Abate de javaporco tem autorização temporária na região de Sorocaba
Aparecimento da espécie em 16 municípios é acompanhado de prejuízos à agricultura e riscos à saúde pública
A presença de javaporcos têm aumentado na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). A Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) relatou avistamentos da espécie na zona rural de 16 municípios. Tal número é considerado pelo órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (SAA) alto, principalmente se comparado com o último levantamento, realizado em 2021.
O javaporco é descendente de uma espécie de porco europeu, o javali. Seu primeiro registro na América do Sul ocorreu por volta de 1904, na Argentina. Entre as décadas de 60 e 80, eles começaram a escapar das fazenda e acabaram chegando ao Brasil. Ao se espalhar, encontraram porcos domésticos e se acasalaram. A partir disso, nasceram os descendentes, que continuam vagando e se reproduzindo.
O aparecimento de javaporcos na RMS pode ter relação com as características da agricultura e da pecuária praticadas na região. Eles têm alimentação variada, mas, sobretudo, consomem grãos -- principalmente milho --, cana-de-açúcar, filhotes de animais e carcaças, entre outros. Como tudo isso pode ser encontrado na RMS, os agricultores e pecuaristas têm relatado prejuízos por conta de ataques constantes desses animais.
Um dos municípios que tem notado esses danos é Capão Bonito. A lavoura local tem relevância na produção de batatas, cebola, feijão, mandioca, melancia, milho, soja, tomate e trigo, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na tentativa de diminuir os problemas, o município estuda, desde o ano passado, um projeto piloto junto à Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de Itapetininga que, a depender dos resultados, pode se tornar um programa permanente. Detalhes da proposta não foram informados à imprensa.
Para diminuir os prejuízos causados pelos javalis, o abate direto, após espera ou perseguição, é uma medida recomendada. De acordo com veterinário João Carlos Pimentel, da Assessoria Técnica de Gabinete da SAA, a utilização de telas e cercas elétricas também são indicadas, mas podem ser caras e inviáveis, dependendo do tamanho das áreas. “Uma melhor metodologia de controle é realizar a captura de grupos de javalis, por meio de armadilhas e, então, abatê-los. A eficiência de controle é maior e evitam-se riscos associados à perseguição ou à espera”, explicou.
Cuidados
Além dos problemas que causa aos produtores rurais, a espécie também não é recomendada para consumo humano, pois pode transmitir doenças. Os javaporcos representam uma fonte de preocupação em relação às zoonoses, ou seja, doenças transmitidas entre animais e humanos. Algumas das doenças associadas a eles são brucelose, tuberculose, salmonelose, triquinose e toxoplasmose.
Essas doenças podem ser adquiridas por pessoas que consomem ou manipulam a carne desses animais. Além disso, há, também, a preocupação com doenças que afetam outros animais, como a Peste Suína Clássica, a Peste Suína Africana e a Febre Aftosa, e podem causar prejuízos significativos.
Por ser um animal de vida livre e o abate não ser feito em condições ideais para que a carne seja consumida, o consumo dela não é indicado pelos especialistas. “Ainda assim, se houver intenção de consumir, é aconselhável que se congele a carne por sete dias ao menos e, depois, asse ou cozinhe muito bem. Em outras palavras, consumir apenas carne bem passada”, orienta a Cati.
“Caso haja problemas após a ingestão da carne de javali, como mal-estar, vômito, diarreia, dor de cabeça ou no corpo, a pessoa deve buscar assistência médica”, orienta Pimentel.
Caça
O controle da espécie por meio do abate havia sido autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 2013, de acordo com regras estabelecidas, como autorização e registro atualizado para a prática, emitidas, também, pelo Sistema de Informação de Manejo de Fauna (Simaf). Entretanto, em julho do ano passado, a autorização foi suspensa as autorizações.
No dia 26 de dezembro, o Ibama emitiu um comunicado informando que o Simaf voltou a analisar os pedidos de autorização para o controle de javalis. Segundo o Sistema, a medida temporária e preventiva foi adotada “para alinhar nossos procedimentos às diretrizes estabelecidas pelo Decreto nº 11.615, de 21 de julho de 2023”.
Ainda de acordo com o Simaf, “o Ibama é o órgão ambiental responsável pelas autorizações de controle, ficando a cargo do Exército Brasileiro e da Polícia Federal todas as questões referentes a autorizações para o uso armas, as quais o controlador deve portar durante suas ações. Conforme estipulado pelo Decreto 11.615/2023, tais autorizações agora exigem declaração assinada por detentores de direito de uso das propriedades, indicando a concordância para realização das ações, devendo constar no documento lista de todos os membros da equipe de controladores, tal declaração deve ser assinada via gov.br ou reconhecida em cartório. Os proprietários/detentores podem emitir declaração para mais de uma equipe”, acrescenta o documento.
Para outras informações sobre as novas normativas referente a caça dos javalis acesse https://simaf.ibama.gov.br/.
Como identificar
Os javaporcos apresentam uma notável diversidade de tamanhos e pesos. É comum encontrar animais dentro dos grupos que possuem entre 70 kg e 80 kg, com altura variando em torno de 1,3 m. No entanto, alguns exemplares podem pesar mais de 150 kg. Animais machos isolados podem chegar a pesar 250 kg. Seu pelo espesso apresenta tonalidades que variam do cinza-escuro ao preto.
“Uma característica distintiva é sua cauda mais longa, que pode atingir até 30 cm de comprimento, tornando-a facilmente visível. Em outras palavras, encontrar um animal desse na zona rural é um evento perigoso, mesmo porque geralmente andam em bandos. Outra fonte de risco é o atropelamento desses animais”, explicou o médico veterinário e diretor da Cati Regional de Bragança Paulista, Marcelo Baptista da Silva.
O profissional disse, ainda, que os javaporcos são diferentes de queixadas e catetos. Esses animais são menores, pesando entre 15kg e 40kg. Tais espécies são nativas da fauna nacional e sua perseguição, captura e abate é totalmente proibido. (Thaís Marcolino)