A importância da extensão rural
Falta criar uma ponte rápida e eficaz para ligar pesquisa à produção do agronegócio
O agronegócio brasileiro é reconhecidamente um dos mais tecnificados do mundo. O resultado disso é expresso em números: o volume de exportações do setor bate recorde a cada ano, a participação do agro no PIB nacional não para de crescer e o valor bruto de produção (toda riqueza produzida dentro das porteiras) em 2021 deve ultrapassar a marca de R$ 1 trilhão, batendo um recordo histórico. Parte deste sucesso está no empenho e trabalho duro do produtor rural, que começa sua lida quando o dia ainda está raiando e não importa se é sábado, domingo ou feriado. O trabalho no campo não para nunca!
Mas parte importante deste sucesso é resultado de um trabalho sério, desenvolvido nas universidades e entidades de pesquisa. Quer ver um exemplo? A Embrapa registrou o pedido de uma patente, na qual cientistas brasileiros criaram circuitos genéticos capazes de “ligar” e “desligar” os genes de plantas e animais.
Trata-se de uma tecnologia inovadora que permite, por exemplo, que uma planta apresente resistência à seca somente quando, e se, for submetida a condições de estresse hídrico. A mesma tecnologia pode ser usada como sensores de poluição e até mesmo no combate ao câncer! Observe que essa pesquisa não impacta apenas na produção, mas também pode ser uma ferramenta para ajudar em temas importantes como meio ambiente e saúde.
Mas não podemos esquecer que ainda precisamos enfrentar uma questão básica: as tecnologias inovadoras, desenvolvidas nos laboratórios de pesquisa, demoram -- e muito, para chegar no sistema produtivo.
Isso nos leva à questão principal desse artigo: a importância da extensão rural. Imagine o que o produtor brasileiro será capaz de fazer se tiver acesso rápido e irrestrito a essas inovações!? Se já somos destaque mundial na produção de alimentos com responsabilidade e sustentabilidade, seríamos também uma referência em desenvolvimento técnico e científico, capaz de exportar soluções (e não apenas commodities).
Falta criar uma ponte rápida e eficaz para ligar pesquisa à produção. E não é de hoje. Há tempos as associações e entidades do setor lutam para que o caminho entre os cientistas e o homem do campo sejam encurtados. Isso só será possível se tivermos uma política pública que encare este problema com a urgência que ele merece. Não dá mais para contar apenas com a própria sorte, é preciso usar toda a competência e criatividade que temos disponível.
O mundo é globalizado e cada vez mais os desafios terão proporções globais. Se quisermos manter nossa posição de líder mundial, temos que unir teoria e prática com a mesma velocidade com que o mercado consumidor cresce.
Desburocratizar o acesso à pesquisa e abrir frentes de estudos capazes de qualificar a mão de obra no campo, desde as tarefas simples do cotidiano até a utilização de técnicas avançadas em produção, reprodução e genética, é a maneira mais eficiente de fortalecer a atividade rural e dar subsídios para que o produtor continue cumprindo seu papel com excelência.
As entidades de pesquisa estão fazendo a sua parte: descobrem, criam e desenvolvem tecnologias inovadoras; o homem no campo também faz o seu trabalho: usa de criatividade e persistência para conseguir resultados positivos e dar fôlego para nossa balança comercial.
E as políticas públicas? Estão cumprindo o seu papel como deveriam? Esse trabalho tem melhorado nos últimos anos, mas ainda estamos longe do ideal. É preciso olhar com mais cuidado para o setor que apresenta os melhores resultados econômicos do País. A vocação do Brasil está no campo, mas ela passa pelos centros de pesquisa!
Denis Deli é jornalista especializado em agronegócio, pós-graduado em produção e reprodução animal.