Para gostar de poesia

Artigo escrito por Vanessa Marconato Negrão

Por Cruzeiro do Sul

Comecei a gostar de poesia quando conheci os versos de Cláudio Thebas em “Amigos do Peito”. Um livro tão divertido, que vira e mexe meu cotidiano me traz a lembrança de uma rima contida ali. Logo pela manhã: “Uma coisa, no entanto, impede que eu me levante: sentado nas minhas costas, há um enorme elefante” para aqueles dias em que o sono pesa mais de tonelada. O dia começa na escola e mais um verso imita os diálogos da minha rotina com as crianças. “Me dá, não te emprestei, devolve já, se é meu é meu. Você não tem, azar o seu.”

Os versos da vez são os que chegam em seu novo livro, publicado pela Companhia das Letrinhas, “As aventuras de Dorinha”. Pela dedicatória do autor, consiste numa homenagem às mulheres. Em especial as mulheres que são trabalhadoras domésticas (e não remuneradas), já que geralmente a função de cuidar da casa e da família fica por conta de uma mulher que não é gratificada por isso.

Dorinha é uma dessas mulheres que “Todo dia, logo cedo, se arrumava para a faxina: com um balde, com um pano e o avental de heroína”. A labuta dura o dia inteiro para deixar tinindo cada cantinho, do sofá, ao armarinho. “Arruma quarto, passa roupa, passa o tempo, passam dias”.

Mas um dia, Dorinha se dá conta da sua solidão: “O carteiro não passava, o telefone não se ouvia.” Decidida a acabar com essa tristeza, ela faz as malas, então. “Não limpou o seu banheiro, nem olhou para sua sala. Pegou todo seu dinheiro, toda sua economia, pegou um avião, a solidão por companhia”.

E a moça outrora assoberbada com as tarefas da casa, vai desfrutar outros horizontes, desbravar novos lugares, conhecer novas gentes, se alegrar e dar risada.

“E vieram tantas praças, tantas ruas, tanta gente. Cada um numa cidade, cada qual mais diferente.” E Dorinha, que era tão sozinha, se encheu de histórias para contar, uma mais legal que a outra, vindas de todo lugar.

Se você pretende uma leitura contagiante, dessas de fazer sorrir, recomendo Cláudio Thebas, esse poeta importante. Que me fez pensar rimando desde o início até esse instante.

Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada pela literatura infantil