Um olhar sobre consciência e representatividade
Atividades em família na CEI 110, de Sorocaba, celebraram a Consciência Negra
Entre tantas datas celebradas em novembro, uma delas foi a Consciência Negra, no dia 20. O dia, que homenageia Zumbi dos Palmares -- herói nacional e símbolo de resistência -- é de extrema importância para a igualdade racial. Por isso, muitas atividades nas escolas são feitas com o objetivo de relembrar e propor discussões acerca do tema com os estudantes de várias idades. Mas engana-se quem acha que esse papo é só para os “maiorzinhos”. Uma turma dos centros de educação infantil já entende -- à sua maneira -- os conceitos de igualdade, representatividade, diversidade e respeito.
“Gostei muito da boneca chocolate, ela é da mesma cor que a minha. Fiz várias coisas aqui na escola que se parecem comigo”, comentou a estudante Helena dos Santos Ferreira, de quatro anos. Ela deu exemplo da representatividade. Sua mãe, Isabel Cristina dos Santos, também aproveitou para contar que a filha já tem um olhar voltado ao outro. “Me contou que queria aprender Libras (Língua Brasileira de Sinais) para falar com uma coleguinha. Eu acho superimportante essa iniciativa, porque é desde pequena que se aprende”, disse a dona de casa de 42 anos.
A Helena estuda no CEI 110 Maria Leopoldina Campolim Godoy Del Ben, localizada na Vila Barão, em Sorocaba. E, junto de outros 60 colegas e familiares, pela segunda vez expôs as diversas atividades. O tema do evento foi “Um olhar para a consciência” e na programação: piquenique, contação de história, apresentação musical, terapias integrativas e oficinas.
“As crianças aprendem a gostar e a não gostar das coisas, então desde o começo do ano a gente incluiu nas brincadeiras as brincadeiras africanas, compramos bonecas e bonecos negros para que a criança se visse representada nas brincadeiras, porque a gente está imerso no mundo branco. Essa ideia de se veem representados, a gente mostrou para eles também que existem artistas, pessoas importantes que são negras, para poder empoderá-los e perceberem que eles também têm um lugar na sociedade que a gente vive. E para os outros, os brancos, reduzir a violência, melhorar a empatia, perceber que todos nós somos iguais, que todos nós temos capacidade sim de alcançar”, contou o diretor da CEI, Antônio Rogério Bernardo, de 35 anos.
Com quase dois anos de vida, o Azael Lucas Pierre foi à escola com o papai Clauder Pierre, de 36 anos, e não deixou de mexer nos artigos produzidos por ele e os colegas -- como um colar feito com macarrão seco pintado. Por ser bem pequenino, conversamos seu pai, que aprovou a iniciativa. “É importante por que faz parte do desenvolvimento não só dele, mas de todos. Mesmo sendo pequenino, adorou a parte musical, pulou bastante”, disse o ajudante de motorista.
Era dificil não olhar para um canto da escola e não ver os trabalhos dos alunos. Entre eles, máscaras e pinturas africanas, brinquedos típicos do continente em que a maioria da população é negra, entre outros. Foram justamente as máscaras que encantaram o Arthur Lucio de Oliveira. “Adorei, achei bem bonita, ajudei a fazer algumas coisas também”, contou o estudante de quatro aninhos. Ele foi acompanhado de sua mamãe, Tayná Lúcio de Oliveira Macedo.
Uma mesa foi montada com itens da comunidade e cultura negra, como livros, bonecas e instrumentos musicais como o cabuletê, de origem africana e de formato circular com duas bolas em sua lateral que, ao balançar, servia para espantar os animais selvagens.
Durante a vivência os alunos e familiares puderam acompanhar muita música lúdica e a apresentação dos trabalhos. O Marcos Aurélio dos Santos saiu de lá orgulhoso da filha Clarice Marcelino dos Santos, de apenas quatro aninhos. “Sou professor e ver que a sementinha está sendo plantada desde já fico muito feliz. Ela me contou aos poucos o que fazia, a foto com o cabelo afro montado com papel, foi bem interessante acompanhar o processo ‘de longe’”, comentou Marcos. “Nós somos negros, então pra mim é de suma importância o debate para além dos muros da escola”, complementou o professor.
“Chegar no final do ano com esse resultado significa é incrível. O que a gente realmente vê é que eles estão se sentindo pertencentes a esse espaço, que não é só um espaço branco, é um espaço para todo mundo. Por isso acho que o processo final é isso, para que todos eles se sintam pertencidos a esse espaço. É uma grande gratificação que a gente tem”, finalizou o diretor.
Para aprender mais sobre o assunto
A escola é realmente um elo muito importante para o aprendizado, mas ele também pode ocorrer em casa e nas pequenas atitudes. Que tal incluir na leitura semanal algum livro de temática negra? Ou então assistir um filminho sobre o mesmo assunto?
Aqui vão algumas dicas, primeiro na literatura: “Bola vermelha”, de Vanina Starkoff; “Amora” de Sonia Junqueira e Flávio Fargás e “Tudo bem ser diferente” de Todd Parr. A “Menina Bonita do Laço de Fita”, de Ana Maria Machado; “Omo-Oba: Histórias de Princesas”, de Kiusam de Oliveira; “A Cor de Coralina”, de Georgina Martins, e “O cabelo de Lelê”, de Valéria Belém, também podem entrar na listinha.
Partindo para as telinhas e telonas, “Kiriku e a Feiticeira” ou a série “Irmão do Jorel” são opções. (Thaís Marcolino)