Represa de Itupararanga corre o risco de entrar em colapso

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Tema foi abordado no Fórum Regional de Mudanças Climáticas realizado ontem. Crédito da foto: Fábio Rogério (13/11/2019)

Tema foi abordado no Fórum Regional de Mudanças Climáticas realizado ontem. Crédito da foto: Fábio Rogério (13/11/2019)

A represa de Itupararanga vai virar uma “Billings caipira” se medidas não forem tomadas como solução para o problema dos efeitos causados no manancial pela poluição causada por esgoto, agrotóxico, loteamentos clandestinos, desmatamentos, entre outras agressões ambientais. O alerta foi feito ontem, durante o Iº Fórum Regional de Mudanças Climáticas na Universidade de Sorocaba (Uniso), pelo vice-presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Sorocaba e Médio Tietê, Wendell Rodrigues Wanderley.

Na sua análise, a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) pode perder o manancial “se a gente continuar desse jeito”, isto é, poluindo a represa e sem tomar medidas de proteção. Segundo Wendell, esta preocupação também foi assunto de reunião entre gestores e especialistas em meio ambiente com o secretário executivo da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo, Luiz Ricardo Santoro.

A represa Billings, localizada na zona sul de São Paulo, apresenta condições de poluição de alto nível de gravidade ao ponto de especialistas considerarem que suas águas são de difícil recuperação. Não é usada para abastecimento da população, apenas para geração de energia elétrica. Enquanto isso, a represa de Itupararanga é fonte de abastecimento para 82% da população de Sorocaba -- além de abastecer também São Roque, Alumínio, Ibiúna, Mairinque e Votorantim.

Futuro semelhante

O alerta de risco que prevê para Itupararanga um futuro semelhante ao da represa Billings, segundo Wendell, “é um apelo que nós fazemos” pela proteção ao manancial. Sua declaração tem especial significado justamente neste momento em que a população de Sorocaba enfrenta rodízio de abastecimento de água desde a semana passada devido à escassez de chuvas e diminuição do nível da represa. Localizada na região da Serra de São Francisco, Itupararanga, na avaliação de Wendell, é um dos maiores patrimônios ambientais remanescentes de Mata Atlântica do Estado de São Paulo.

A presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB Votorantim, Eleusa Maria da Silva, coordenadora da Câmara Técnica de Proteção das Águas do Comitê de Bacias, lembrou que um estudo feito pela UFSCar de Sorocaba já detectou a presença de “cianobactéria tóxica” nas águas de Itupararanga. Essa substância também é encontrada nas represas paulistanas Billings e Guarapiranga. Na Billings, o alto índice de concentração desse elemento poluidor dificulta o tratamento da água e, na Guarapiranga, é fator que eleva as condições de tratamento a produzirem a água mais cara da capital.

A vereadora Iara Bernardi (PT) destacou durante o Fórum que os planos diretores dos municípios da região “ignoram” Itupararanga e suas águas. Nesse sentido, cobranças de compromissos em defesa da represa foram direcionadas aos prefeitos, vereadores e governos de forma geral, além dos setores produtivos, universitários e de organizações não-governamentais (ONGs).

Carta de compromisso

O secretário de Meio Ambiente de Sorocaba, Maurício Mota, informou que a partir do Fórum de ontem uma carta de compromissos da Região Metropolitana para com o meio ambiente será postada no site da pasta até o dia 30 de novembro para receber propostas de ações. A expectativa é haver a cooperação dos segmentos da sociedade envolvidos nas discussões.

Segundo a Prefeitura de Sorocaba, também organizadora do evento, participaram do Fórum 234 pessoas de 22 municípios -- a RMS tem 27 --, incluindo cidades como São Paulo e Campinas. (Carlos Araújo)