‘Mulinhas’ contam um pouco da história de Sorocaba às crianças

Mês de maio é dedicado ao tropeirismo, em uma alusão à Feira de Muares que ocorria na cidade

Por Thaís Marcolino

Biblioteca Infantil sediou oficina com materiais recicláveis no último dia 17

O mês de maio é muito especial para Sorocaba. Nele é comemorado o tropeirismo, uma atividade que, no século 18, teve influência direta para o desenvolvimento de nossa cidade. Os tropeiros vinham do Sul -- importante local de criação de mulas -- para vender os animais por aqui, criando assim, uma das principais rotas de transporte de tropas. As comitivas percorriam longos caminhos pela região.

Quase três séculos depois, algumas atividades foram preparadas para a criançada desbravar um pouco desse assunto. Mas, antes de mais nada, que tal entender um pouco mais do tropeirismo? Esse ciclo econômico começou por aqui aproximadamente em 1750, com a criação de um Registro de Animais, o que acabou facilitando a passagem das tropas -- por isso o nome “tropeirismo” -- e as feiras, famosas em todo País naquela época, que duravam de dois a três meses.

O tropeiro tornou-se também o responsável direto pela circulação de produtos destinados à exportação e pelo abastecimento das regiões interioranas. Ele era, ainda, um transmissor de notícias, uma pessoa que auxiliava nas vendas e o protetor dos viajantes, já que traziam do sul até Sorocaba as tropas, que eram domadas por famosos peões e vendidas nas feiras.

Elas, por sua vez, eram chamadas de feira de muares -- realizadas entre os meses de abril e junho, principal período em que as tropas saíam -- atraíam muitas famílias ricas da Capital. E era durante esses eventos que Sorocaba se tornava mais agitada. A cidade ficava cheia de artesãos e vendedores ambulantes. O clima era festivo, com companhias de teatro, circos, corridas de cavalo, jogos, música, negócios, entre outros.

A feira começava com a venda do primeiro lote de animais que, em geral, demorava alguns dias. Realizada a primeira venda, a notícia corria toda a região com o grito “Rebentou a Feira”, a partir de então o mercado se aquecia e muitos negócios eram fechados.

Com a chegada das ferrovias e dos trens, em 1875, o comércio de tropas começou a cair e cada vez menos tropeiros eram vistos. Se o negócio acabou, porque estamos falando disso ainda? Por que é história! E faz parte da história de Sorocaba, de um momento muito importante que ainda é relembrado anualmente. Nesse mês, inclusive, familiares de tropeiros percorrem o caminho das tropas por cidades da região para comemorar a importância que esse período teve no passado.

Agora que já te contamos um pouco do que foi o tropeirismo, voltamos para a atividade com as crianças. Há alguns anos, a Biblioteca Infantil de Sorocaba varia a forma de abordar o tema com os pequenos. Uma delas é a oficina de mulinhas com materiais recicláveis, realizada no último dia 17.

“Fazemos essas atividades no mês do tropeiro para que as crianças tenham acesso ao conhecimento dessa importante data na nossa cidade. Então, quando falamos de mulinhas também dá para puxar a questão da preservação dos animais, além de ensiná-los sobre o uso de materiais recicláveis na hora do brincar”, explicou a servidora pública e pedagoga de 42 anos, Paula Cristina Minatogawa.

Depois de ver algumas peças expostas e receber as devidas explicações, mão na massa (ou melhor, na garrafa)! Todos que estavam na Biblioteca, inclusive os adultos, começaram a “amassar” a garrafa pet, fizeram as amarrações, colaram os olhos e por último, prenderam em um cabo de vassoura, fazendo alusão ao corpo do animal. Os brinquedos ficaram prontos e não faltou diversão.

Os irmãos Joaquim e Sofia Corradini Proença da Palma, de 5 e 7 anos, respectivamente, que o digam! Eles entraram no clima, usaram chapéu e saíram “galopando” por aí. “Não sabia nada da mula, mas gostei bastante, até dei o nome da minha de Puminha porque achei muito fofinha”, contou o pequeno. Já sua irmã, achou curioso o fato de um animal levar tantas coisas sozinho. “É pesado, tem que ser forte, né? Adorei saber mais da mulinha, realmente não conhecia”, explicou a garota.

Os dois foram acompanhados da amiguinha Carolina Ruiz Sayão, de 7 anos. Ela nos contou que até aprendeu na escola um pouco sobre o tema, mas que fazer um animal de material reciclável foi outra experiência. “Adorei porque é feita com coisas que tenho em casa, posso fazer de novo”, disse.

Nós dissemos no começo que o tropeirismo é muito importante para Sorocaba e região. Mas tem gente que não nasceu aqui e mesmo assim adorou conhecer um pouco mais da história da cidade. “Eu nasci na Bahia, morei em outras cidades, mas agora estou aqui. Achei super legal a oficina e aprender sobre a mulinha”, contou a estudante Yana Emanuely de Souza Morais, de 5 anos.

Para finalizar: se você gostou do assunto e gostaria de ver uma decoração linda e cheia de mulinhas, a Biblioteca Infantil, localizada na rua da Penha, está toda temática e com várias indicações de livros sobre o tropeirismo. Não deixe de conferir!

Tropeiros também deixaram marcas na culinária

Além da oficina de mulinhas, as crianças também puderam colocar a mão na massa e de uma forma bem gostosa. Elas aprenderam o que os tropeiros comiam durante as viagens e no final ainda se deliciaram com o que fizeram, a broa de fubá. Que delícia!

O milho, que dá origem ao fubá, teve um papel importante na culinária tropeira e foi um dos itens mais consumidos na época. Enquanto preparavam a broinha, os pequenos foram aprendendo mais sobre o movimento. E não é que também fizeram as mulinhas? Vai ter mais gente por aí com esse personagem tão importante para nossa cidade.
Mas a broa não é a única comida da época. Os tropeiros degustavam ainda o tradicional feijão tropeiro, que é uma refeição e tanto por ter várias carnes misturadas. Era isso que os ajudava na sustância para aguentar as horas na estrada. E que tal ajudar quem cozinha na sua casa a fazer uma dessas receitas? Temos certeza que será uma experiência e tanto! (Thaís Marcolino, com Secom Sorocaba)