam proteger os trabalhadores quanto ao assédio moral e sexual”, comenta Vieira.

Segundo Vieira, somente em Sorocaba foram registrados 800 casos de acidentes de trabalho com mutilações. “Os trabalhadores que conseguiram se recuperar fazem parte de um banco de dados no INSS. Os reabilitados podem ser contratados para o cumprimentos de cotas de PCDs nas empresas, uma mão de obra normalmente muito difícil”, explica. Além da Dataprev, os acidentes, obrigatoriamente, devem ser informados por meio da Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT), em até 24 horas, ao Ministério do Trabalho e Emprego e também ao INSS. (Virginia Kleinhappel Valio)