A voz do milênio
Artigo escrito por Vanessa Marconato Negrão
Elza Gomes da Conceição nasceu no Rio de Janeiro em 23 de junho de 1930. Começou a compor e cantar com 21 anos e por mais de seis décadas foi uma das vozes mais extraordinárias da música brasileira.
Nasceu na favela de Vila Bonita, numa família muito humilde, composta por dez irmãos. Casou-se ainda muito jovem e logo ficou viúva. Tiinha que trabalhar muito para sustentar a família e, apesar de seu esforço, vivia uma vida de privações. Muitas vezes o que tinha para comer era o que encontrava no lixo.
Em meio a tantas dificuldades, seu sonho de ser uma grande cantora persistia, o que a levou ao Show de Calouros do apresentador e compositor Ary Barroso. Sem recursos para comprar uma roupa para a ocasião, Elza improvisou, pegou um vestido largo que pertencia à sua mãe, o ajustou com alfinetes e foi, destemida, tentar a sorte. Mas sua aparência não agradou a plateia, que debochou dela.
O apresentador, com desdém, perguntou: “De que planeta você veio?” Elza não se intimidou e respondeu prontamente: “Do planeta fome!”
O que se viu a seguir foi o que o próprio Ary sentenciou como “o nascimento de uma estrela”. Com sua voz única e inesquecível, Elza cantou “Lama”, ganhou a nota máxima do programa e conquistou o público que a assistia.
Pouco depois, ela foi contratada para o seu primeiro registro em uma grande gravadora. Tornou-se mundialmente conhecida por seu tom de voz grave e rouco, cantando ao lado de grandes nomes do jazz norte americano.
Em virtude de sua cor e sua origem, sofreu racismo por diversas vezes, mas superou todo e qualquer julgamento, construindo uma carreira brilhante e sendo consagrada ao fim de sua vida como tema do enredo da escola de samba carioca Mocidade Independente de Padre Miguel: “Elza Deusa Soares”.
Escrito por Nina Rizzi e ilustrado por Edson Ikê, “Elza, a voz do milênio” era a biografia que faltava nas prateleiras da literatura para a infância. Uma publicação da VR Editora.
Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada pela literatura infantil