A vez do São Bento

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Por volta das 17h da próxima terça-feira (29), há enormes chances de Sorocaba estar comemorando seu acesso à elite do futebol do Estado de São Paulo pela sétima vez na história. A conquista proporcionada pela diligência e brio do Esporte Clube São Bento é relevante em todos os aspectos. A começar pelo empenho dos diversos setores do clube na superação das adversidades de um início extremamente desfavorável na competição, passando pelos desafios provocados pela suspensão inédita de todas as atividades esportivas durante cerca de 150 dias -- por conta da pandemia do novo coronavírus --, chegando ao quase desmantelamento da equipe durante a quarentena e estendendo-se à queda significativa da arrecadação e imensas dificuldades financeiras. Por fim, vieram os contratempos das contratações às pressas para a recomposição do elenco, improvisações de atletas para suprir falta de peças em diversas posições e a maratona de jogos resultante da disputa paralela do Campeonato Brasileiro da Série C.

O feito beneditino neste incomum 2020, também requer apreciação à luz dos contextos histórico e numérico. Para quem não é familiarizado com o universo do futebol, a ascensão de uma equipe à Série A1 do Campeonato Paulista pode se afigurar uma façanha simples, ou até, habitual. Na verdade, não é nem uma coisa nem a outra. O caminho que leva ao topo é árduo, demorado, trabalhoso e, principalmente, dispendioso sob todos os aspectos -- inclusive, financeiramente. Um termo de comparação natural a ser considerado é a proporção entre potenciais candidatos e o número de vagas disponíveis no seletíssimo grupo. Com 645 municípios, São Paulo é o Estado com o maior número de equipes profissionais: dos 650 times que disputaram qualquer divisão estadual no País em 2019, 89 estavam registrados na Federação Paulista de Futebol (FPF). O Rio de Janeiro, que aparece no segundo lugar do ranking elaborado no último mês de maio pela Pluri Consultoria, tem apenas 66 clubes não amadores.

Restringindo a comparação ao território paulista, alguns outros números corroboram a importância da façanha sãobentista. Exemplo: cada uma das três séries principais do Campeonato Paulista (A1, A2 e A3) é constituída por 16 clubes. No total, esses 48 clubes representam apenas 36 municípios. A Série A1 de 2020 -- grupo que pode ser classificado como “elite da elite” -- contou com 13 cidades, incluindo São Paulo -- onde estão sediados Palmeiras (campeão), Corinthians (vice) e São Paulo --, Santos e Campinas -- com dois times, Guarani e Ponte Preta. Já a A2, série da qual o time sorocabano participa neste ano, tem clubes de 15 municípios. Dois clubes são da capital -- Portuguesa e Juventus --, mas nem conseguiram chegar às semifinais.

Jogando no Estádio Primeiro de Maio, em São Bernardo Campo, a partir das 15h de terça-feira, o Esporte Clube São Bento poderá até perder por dois gols de diferença, diante da equipe do ABC Paulista, que, mesmo assim, conseguirá carimbar o sonhado passaporte para a final do Campeonato da Série A2. A vantagem sorocabana é decorrente da vitória no jogo de ida da semifinal, no Estádio Walter Ribeiro (CIC) por 3 a 0. Visto que o regulamento da Federação Paulista de Futebol (FPF) promove automaticamente à Série A1 os dois finalistas da competição de acesso, a menos que os deuses do esporte operem uma fantástica reviravolta, o Azulão Sorocabano irá figurar entre os clubes de ponta pela quinta vez em seus 107 anos de história. Para a cidade, será a sétima vivência entre os maiores do esporte, já que o Clube Atlético Sorocabano -- atualmente inativo -- também já frequentou a alta-roda.

Caso seja confirmado na final da A2, o Bentão enfrentará o vencedor da outra semifinal, em que duelam São Caetano e XV de Piracicaba. Independentemente da conquista do título -- e até mesmo do acesso -- a trajetória do EC São Bento em 2020 é digna de felicitações. Tendo somado apenas seis pontos nas oito rodadas iniciais (quatro derrotas, três empates e uma vitória) e amargado a possibilidade de rebaixamento, o grupo foi buscar forças e incentivo para se reestruturar -- com a substituição do técnico, inclusive -- para somar 21 pontos nas sete rodadas seguintes e poder aspirar ao início de um novo ciclo.