Vila Santana completa um século de muitas histórias e tradição
Localizada no Além Linha e próximo ao Centro de Sorocaba, a tradicional Vila Santana está prestes a completar um século de existência. O bairro começou a ser povoado a partir da década de 1920 pelos trabalhadores da extinta Estrada de Ferro Sorocabana, que vieram transferidos de Mairinque. Em 1971, a Estrada de Ferro se tornou Ferrovia Paulista S/A (Fepasa).
Em 1923, com a construção da então capela de Santa Rita de Cássia, o bairro começou a ser bem mais frequentado. Em seguida, a Vila Santana também recebeu operários das antigas fábricas de tecelagem que existiam em Sorocaba.
A influência ferroviária se perpetua no bairro até hoje, tanto que o Sant’Ana Atlético Clube, uma das mais tradicionais agremiações da cidade, foi fundado por ferroviários em 5 de maio de 1948, na rua Miguel Sutil. A partir de 1952, o clube se mudou para a rua Borba Gato, onde continua funcionando até hoje com eventos aos sábados à noite e aos domingos, uma vez por mês.
Há 71 anos em funcionamento, o Sant’Ana Atlético Clube faz parte de muitas lembranças de moradores e ex-moradores da Vila Santana. O local ficou bastante conhecido na cidade pelos memoráveis bailes que eram realizados e reuniam centenas de pessoas. Além dos bailes de carnaval, o Sant’Ana era palco da festa da Rainha das Rosas, Baile das Bolas, Festa da Rainha da Saudade, Baile das Dez Mais, além de movimentados campeonatos de truco, dama e botão. O clube também teve um time de futebol amador, cuja sede e quadra ficavam na rua Piratininga. O atual presidente do Sant’Ana Atlético Clube, Djalma José Coelho, afirma que seu pai, Álvaro Coelho, junto com outros amigos, foi o responsável pela criação do clube. “Meu pai, já falecido, jogava bola no Estrada e junto com outros amigos decidiu formar um clube no bairro, junto com um time de futebol amador”, diz.
Segundo Djalma, o grupo se reunia nas tardes de domingo para conversar sobre futebol nas imediações das ruas Moreira Cabral e Miguel Sutil. “Quase todos tinham sido jogadores do Estrada, time de grande tradição na época, mas, como haviam chegado à idade limite, não puderam mais continuar jogando na equipe. Álvaro Coelho, Mário Guidolin e Clodoaldo Pontes da Silva reuniram outros 30 trabalhadores da ferrovia e em fundaram o Sant’Ana Atlético Clube”.
Djalma lembra ainda que o famoso Baile das Rosas, idealizado pelo saudoso Roque Mendes, foi um dos acontecimentos de maior destaque da agenda social de Sorocaba entre as décadas de 50 e 90. O clube chegava a receber mais de 500 pessoas por noite e sua primeira rainha foi Florinda Baptista.
Santa Rita
A igreja de Santa Rita de Cássia, conhecida como a padroeira das causas impossíveis, também é outra marca importante para os moradores da Vila Santana. A antiga, existente até hoje e localizada bem próxima à igreja nova, possui há 65 anos um relógio carrilhão, que foi colocado no topo da torre e é uma referência para os moradores do entorno.
As badaladas do relógio, que ecoam pelo bairro ao longo do dia, fazem parte do cotidiano e ajudam na rotina da vizinhança. Já a nova igreja de Santa Rita, localizada na rua Bartolomeu de Gusmão, completou 25 anos em maio deste ano. Aliás, todo ano, sempre em 22 de maio, acontece a tradicional “bênção das rosas”, em homenagem à padroeira. A celebração reúne centenas de fiéis não só da Vila Santana, mas também moradores de outros bairros da cidade.
Tendência comercial
Como ocorre nos bairros mais antigos de Sorocaba, atualmente a Vila Santana possui muitos moradores que já passaram dos 60 anos de idade. Com o aumento do comércio no bairro, que atualmente abriga diversos estabelecimentos comerciais, principalmente na rua Olavo Bilac e nas ruas próximas, muitos moradores se mudaram. O aumento de casos de furtos e roubos também ajudou uma parcela dos moradores a se buscarem condomínios ou apartamentos em outras regiões da cidade.
Porém, quem ficou não troca a Vila Santana por nenhum outro bairro da cidade. É o caso do proprietário do tradicional Bar do Gastão, que fica na rua Foschi Baddini, 40. Humberto Fasoli, 86 anos, mais conhecido no bairro como Gastão, mora na Vila Santana desde 1945 e possui uma infinidade de histórias para contar.
Ele conta que o bar funciona desde 1947 e que foi aberto pelo pai dele. Gastão lembra com saudade daquela época, quando o bairro era bastante tranquilo, com ruas de terra, sem rede de esgoto, e o veículo de transporte mais comum era a charrete puxada por cavalos. “Aqui é muito gostoso. Não pretendo sair do bairro depois de tantos anos vividos aqui”, diz. (Ana Cláudia Martins)