Um "cãopanheiro" treinado para a vida
Alunos da escola municipal Professora Julica Bierrenbach passaram a ter um colega bem especial
Com certeza você já ouviu alguém falar que ‘o cão é o melhor amigo do homem’. Essa frase reflete o carinho e a parceria para as mais de 54 milhões de pessoas que moram aqui no país e tem um cachorrinho de estimação em casa. Só que para a pessoa com alguma deficiência visual essa relação vai além, significa a independência.
É que em muitas situações fica mais difícil fazer alguma tarefa do dia a dia e pode aumentar a exposição a algum risco. Então é aí que entra a importância do cão guia para o deficiente visual. Com os cães, além de um companheiro para todas as horas; os animais passam a ser “olhos” da pessoa cega.
Realmente é incrível, né?
Porém, você sabia que existem cerca de 7 milhões de deficientes visuais no Brasil e apenas 200 cães capacitados como guias? Pois é, essa conta não fecha, e é uma pena. O número de cães que auxiliam os cegos só vai aumentar se tiver a nossa colaboração.
Quem tem esse amor e hoje ajuda para que isso aconteça é a Elaine Mendes da Silva, vice-diretora de uma escola de Sorocaba. Ela conheceu um instituto aqui da nossa região que faz esse trabalho e doa os animais que estão aptos a essa nobre missão após um pouco mais de um ano de treinamento. Uma das etapas do treinamento é com as famílias socializadoras, na qual Elaine faz parte agora. O papel desta família é mostrar e treinar o cão. Assim ele vai conviver em situações rotineiras em vários ambientes: escola, trabalho, transporte público, consultório médico, restaurante, igrejas, etc. Depois desse período, os cães voltam para o instituto onde passam pelos últimos testes e, caso tenham compatibilidade com o deficiente visual, o animal já treinado passa a ser seu guia.
A vice-diretora já conhecia o projeto, mas só decidiu fazer parte há três meses, depois que uma cachorrinha sua faleceu. Para ela, o Benjamim, da raça labrador retriever, que agora está com cinco meses, veio mostrar que o amor não é egoísta. “Eu amo muito o Benjamin, mas eu sei que ele vai embora daqui um tempo. E esse projeto é um bem que envolve sentimento, entrega para com o outro acima de tudo, seria ótimo que mais pessoas participassem”, comenta.
Você lembra que a gente contou que a ideia do projeto é socializar os cães e treiná-los para ações do dia a dia? E se tem um lugar que muitos adultos ficam por um bom tempo é no trabalho. Então, a Elaine é vice-diretora e a escola para ela é o espaço onde ela passa muito tempo. E é exatamente lá, juntinho com ela, que o Benjamin fica alguns dias na semana, convivendo com os 430 alunos do ensino fundamental da escola municipal Profª. Julica Bierrenbach.
Mas é claro que ela conversou com os alunos antes, explicou as regras, afinal não é um cão ‘comum’, mas sim um ‘cão em treinamento’. As atitudes de agora definem como será o comportamento do animal no futuro. Brincadeira e afagos só quando Benjamim está sem colete. Aí é festa. Mas se ele estiver com o colete, todos já sabem, ele este à trabalho e não pode se distrair.
Beatriz Veloso, Jorge Mônaco e Lucas Rosa, alunos do 5° ano da escola, também contaram que essa experiência é muito legal e eles amam quando podem brincar com o Benjamim. Quando conheceram o projeto, contaram para os pais. Eles acham muito importante o papel do cachorro, porque ajuda uma outra pessoa. Para a vice-diretora, é na escola que as coisas acontecem. “Eles atuam como multiplicadores, vão cobrar atitudes dos adultos depois. Tive um bom retorno dos alunos quanto a isso”, comemora.
É possível ajudar na socialização
O Instituto Magnus fica em Salto de Pirapora, na nossa região. O objetivo é tornar uma sociedade um ambiente mais consciente e acolhedor para o próximo. O cão guia é mais uma ferramenta para a comunidade entender a importância desse tipo de inclusão, principalmente, as dificuldades que uma pessoa com deficiência visual pode encontrar no cotidiano. Por isso, a primeira etapa é a socialização.
Quer saber como funciona direitinho? Vamos te explicar: o filhote vive com a família voluntária durante 1 ano e o Instituto ajuda em tudo que precisar durante o período, como ração, veterinário, brinquedos, etc. Nesse ano a ideia é que o cão participe normalmente das atividades da família para que ele entenda o dia a dia, identifique alguns pontos nas ruas e saiba viver em sociedade, por exemplo.
Depois desse tempo, o cão volta e recebe um pouco mais de treinamento. Após um período de teste e adaptação, caso o cão e o cego tenham compatibilidade, o cachorro é doado a pessoa com deficiência visual. Caso contrário, é colocado para adoção e segue sendo cuidado até que tenha um tutor.
Se você quer ajudar alguém e tem disponibilidade de tempo para apresentar o mundo ao filhote e, principalmente, gosta de cães, você pode participar e ser uma família socializadora. É só entrar no site: institutomagnus.org/. (Thaís Marcolino)