Saramago para as crianças

Artigo escrito por Vanessa Marconato Negrão

Por Cruzeiro do Sul

Já começo dizendo que essa leitura fez festa dentro de mim, e que nesse livro li um dos trechos mais bonitos dos quais tenho lembrança. Coisas de Saramago, não esperava menos. José de Sousa Saramago foi um escritor português, ganhador do Nobel de Literatura de 1998, a maior distinção que um escritor pode conquistar. Também ganhou, em 1995, o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa, além de ser considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.

A história é sobre um menino ajudante de pastor, que tem como missão ajudar seu líder a conduzir uma vara de porcos -- a mãe e seus filhotes -- à feira de Santarém, a pé, a quatro léguas de distância. Falando assim parece coisa simples, mas 4 léguas para os portugueses equivale a 16 quilômetros aqui para nós. E vocês hão de concordar comigo: não é nada fácil andar 16 quilômetros assim de uma vez, ainda mais a passo de porco, que contavam somente com suas patinhas miúdas.

Como a caminhada foi longa, se deu a necessidade do descanso, era preciso encontrar um pouso para passar a noite e renovar as forças para dia seguinte. E foi aí que fez-se a poesia. Com a noite vieram as estrelas, a lua e um sem fim de formas e contornos da escuridão. O menino de 12 anos, admirou-se das sombras da noite e depois das luzes da aurora e do poente, tornando aquela viagem inesquecível na sua imaginação.

Ao término da leitura alcancei a minha própria infância, e tive a sensação de quase apalpá-la entre os dedos. Porque a infância é algo que adormece dentro de nós e nunca acaba, se abriga numa cabaninha dentro do coração, a espera de um descuido de meninice. Como diria o próprio Saramago: “O mito do paraíso perdido é o da infância -- não há outro.”

“Uma luz inesperada” é ilustrado por Armando Fonseca e publicado pela Companhia das Letrinhas.

Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada por literatura infantil.