Coworking vira realidade em condomínios residenciais
O advogado Davi Dias de Azevedo estava em busca de um novo apartamento para comprar e uma sala comercial para alugar. Precisava conciliar as ações jurídicas com os estudos para concurso público. Ao encontrar um empreendimento residencial com coworking - o Nomad, em Moema, São Paulo, entregue em outubro de 2018 pela construtora SKR -, ganhou uma nova moradia, uma economia de quase R$ 2 mil no orçamento e ainda três horas por dia, que seriam gastas no trânsito. ‘Hoje eu consigo almoçar em casa, ver meus cachorros e me dedicar ainda mais para os estudos‘, diz Davi.
Modelo de escritório baseado no compartilhamento de espaço e recursos tecnológicos, e até então presente apenas em prédios comerciais, o coworking passou a marcar presença nos condomínios residenciais, apontando uma nova tendência de moradia.
De acordo com o estudo Millennials Future Home 2020, feito pela consultoria internacional WGSN, a geração millenial - que envolve pessoas nascidas entre 1979 e 1993 - está abraçando um novo modelo de morar. “Os millennials têm um estilo de vida profissional mais ativo, porém vivem em espaços menores e por isso precisam de locais adaptáveis”, conta Maria Kowalski, expert da empresa.
Esse é o padrão dos empreendimentos com coworking que vêm sendo lançados em São Paulo, e que já existem em Sorocaba: apartamentos com metragem que varia de 10 m² a 90 m², localizados em bairros onde a mobilidade é um fator prioritário - próximos de estações de metrô ou terminais de ônibus -, e cujo metro quadrado pode custar, em média, R$ 14 mil.
“Muita gente acaba abrindo mão de morar em apartamentos com grande espaço para morar em imóveis menores, porém mais centralizados e com boa infraestrutura”, diz Alexandre Tagawa, publicitário da Eztec.
O perfil de público que consome esses empreendimentos com coworking é bastante eclético. Vai de profissionais liberais a microempreendedores, solteiros ou com pequenas famílias. “São pessoas que prezam por sua autonomia profissional e pela economia de tempo na locomoção do dia a dia”, enfatiza Alexandre Frankel, CEO da Vitacon.
Para Marcelo Dzik, diretor comercial e de clientes da Even, o coworking ainda está bastante vinculado ao conceito de apartamentos compactos. “A ideia é que espaços como o coworking sejam a extensão do apartamento. Ele vai de casa para o trabalho e do trabalho para casa em questão de minutos”, diz Dzik.
Ricardo Pajero, gerente comercial da MAC, afirma que esses espaços incentivam ainda a socialização e o networking entre os moradores.
Em Sorocaba
Espaços de coworkings não são realidades distantes de Sorocaba, é o que acredita o publicitário e gestor de marketing da MGT Bolina Urbanismo, Antonio Francisco Pacheco. Falando a partir de seu conhecimento pessoal do mercado imobiliário regional, Antonio Pacheco diz acreditar “que sim, que isso é possível. Sendo um tendência de comportamento de outras grandes cidades brasileiras, por que não aconteceria aqui?”.
Ele explica que Sorocaba “não é mais uma cidadezinha do Interior, suas necessidades são muito próximas da de uma Capital, como São Paulo ou Rio”. Ele conta que já teve uma agência de publicidade com 40 funcionários, “mas nunca mais faria isso. Hoje, minha agência está dentro de uma mochila. Se precisar de um espaço para receber um cliente, fazer uma reunião, será num local como esses”.
Cléber Donaire, diretor da Brink Construtora e Incorporadora, confirma isso: “Já em 2012 a Brink lançou e já entregou o Alpha Club, empreendimento residencial com 480 unidades, na Avenida Rogério Cassola, que possui um Espaço Office e uma Lan House, onde os moradores podem atender clientes e trabalhar. A empresa trouxe essa tendência inspirada em empreendimentos que estavam sendo lançados nos EUA, com esse mesmo conceito e sucesso”, conta.
E lembra que “a empresa está em vias de relançar o Blue Afonso Vergueiro, que está em fase de finalização. Será o primeiro studio de Sorocaba, com 26 m², dispondo de lavanderia comum e já com sistema de coworking, em que, além de contar com um restaurante que estará ligado à área das estações de trabalho, com mais de 30 lugares, também possui um auditório para apresentações e sala de reuniões, integrando com o lobby, de mais 800 m²”. “O Blue Afonso Vergueiro poderá integrar pessoas para morar, trabalhar e, por que não, criar e fazer negócios, focado em um público jovem e arrojado”, diz o diretor da Brink.
Estrutura
Há alguns anos, antes do coworking, era possível encontrar em empreendimentos pequenas salas de home-office, sem boa infraestrutura. “Havia no local só um computador com acesso à internet e um fax”, conta Andréa Bellinazzi, diretora de Inteligência de Mercado da Tegra Incorporadora.
Hoje, o coworking condominial é semelhante ao modelo de trabalho que funciona em prédios comerciais. Conta com um ambiente arquitetônico bem resolvido, em geral com mesas, bancadas, poltronas, cadeiras, wi-fi, ar-condicionado, sala de reunião, equipamentos de uso comunitário como impressoras, máquinas de xerox, cafeteiras, entre outros.
De acordo com Silvio Kozuchowicz, CEO da incorporadora SKR, se a infraestrutura do coworking não for adequada, o condômino desiste de seu uso. “A arquitetura com uma ambientação correta e uma iluminação agradável traz alegria ao ambiente, além de criar um fluxo de pessoas e de favorecer a retenção dos condôminos no espaço”, destaca o executivo, cuja marca tem em operação o condomínio Nomad, em Moema, que aposta no conceito da hospitalidade, inspirado no mercado hoteleiro e focado em serviços.
A tendência do trabalho sem deslocamentos é visto como um caminho sem volta. Segundo o relatório Quatro Ideias que Estão Moldando o Futuro do RH e da Contratação, feito pelo LinkedIn, mais de 70% das pessoas entrevistadas querem ter flexibilidade de horário ou trabalhar remotamente.
“Em um minuto, o condômino se deslocará do trabalho para a academia, da cozinha para o computador, do elevador para o trabalho. Terá acesso a todos os serviços em um único lugar”, analisa Frankel, da Vitacon. (Da Redação, com informações de Estadão Conteúdo)
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