Como produzir alimentos mais baratos?
A vocação do Brasil é produzir alimentos e o agronegócio foi responsável pelos únicos números positivos da nossa economia, durante o longo e severo período de restrições impostas pela Covid-19. Mas, às vezes, parece que o sucesso do setor nos faz esquecer os desafios que são enfrentados todos os dias, para fazer com que esta “vocação” se transforme em “resultados”.
A vida do produtor rural não é fácil. Além de enfrentar problemas com variáveis que fogem ao controle, como clima e oscilações de preço (tanto na venda de produtos como na compra de insumos), é preciso carregar nos ombros o peso da responsabilidade que envolve uma produção agrícola eficiente e sustentável.
Dados da Organização Nacional das Nações Unidas (ONU) apontam que cerca de 70% da água do planeta é destinada à irrigação. Todos sabemos que este é um recurso finito, portanto, é obrigação do produtor fazer uso consciente da água, buscando alternativas como o sistema de plantio direto, por exemplo, que melhora a infiltração de água no solo e reabastece os lençóis freáticos. Mas isso tem um custo, e ele é do produtor!
A variação climática também é outro “leão” que precisamos matar todos os dias. Sorte que já existem tecnologias que ajudam na rotina de uma propriedade. Mas elas custam!
Alguém consegue imaginar um sistema de produção sem o uso de energia? Mais uma vez, cabe ao produtor ser criativo e investir em modelos de produção sustentáveis e renováveis de energia limpa.
Aliás, a preocupação ambiental é outro fator que deve sempre ser observado. Nós temos a responsabilidade de alimentar a população mundial, mas sem perder de vista a preservação do meio ambiente. Afinal, vamos precisar dele para continuar produzindo.
Abastecer as dispensas de uma população que cresce a cada dia é o grande desafio do agronegócio mundial. Imagine então a importância do Brasil neste cenário, já que ostentamos com orgulho o título de “celeiro do mundo”.
Mas não basta apenas quantidade, é preciso ter qualidade. Dê uma olhada rápida ao seu redor para ver que a obesidade é um problema crescente. Na outra ponta, é preciso combater a subnutrição que afeta, principalmente, a população de baixa renda. Portanto, produzir alimentos saudáveis e com preços acessíveis talvez seja o maior desafio.
Um bom começo para resolver este problema é diminuir o desperdício de alimentos. Segundo a Organização das Nações Unidades para Agricultura e Alimentação (FAO), cerca de 30% dos alimentos produzidos são desperdiçados. Parte disso acontece nas casas. Mas uma parcela do problema está no transporte e armazenamento. De novo, recai sobre o produtor resolver mais um problema... e arcar com seus custos!
Todos os “problemas do mundo” são “problemas nosso” porque vivemos num mundo globalizado. Isso quer dizer que a todo momento são importados e exportados alimentos e animais. Se o produtor não tiver um controle sanitário eficiente e total atenção à legislação de cada país, principalmente no controle e combate de doenças e pragas, um problema local pode se tornar global. Vê como é grande a pressão sobre o produtor?
Todas estas questões, juntas, nos levam a uma grande responsabilidade social, em que precisamos produzir com eficiência, de maneira sustentável, gerando renda no campo e na cidade, proporcionando inclusão social e melhoria na qualidade de vida, produzindo alimentos saudáveis, acessíveis e de baixo custo, com pouco impacto ambiental e segurança.
Como se não bastasse, ainda precisamos pensar na falta de mão de obra qualificada no campo, causada por anos de migração para as cidades em busca de melhores oportunidades. Uma alternativa para este problema é a mecanização da produção, e para isso, o uso da tecnologia é indispensável.
São muitas as opções disponíveis no mercado: aplicativos, sistemas de gerenciamento e monitoramento, mecanização de lavoura, combate a pragas e doenças, mapeamento de áreas, simuladores de desempenho, tratores autônomos e até cochos eletrônicos -- para citar alguns.
Sem dúvida, essas tecnologias ajudam o produtor a cumprir com mais facilidade todas as suas responsabilidades. Mas de novo: isso tem um custo. Será que existem incentivos suficientes para que os pequenos e médios produtores tenham acesso a essa tecnologia? As linhas de crédito são acessíveis e de baixo custo? Afinal, se o custo de produção subir, quem vai pagar a conta? O consumidor. Portanto, sempre que você vir alguma política de incentivo ao desenvolvimento tecnológico no campo, não pense que é “dinheiro público ajudando fazendeiro rico”. Pelo contrário, apenas um campo forte e com tecnologia de ponta será capaz de reduzir um dos grandes problemas da desigualdade social: o direito básico de se alimentar.
Denis Deli é jornalista especializado em agronegócio, pós-graduado em produção e reprodução animal.