‘Fanfarra Caipira’ ensina musicalização às crianças de Votorantim

Música "raiz" ajuda essa turminha a descobrir as próprias habilidades com sopro e percussão

Por Thaís Marcolino

Alícia Murat, de nove anos, toca caixa e já quer seguir carreira

A música é especial e faz parte da vida de muitas pessoas. Você já pensou em tocar um instrumento e aprender mais sobre o mundo musical praticando um gênero característico do interior do Brasil como a composição caipira raiz? Uma turminha de Votorantim está tendo essa oportunidade através da Fanfarra Caipira.

O projeto começou em setembro do ano passado e tem como objetivo levar o ensino gratuito da música à área periférica da cidade, como no Jardim Cristal, bairro onde fica o Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU), sede das aulas. Apesar do curso acontecer nessa região, qualquer criança e adolescente de Votorantim pode participar

A fanfarra hoje é composta por 14 integrantes, que tocam quatro tipos de instrumentos: bombardino, trompete, caixa e zabumba. Eles fazem parte do grupo de sopro e percussão. Tudo foi disponibilizado pela Secretaria de Cultura e Turismo (Secult).

Os alunos aprendem a tocar músicas caipiras. Entre elas, algumas que temos certeza que já ouviu por aí... talvez em casa ou junto do vovô e vovó. Alguns exemplos são Tristeza do Jeca, de Tonico & Tinoco; Menino da Porteira, de Sérgio Reis; Rancho Fundo, de Chitãozinho e Xororó; e Saudade da Minha Terra, de Tibagi e Niltinho.

O projeto conta com quatro professores que se revezam nas aulas. Um deles é o Renan Vinicius de Oliveira Lino, de 27 anos. Ele reforçou que essas músicas são muito características do interior e a oportunidade é boa para despertar, nas crianças, o interesse sobre o “nosso cantinho”. “Esse estilo não é muito comum para eles, porque hoje muitos preferem o pop e o eletrônico, por exemplo. Mas considero importante aprenderem a respeito. Por incrível que pareça, não teve resistência deles não, muitos adoram”, garantiu.

A Maria Clara Almeida é uma dessas alunas. Presente desde o início e tocando bombardino -- antes, desenvolveu um pouco das habilidades no trombone também --, a jovem de 12 anos descobriu o projeto na escola. O estilo caipira é algo comum para ela porque tem o hábito de ouvir esse tipo de músicas em casa. A ida para o CEU, toda semana, é um momento esperado. “Meus pais me dão um super apoio e adoro vir para cá, tanto para aprender a tocar quanto o contato que eu tenho com o pessoal. Penso até em continuar estudando a música e como eu levo o instrumento para casa, treino ainda mais”, contou.

O Yuri Rafael da Silva Prates, assim como Maria, pensa em continuar com os estudos da música porque se encantou com tudo que aprendeu. Ele se encantou pela zabumba -- instrumento que parece um tambor, mas não é -- desde o começo e não largou mais. “As músicas que aprendo são super legais e minha família também ama”, disse o estudante de 10 anos.

A paixão acaba incentivando até quem mora na mesma casa. A Alícia de Deus Murat leva jeito para a percussão desde pequeninha porque, como contou sua mãe a ela, adorava pegar vários objetos e sair batucando pela casa. O tempo passou. Seu irmão Gabriel, de 13 anos, começou nas aulas da fanfarra, contou o que e como aprendia e isso fez com a pequena de nove anos também procurasse o espaço para aperfeiçoar seus “dotes musicais”. Alícia, hoje, já toca caixa. “Vir para cá é muito legal, e adoro aprender mais sobre a música, como funciona, ainda mais com meu irmão. Gosto tanto que pretendo estudar depois, sim”, explicou.

“Para muitos, aqui a música é mais do que lazer, assim como aconteceu comigo. E de uma maneira até que simples, a sementinha plantada aqui tenho certeza que dará frutos. Tem alguns que já perguntam e pensam até no Conservatório de Tatuí, um dos mais renomados centros de estudo da música nacional”, finaliza o maestro Renan.

Entretanto, não são todos os alunos que pretendem seguir carreira. E está tudo bem. O Breno Pinheiro Marques, de 12 anos, aprendeu a tocar trompete e, mesmo o estilo caipira não sendo o seu preferido, aproveita os ensinamentos e a chance de levar o instrumento para casa para tocar outras músicas e estilos. “É um aprendizado geral, acho importante ter essa chance. De manhã vou para a escola e à tarde venho para cá. Também faço bastante amigos por aqui”, disse.

Mas não é só no auditório do CEU das Artes que as crianças podem colocar a musicalidade para fora. Eles já se apresentaram no Troféu Vanguardeiro, em 2022. O grupo também tem a chance de fazer apresentações em vários eventos, dentro e fora do município, proporcionando uma troca cultural pela região. Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas na Secretaria de Cultura e Turismo de Votorantim. O telefone de contato é o (15) 3243-5814.

Conhecendo os quatro instrumentos

A Fanfarra Caipira é composta por quatro instrumentos, como já te contamos. Mas você conhece todos eles? Se não, vai conhecê-los agora. Alguns carregam curiosidades bem interessantes.

Os de sopro são o bombardino e trompete. Eles entram nesse grupo porque emitem o som graças à vibração do ar, feita com o sopro pela boca. A caixa e zabumba são de percussão, que tem como característica a necessidade de serem batidos, agitados ou raspados para que produzam os sons.

O bombardino pode até parecer uma tuba no primeiro momento, mas não é, não. Ele também pode ser encontrado como aerofone e pertence a família dos metais. Uma característica é que tem o timbre escuro, suave e delicado.

Outro que também pertence à classe aerofônica é o trompete. Uma curiosidade é que os primeiros exemplares eram feitos de um tubo de cana, bambu, madeira ou osso e até conchas, e só mais tarde passaram a ser construídos de metal. Apesar de ser utilizado em diversos gêneros musicais, é mais comum vê-lo em ritmos mais acelerados, como o frevo; e latinos, como o mambo e a salsa.

Indo para a percussão, a caixa se destaca pela sua função, por ter uma sonoridade penetrante e bem audível. É associada às diversas chamadas da tropa através de ritmos durante combate ou em exercícios militares.

Já a zabumba, que poucas pessoas conhecem seu nome oficial, é como se fosse um tambor mais achatado e maior. É bastante característico em ritmos como forró, baião e xaxado. Quem a usou muito em suas apresentações foi Luiz Gonzaga, conhecido como o “Rei do Baião” e famoso pela música Asa Branca. O instrumento tem som grave e profundo. (Thaís Marcolino)