Vacinas para crianças têm baixa procura

Por Ana Claudia Martins

Letícia e Álvaro Almeida, pais do pequeno Pedro de quase 2 meses. Crédito da foto: Arquivo Pessoal (21/9/2020)

De nove vacinas indicadas para crianças, cinco não atingiram as metas. Crédito da foto: Fábio Rogério (4/5/2019)

A pouca procura por vacinas para crianças, sobretudo na faixa etária até 1 ano, preocupa a Secretaria da Saúde (SES) em Sorocaba. Segundo dados da Prefeitura, em 2020, até o momento, de nove vacinas indicadas pelo calendário nacional de vacinação em crianças, cinco não atingiram as metas de 90% e 95% de imunização.

Um dos motivos para o não cumprimento das metas é a pandemia da Covid-19 e o medo de contaminação nos postos de saúde. Com isso, pais têm deixado de levar as crianças para tomar as vacinas.

O mesmo ocorre no Estado e em praticamente todo o País, e também preocupa o Ministério da Saúde. Dados divulgados em setembro pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) apontam que cerca de metade das crianças brasileiras não recebeu todas as vacinas previstas no Calendário Nacional de Imunização em 2020.

Informações atualizadas até o último dia 7, destacam que a cobertura vacinal está em 51,6% para as imunizações infantis no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o ideal é que ela fique entre 90% e 95% para garantir proteção contra doenças como sarampo (que tem índice ideal de 95%), coqueluche, meningite e poliomielite.

Dados de Sorocaba são melhores

Em Sorocaba, os dados sobre a cobertura vacinal de crianças são melhores quando comparados com o cenário nacional. Números da SES apontam que pelo menos duas vacinas cumpriram a meta em 2020 e até a ultrapassaram: a BCG e a Pentavalente.

Conforme os dados municipais de 2020, a vacina BCG teve, até o momento, cobertura de 106,10% (meta 90%). A BCG é uma das primeiras vacinas indicadas para o recém-nascido. Ela protege contra as formas graves da tuberculose. Em 2019, a cobertura vacinal foi de 82,10% e não chegou a atingir a meta.

Já a Pentavalente teve cobertura vacinal, até o momento, de 106,41% este ano contra 52,09% no ano passado. A meta é de 95%. A vacina garante a proteção contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo B, responsável por infecções no nariz, meninge e na garganta.

Metas de cobertura ainda não foram atingidas

As cinco vacinas para crianças que ainda não atingiram suas metas em 2020 na cidade são a Poliomielite, Rotavírus, Pneumocócica, Meningocócica C e Tríplice viral. Conforme a SES, a Poliomielite, contra a paralisia infantil, teve até o momento a cobertura vacinal de 83,43%, sendo que a meta é de 95%. Em 2019, a cobertura foi de 85,39% e não atingiu a meta.

A vacina Rotavírus teve cobertura até agora de 81,07%, mas a meta é de 90%. No ano passado, a cobertura vacinal chegou a 75,73%. A vacina é indicada para prevenção de gastroenterites graves.

A Pneumocócica atingiu 91,10% da meta deste ano, que é de 95%. Em 2019, o índice ficou em 92,9%, ou seja, abaixo da meta. A vacina previne doenças graves (pneumonia, meningite, otite) em crianças.

Letícia e Álvaro Almeida, pais do pequeno Pedro de quase 2 meses. Crédito da foto: Arquivo Pessoal (21/9/2020)

A vacina Meningocócica C atingiu 87,49% até o momento de sua meta de 95%. No ano passado, o índice ficou em 18,2%, isto é, bem abaixo do esperado. A doença meningocócica é uma infecção bacteriana aguda, rapidamente progressiva e quase sempre fatal.

Já a Tríplice viral protege contra o sarampo, caxumba e rubéola. Em 2020, até o momento, a cobertura vacinal está em 88,98% para meta de 95%. Em 2019, o índice ficou em 90,35%.

A SES afirma que faz divulgação na imprensa e redes sociais, além da busca ativa que é realizada nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) para atualizar os índices. “Os pais e responsáveis são importantes no processo de controle dessas doenças e devem comparecer aos serviços de vacinação com suas crianças e adolescentes, levando a caderneta de vacinação para avaliação e registro. Vale ressaltar que todas as unidades de saúde seguem as medidas sanitárias para combater a Covid-19”, destaca.

Pandemia preocupa

Letícia Noemia Monteiro Almeida tem um bebê de quase 2 meses e afirma que por conta da pandemia não decidiu ainda se irá levar a criança para tomar vacina em uma das UBSs de Sorocaba.

Ela conta que fez a pesquisa de preços em clínicas particulares, que oferecem até o serviço de vacinação na residência, mas o custo é elevado. Segundo ela, custa cerca de R$ 5 mil para as doses das vacinas recomendadas até os 6 meses para aplicação em casa. “O custo é alto sim, mas também estou com um pouco de receio por conta da pandemia. O que não dá é para deixar sem a vacina. Se eu não levar na UBS farei na clínica ou a aplicação em casa, com o profissional adequado”, disse Letícia.

A diretora de Imunização do Centro de Vigilância Epidemiológica, médica Núbia de Araújo, afirma que as unidades de saúde dos municípios estão preparadas para a aplicação segura neste momento de pandemia e que as vacinas são realmente a melhor forma de prevenir doenças, sobretudo nas crianças. “Além da proteção individual, a vacinação funciona como uma proteção coletiva e é fundamental para que doenças como o sarampo, por exemplo, não retornem, como ocorreu. Então, precisamos todos, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos vacinados”, aponta.

A médica lembrou ainda que em 2020 a imunização contra a gripe atingiu mais de dezoito milhões de pessoas em todo o Estado, até por conta do medo da Covid-19. “Então, as pessoas foram aos postos para tomar a vacina e tudo ocorreu sem aglomerações. Deste modo, os pais devem levar seus filhos com segurança na rede pública”, orienta. (Ana Cláudia Martins)