Nunca falha

Artigo escrito por Vanessa Marconato Negrão

Por Cruzeiro do Sul

Foi aos três anos de idade que o menino Gilberto Passos Gil Moreira começou a manifestar seu desejo de ser músico. Fascinado com os sons da banda do sanfoneiro Cinézio em Ituaçu, no interior da Bahia, ele se inspirava na prosódia improvisada dos repentistas, nas músicas tocadas nas rádios cariocas e nos versos do cordel.

No final dos anos 1950, quando tinha dezessete anos, ouviu a bossa nova de João Gilberto pela primeira vez (uma mistura de samba e jazz), o que marcou sua trajetória musical para sempre. Começou a escrever poemas, versejados de forma impecável, que resultaram em músicas lindíssimas. Uma delas é “Andar com fé”, lançada em 1982.

Confesso a vocês, apesar de ter na memória e cantarolar fácil essa música, eu nunca tinha prestado muita atenção na letra. Me dei conta da força do seu significado quando busquei contextualizá-la no meu planejamento com as crianças. “O que é fé?” foi minha primeira pergunta. “Fé é acreditar muito numa coisa”. “Fé é não ficar cansado” e, é claro, outras referências às crenças particulares que cada um carrega. A fé da letra de Gil é ecumênica, de todos nós; a fé cujo significado é: confiança absoluta.

O posfácio do poeta Guilherme Gontijo desfia cada verso e explica: “aqui a fé não é mais apenas religiosa, porque mais correto é compreender que não existe o mundo humano desprovido de fé. (...) Seria de se pensar que a fé até supera o crente ou o descrente. E o jeito misterioso com que ela nos move também está no jogo sonoro com que Gil canta “a fé tá” que nos faz escutar “afeta” porque a fé, mais do que qualquer outra coisa, nos afeta e nos dá sentido”.

As ilustrações de Daniel Kondo são certeiras: poucas linhas em sua máxima expressão, no mesmo tom da emoção que há na letra da música.

Um livro impressionante da Editora WMF Martins Fontes.

Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada pela literatura infantil