Região tem quatro feminicídios em 2024

Crimes ocorreram em Boituva, Itu, Salto e, o mais recente, em Sorocaba; companheiros são suspeitos em todos os casos

Por Vinicius Camargo

Luciana, de 37 anos, teria sido espancada até a morte, pelo namorado, na madrugada de domingo (18), em Sorocaba

 

A Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) registra, até o momento, pelo menos quatro feminicídios neste ano. Houve um caso em Boituva, um Itu, um em Salto e outro em Sorocaba. Dois deles ocorreram em um intervalo de três dias. O levantamento foi feito pelo Cruzeiro do Sul, com base em notícias veiculadas pelo jornal. Em todas as ocorrências, companheiros das vítimas são os principais suspeitos dos crimes.

O assassinato mais recente foi o de Luciana Aparecida de Almeida Machado, de 37 anos, cujo corpo foi encontrado no domingo (18), em Sorocaba. A mulher desapareceu no sábado (17). Segundo o boletim de ocorrência, uma testemunha contou que, na madrugada daquele dia, a vítima e o namorado estavam em um bar na avenida Ipanema. Por volta das 3h, eles teriam se desentendido. O homem teria colocado Luciana à força dentro do veículo dela e, em seguida, os dois teriam deixado o local.

Ao perceber o desaparecimento da mulher, a família registrou boletim de ocorrência ainda no sábado. De acordo com o BO, no início da tarde de domingo, por desconfiarem do suspeito, familiares da vítima foram até a casa da mãe dele e o confrontaram sobre o desaparecimento dela. Ele teria confessado o crime e informado que o corpo estava na residência de seu pai, localizada na Vila Santa Clara.

Diante da revelação, os parentes acionaram a Polícia Militar. Uma equipe foi ao local indicado e encontrou o corpo. Conforme o registro policial, Luciana apresentava indícios de provável espancamento até a morte. Na sequência, os policiais dirigiram-se para a casa do homem, onde conseguiram encontrá-lo. O acusado negou o crime, mas um policial notou que ele tinha lesões nas mãos e no bíceps, além de arranhões no pescoço. Estava, também, com vestígios de sangue na calça e no cadarço do tênis.

Em razão desses sinais e das marcas de violência no corpo de Luciana, o suspeito foi preso e encaminhado para a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), tendo sido autuado por feminicídio. A unidade investiga o caso.

Outros casos

Em Boituva, Kelli Vanessa Spizzica, de 27 anos, foi morta por espancamento, na quarta-feira da semana passada (14). O companheiro dela, de 33 anos, é apontado como autor do assassinato. A vítima levou vários golpes com um pedaço de madeira. Ela sofreu fratura exposta no crânio, além de diversas lesões no rosto, boca, mãos, pernas e pescoço. O suspeito do crime está preso.

Outro feminicídio aconteceu em Salto, no dia 6 de fevereiro. Uma mulher, de 45 anos, foi encontrada morta dentro de uma casa no Jardim Santa Cruz. O corpo apresentava diversas perfurações. O parceiro dela é o principal acusado da morte. A Polícia Civil já pediu a prisão dele, mas ainda não o capturou.

Mais uma ocorrência foi registrada em Itu, em 16 de janeiro. Uma jovem, de 23 anos, morreu após ser esfaqueada pelo companheiro no pescoço, cabeça, tórax e antebraço. O crime ocorreu na residência onde o casal morava, no bairro Cidade Nova. O suspeito, de 26 anos, continua foragido.

Desprotegidas

A delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Sorocaba, Alessandra Reis dos Santos Silveira, afirma que grande parte das vítimas de feminicídio vive ciclos de violência há tempos, mas está desprotegida. “O que chama a atenção é que a maioria não tem medida protetiva”, revela. Segundo ela, muitas não denunciam os agressores por três motivos principais: medo, pois são ameaçadas; vergonha de contar que sofre agressão; e expectativa de mudança do parceiro.

Ainda conforme Alessandra, ao primeiro sinal de abuso, todas essas questões têm de ser deixadas de lado e é preciso buscar ajuda. Geralmente, explica ela, a violência começa de forma psicológica e verbal, principalmente, diante do rompimento da relação. Esses dois tipos englobam ameaças, ofensas, menosprezo, inferiorização, dentre outras atitudes. É comum, também, o abusador isolar a mulher, privando-a, por exemplo, do contato com a família e amigos. Com isso, ela fica cada vez mais sozinha com agressor e mais vulnerável. A delegada frisa que essa situação dificulta, inclusive, a possibilidade de a vítima denunciar.

De acordo com a titular da DDM, o ideal é procurar apoio nessa fase, pois, posteriormente, os abusos tendem a piorar. “Começa com um xingamento. Depois, passa para uma ameaça. Em seguida, vem um empurrão, um tapa, uma agressão mais violenta, podendo chegar ao feminicídio”, alertou. Segundo ela, às vezes, a própria mulher não percebe estar em um relacionamento abusivo. Por isso, se identificarem esse cenário, pessoas próximas devem avisar à vítima ou até mesmo fazer a denúncia.

O boletim de ocorrência poder ser elaborado nas Delegacias de Defesa da Mulher ou em qualquer outra, no caso das cidades onde não há unidades especializadas. É possível, igualmente, efetuar o registro da ocorrência pela internet, por meio da Delegacia Eletrônica (delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br). Conforme Alessandra, após a abertura do BO, a Polícia Civil costuma pedir ao Poder Judiciário a expedição de medidas protetivas para resguardar a vida das denunciantes. Assim, os riscos de elas entrarem para as estatísticas diminuem. “É um instrumento que ajuda, que realmente protege muito as mulheres”, destacou.

Pesquisar índole

Além de denunciar, a delegada aconselha a mulher a pesquisar a índole do futuro parceiro, antes de ingressar na relação. Essa “consulta” pode ser feita, por exemplo, a partir de conversas com quem convive com o homem. De acordo com ela, a descoberta de algumas informações, como histórico de violência contra outras companheiras, é um sinal de alerta.

Tornozeleiras

Para tentar combater os crimes de feminicídio, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo adotou a iniciativa de colocar tornozeleiras em criminosos soltos em audiências de custódia. Segundo a pasta, de setembro de 2023 até 19 de fevereiro deste ano, 195 homens passaram a ser monitorados por equipamentos, sendo 91 por violência doméstica. “Em nove ocasiões, o agressor voltou a ser preso ao se aproximar (novamente) da vítima, afirmou a SSP, em nota. (Vinicius Camargo)