90 anos da Revolução Constitucionalista: exposição em Itu conta a história da ‘guerra paulista’

Mostra do Museu Republicano homenageia a participação popular de São Paulo na luta por uma nova Constituição para o País

Por Thaís Marcolino

Uniformes dos combatentes e até capacetes e granadas compõem o acervo exposto aos visitantes

Para o Estado de São Paulo, o dia 9 de julho representa um marco em sua história. Estamos falando da Revolução Constitucionalista de 1932 -- um movimento armado contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas, presidente da época, e que defendia uma nova Constituição para o Brasil. Durante quase quatro meses, os paulistas entraram em confronto com tropas fiéis a Vargas e, isolados, foram derrotados.

Para relembrar esse marco para a sociedade paulista, que refletiu nas decisões seguintes de ordem nacional, como em 1934 -- ano que foi decretada a nova Constituição da época --, o Centro de Estudos do Museu Republicano de Itu está com uma exposição chamada “Itu e a Revolução de 32”. Ela explica o que foi o movimento e conta com um acervo exclusivo de objetos e registros da época, além de evidenciar os voluntários ituanos.

“Essa exposição mostra a participação popular de São Paulo para pedir uma Constituição e também aponta a importância de uma localidade como Itu no processo republicano e de revolução. Todo esse conhecimento é uma oportunidade para conhecer mais sobre o lugar que vivemos.” comenta a pesquisadora do Centro de Estudos, Anicleide Zequini. “Ela (a exposição) também é uma chance do assunto ser discutido em sala de aula com os alunos”, finaliza.

A mostra, uma parceria entre Museu da Música, Museu Paulista e Centro de Estudos, começou a ser idealizada no início do ano e, de acordo com cada departamento, foi realizada a busca no acervo e criação do roteiro. A exposição foi aberta na último sábado (9) e fica disponível para visitação até dezembro, de domingo a segunda, das 10h às 17h. É obrigatório apresentar o comprovante de vacinação contra a Covid-19 e usar a máscara de proteção. A entrada é gratuita e, para visitações em família, não é necessário agendamento.

Para visitas em grupos maiores, escolares ou não, é preciso fazer agendamento no email do Museu (edu.mrci@usp.br) ou ligando nos telefones (11) 4023-0240 ou (11) 4023-2525. O Centro de Estudos do Museu Republicano fica localizado na R. Barão do Itaim, 140, no Centro de Itu.

A mostra

Assim que entram no espaço, os visitantes já ficam sabendo o que gerou a Revolução Constitucionalista de 32 e alguns recortes de documentos. Em seguida é apresentada, brevemente, a importância de Itu em todo o contexto histórico para o Brasil. Aí sim os visitantes tem acesso a objetos, documentos e homenagens. São mais de 30 itens, sendo eles: documentos, partituras de músicas, capacetes, condecorações, medalhas, armamentos etc.

As mulheres tiveram um papel fundamental na Revolução de 32. Mães, filhas e esposas dos soldados foram chamadas para atuar na retaguarda como enfermeiras, costureiras e cozinheiras para quando os soldados voltasses das batalhas. Não há registros de quantas chegaram a ter esse papel. Mas uma das mulheres que tive um papel significativo e a única que aparece em registros oficiais é Francisca das Chagas Oliveira, mais conhecida como “Nhá Chica Messias”. Ituana, ela atuou como soldada e enfermeira e, diante de sua relevância para a cidade, ela é uma das homenageadas da exposição.

Promovendo a acessibilidade, em toda a exposição há cartazes e explicações do uso dos objetos na linguagem braile - usada pelos cegos. Para aumentar a experiência dos visitantes, alguns objetos como a matraca (um simulador de tiros usado pelos civis para dizer aos inimigos que eles teriam diversos armamentos), capacetes e uma granada podem ser tocados.

Na seção sobre as músicas produzidas durante os meses de batalha, é possível ouvir o hino “O passo do soldado” de Marcello Tupinambá. Para isso, o visitante pode usar a ferramenta QR Code e ouvir a música que tem aproximadamente 2 minutos e traz frases como “Marcha, soldado Paulista” e “Marca o teu passo na História!”

Cerca de 300 homens que faziam parte do 3° Batalhão de Caçadores Voluntários de Itu foram para frente de batalha. Os combatentes ituanos deram apoio de fogo às tropas constitucionalistas na chamada Frente Norte, no Vale do Paraíba, percorrendo as cidades de Lorena, Cachoeira Paulista, Silveiras, Areias e Santa Rita. Além dos combatentes que tiveram ativa participação a partir do dia 9 de julho de 1932, a cidade é marcada pela relevância quando é falada a palavra República.

Itu é conhecida pelo berço da República por ter sediado a Convenção de Itu -- assembleia na qual foi fundado o Partido Republicano Paulista. Tal movimento era uma forma de reafirmar o discurso de valorização do papel da Convenção de Itu no processo que resultou com a proclamação da República em 1889. A cidade também abriga o Museu da República, que representa todo o movimento que foi tão marcante pra história do Brasil.

Revolução também é tema de mostra no MIS

Não é só no interior paulista que a Revolução de 1932 é celebrada. O Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, promove até 11 de setembro a exposição “1932: Revolução, Constituição e Cidadania -- A força de um ideal”.

A exposição foi desenhada e concebida para ser imersiva e contemplativa, com peças e cenários recriados a partir de pesquisas e fotos, que ilustram de forma didática o panorama brasileiro e mundial na década de 30, ao transportar o visitante para os 90 dias da revolução. Além de conferir itens históricos originais, fotografias, instalações e textos que elucidam questões da época, o visitante terá a oportunidade de vivenciar tudo o que ocasionou o conflito até seus desdobramentos históricos, tecnológicos e políticos gerados pelo movimento constitucionalista.

A mostra funciona de terça a domingo, das 11h às 19h, no Espaço Expositivo 2º andar do MIS, que fica na av. Europa, nº 158, no Jardim Europa, na Capital. A entrada é de graça, mas é preciso reservar o ingresso antecipadamente no site mis-sp.byinti.com. (Thaís Marcolino)