Férias de verão
Artigo escrito por Vanessa Marconato Negrão
Eu nasci em 1983. Durante a minha infância não havia telefone celular, internet, nem GPS (sistema de localização global). Os telefones ainda eram presos por fios, as notícias demoravam algumas horas para circular (talvez dias ou semanas se não fosse a televisão) E para perguntas mais complexas, muito tempo era dispensado na consulta de livros e enciclopédias.
Viajar de carro ou encontrar um endereço, só se alguém conhecesse o caminho, ou fosse um exímio leitor de mapas. Essas lembranças me provocam uma sensação de incerteza: tédio e paciência serão sentimentos esquecidos? O imediatismo das coisas é irreversível? Há outro tempo possível senão esse tão breve?
Ao abrir “Castelos de Areia”, de Márcia Leite e Odilon Moraes, entendi que sim, há outro tempo possível: o tempo dos afetos. Entendo que embora o mundo tenha mudado profundamente nas últimas décadas, as pessoas continuam as mesmas. Digo isso com a convicção de quem compara as memórias descritas neste livro à observação atenta das crianças brincando na areia.
“Os bolos, em formato de baldinho, eram decorados com conchas, mariscos e outras surpresas que o mar trazia. A caverna, ou túnel, como eu preferia chamar, só tinha entrada. Pedíamos um pé emprestado e o soterrávamos num morrinho firme. Um espirro, uma coceira no dedão e a caverna despencava antes da hora. Exigia técnica e paciência ser arquiteto de praia.”
Márcia Leite e Odilon Moraes, grandes autores do nosso tempo, nos emprestam suas memórias para que possamos resgatar as nossas. Uma linda publicação da Editora OZé.
Vanessa Marconato Negrão é professora e apaixonada pela literatura infantil