Investimento baixo e retorno alto com energia sustentável
Pense nessa proposta. Você e sua família - seis pessoas, digamos - moram numa casa de 150 m² e consomem cerca de 265 kWh/mês de eletricidade; você decide investir R$15 mil num sistema de produção de energia elétrica através de células fotovoltaicas (que usam o sol como fonte primária), valor este financiado por uma instituição bancária em 60 meses, com facilidades garantidas por lei.
De imediato, você passará a pagar apenas a tarifa mínima para a fornecedora de eletricidade (no caso de Sorocaba, a CPFL Piratininga), pois gerará sua própria energia. Quando acabar o financiamento - com a parcela de cerca de R$ 400,00 paga em boa parte com o dinheiro economizado na conta -, o equipamento será seu, e funcionando por mais uns 20 anos, no mínimo.
Gostou da proposta? Pois não há pegadinha nenhuma nela.
Acabou-se o tempo em que energia elétrica a partir do sol era coisa do futuro, custava caríssimo e exigia equipamentos complexos. As pesquisas ininterruptas conseguiram integrar equipamentos, reduzir sistemas, desenvolver placas muito mais eficientes; a legislação que privilegia - e ajuda a financiar - a produção de eletricidade fora das hidroelétricas deu um passo enorme quando permitiu que o excesso produzido numa instalação doméstica seja injetado na rede distribuidora e fique disponível por cinco anos para o fornecedor (você!).
Segundo Luiz Cláudio Rosa, diretor da Viridian Ecoenergia, empresa especializada na instalação desses sistemas, o custo dos equipamentos caiu “perto de 50% de 2012 para cá, ano em que saiu a regulamentação da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica ) para o setor”. Antes dessa norma - a RN482/12 - não havia um mercado para a energia elétrica fotovoltaica; depois dela, passou a existir, e os preços começaram a cair.
Para Luiz Albano da Silva, professor de instalações elétricas prediais, softwares e gestão de obras do curso de Arquitetura e Urbanismo da Uniso, “nos últimos cinco anos tivemos uma queda nos valores de instalação de sistemas de abastecimento solar na casa dos 15% a 20%”. Ele cita em particular a Envo, empresa do grupo CPFL, instaladora de sistemas fotovoltaicos. “Isso se deve a dois fatores: (1) o barateamento nos insumos utilizados na confecção dos painéis e (2) a integração de tecnologias de ambas as empresas, o que facilita a ligação dos equipamentos na rede convencional”.
Uma conta que é quase nada
Um bom projeto considera que as placas fotovoltaicas devem gerar mais que o consumo diário; esse excesso é injetado na rede de distribuição da CPFL - é o tal sistema de “compensação de energia” (ou “créditos de energia”) criado pela Resolução da Aneel. Esse excesso deve ser o suficiente para que, durante a noite, quando as placas não funcionam e o consumo é menor, será suprido pela distribuidora, sem custo, pois é a sua própria energia, gerada pela sua instalação, que está voltando.
Sem custo? bem, não exatamente. Há, sempre, uma taxa básica a ser pagada, mesmo sem consumir eletricidade nenhuma que não seja a sua, taxa esta destinada a remunerar a existência da rede de distribuição. É a Tusd - Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição.
Segundo a assessoria de imprensa da CPFL, “É cobrado, no mínimo, o custo de disponibilidade para o consumidor do grupo B (clientes residenciais). Esse custo de disponibilidade (...) corresponde ao valor equivalente a 30 kWh, se monofásico (...) a 50 kWh, se bifásico (...) ou a 100 kWh, se trifásico”.
Mais. “Para deixar mais claro, peguemos um exemplo de um cliente residencial que seja bifásico e que seja enquadrado na tarifa convencional (552,92 R$/MWh). O valor mínimo a ser pago à CPFL Piratininga é de R$ 27,64.” Para um cliente monofásico, o valor cai para R$ 16,58.
Então, se você pagava, digamos, R$ 240, e passou a pagar R$ 27,64, ou R$ 16,58, já está de bom tamanho, não? Sem contar que não há mais bandeira vermelha, verde ou amarela, nem elevação de tarifa, para você. Isso para não falar da autonomia, da não dependência.
Componentes do sistema
De acordo com Albano, “o sistema é composto por painéis solares, inversores, relógio medidor bidirecional e banco de baterias (opcional). Durante o dia os painéis solares geram corrente elétrica contínua (CC, como as de uma bateria ou pilha) que vai para os inversores, que a convertem para corrente contínua (CA), a de sua casa) e alimentam os circuitos internos, como lâmpadas, tomadas, etc”.
À noite, sem produção pelas placas, a eletricidade vem da rua; o excesso produzido durante o dia é injetado na rede externa.
Se a energia da CPFL cair ou for desligada, o excesso para de ser injetada na rede da rua, também de maneira automática. Assim, não se corre o risco de dar um choque num técnico que esteja trabalhando num poste...
Caso haja um banco de baterias - instaladas antes do inversor, são alimentadas pelas placas e usadas à noite, caso haja queda de energia da rua, por exemplo. Entretanto, quantas vezes por ano a eletricidade externa cai à noite, e por quanto tempo? As baterias tendem a ser, ainda, componentes caros, desajeitados, com uma pegada ambiental pesada. A opção pelo seu uso deve ser bem pensada.
O relógio medidor - aquele que fica no poste padrão - é bidirecional, e irá contabilizar a energia excedente, e a que veio da CPFL. A conta de luz será calculada pela diferença entre os KWh usados e os produzidos - mas já sabemos que se o sistema foi bem dimensionado não haverá mais conta de consumo, certo?.
Ah, detalhe importante. Ao contrário do que o senso comum indica, as placas trabalham com eficiência próxima dos 100% no inverno. Luiz Rosa explica que, nessa época, chove pouco e há menos nuvens no céu. No verão há mais dias nublados e mais chuva..
Redução de gastos
Albano lembra que o processo todo “vale muito a pena. Mesmo não excluindo a necessidade de se pagar mensalmente em conta pela estrutura de troca de energia (a Tusd), os índices de redução de conta podem chegar à 95%. Em termos de retorno do investimento, dependendo do uso em KWh da construção, isso pode se dar em coisa de 4 a 5 anos”. Luiz Rosa concorda, e fala em um payback - período de recuperação do investimento - de 4 anos e meio.
Albano cita empresas que, como a Viridian, se destacam na região de Sorocaba: “a Envo, a CSolar, a Solaritima e a Ideal são referências que conheço de qualidade em sistemas solares”.
Para ele, “É interessante consultar a empresa escolhida para um orçamento, mas normalmente as opções de pagamento incluem cartão, boleto e financiamento, facilitando a aquisição. É importante lembrar que, além de ter um bom custo-benefício, ela é ecologicamente sustentável e é de extremo interesse de utilização atualmente, levando em conta os problemas que temos na matriz energética brasileira. Em termos de manutenção, a limpeza é essencial para manter o rendimento de geração de energia. Outras manutenções seguem padrão de instalação normal, pela NBR 5410, como cuidados com ressecamento de cabos, emendas de cabos etc”.
Um caminho para os condomínios
Dentre os vários prédios nos quais funciona a instituição BOS - Banco de Olhos de Sorocaba - um deles, recém inaugurado, merece atenção especial. Trata-se de uma pequena construção, com três andares acima do térreo, erguida ao lado do edifício principal, onde fica mo Hospital Oftalmológico.
O prediozinho abriga o Instituto BOS; lá estão centros de estudo, salas de aula e alguns auditórios, voltados ao programa de residência médica da instituição; clínica de atendimento popular, além de áreas administrativas. Por todos os lados, computadores, impressoras, telefones, condicionadores de ar, equipamentos profissionais, bebedouros, lâmpadas, tomadas e, claro, um elevador. Um conta de eletricidade que, nos dias de verão, quando o consumo é maior, poderia chegar aos R$ 8 mil. Poderia, mas não chega.
A construção, desde seu projeto, foi preparada para receber placas fotovoltaicas em seu telhado. São 183 delas ocupando um área de 360 m², que geram cerca de 7.200 kWh/mês - o suficiente para suprir cerca de 70% das necessidades do Instituto. Em alguns períodos, explica Luiz Rosa, da Viridian Ecoenergia, responsável pelo projeto e instalação, chega a 100% - no inverno, quando diminui muito o uso do condicionador de ar, e as placas funcionam com mais produtividade.
A conta varia, conta Teófilo José Silva, engenheiro da área de Tecnologia da Informação, de R$ 2.500 a R$ 3.000 “agora no verão, quando a demanda é maior”. Sem a auto geração, a conta chegaria a um valor entre R$ 7 mil e R$ 8mil. Ou seja, uma economia média mensal é de R$ 4.500.
Teófilo diz que o Instituto é um projeto piloto, pois há a intenção de levar essa energia gerada “em casa” para os outros prédios do Bos. “Mas eles não têm área suficiente nos telhados para a instalação das placas. Assim, optamos pela instalação em um outro terreno”.
Essa é uma operação permitida - e que pode ser muito interessante para moradores de condomínios verticais, normalmente com pouco terreno disponível. Trata-se de instalar as placas, inversores, transformador, enfim, toda a parafernália necessária, em outro local, onde caiba tudo, jogar a energia gerada na rede e, depois, consumí-la nos pontos onde for necessária.
As normas da Aneel permitem que a energia produzida em um local seja consumida em outro, desde que os dois pontos estejam sob o mesmo CPF ou CNPJ.
Condomínios com pouca área para instalação podem usar as placas fotovoltaicas que couberem para gerar energia para as áreas e serviços comuns - bombas da piscina, iluminação, elevadores, etc. Sempre será possível diminuir parte dos gastos.
Já em locais com mais espaço, como condomínios horizontais - ou investindo em um terreno onde colocar a instalação, como o BOS fará - é possível gerar energia suficiente para abater parte significativa, ou tudo, da conta dos condôminos. É algo que, em breve, estará disponível já no projeto de novos lançamentos, não há dúvida. (Antonio Geremias)